Colunas>Montserrat Martins
|
25 de fevereiro de 2017
|
09:30

Foi ela

Por
Sul 21
[email protected]

Por Montserrat Martins

Vejo coisas absurdas no meu trabalho em Psiquiatria, por exemplo, já ouvi mais de um homem que esfaqueou a mulher alegar que “foi ela quem se agarrou na faca”. O “non sense” faz parte da profissão mas agora, cada vez mais, tem feito parte da política brasileira também, temos ouvido cada coisa “de louco” no país.

As práticas usadas como justificativas morais para a queda do governo anterior tem sido repetidos pelo governo atual, sem a menor cerimônia. Moreira Franco ganhou um Ministério do Temer para ter foro privilegiado, tal como Dilma fizera com Lula. Alexandre de Morais, filiado ao PSDB, escreveu tese dizendo que integrantes de partidos do governo não devem ser indicados para o STF e é indicado, tal como fora Dias Toffoli, advogado do PT, no governo passado.

Dizer que os governantes atuais tem “dois pesos e duas medidas” é pouco para descrever a repetição de erros, já criticados por todo o país, a sensação é mesmo de uma “cara de pau” imensa, um descaso total com a opinião pública – ficando evidentes que os interesses próprios, mais uma vez, estão sendo colocados acima dos interesses do país.

Ao contrário do Trump, que é acintoso, agressivo, no discurso, os políticos no poder no Brasil preferem o estilo de “dizer uma coisa e fazer outra”, como se ninguém fosse perceber. Ou pior, parecem estar “se lixando” para o fato de que as pessoas vêem e reprovam, afinal o Temer está com os mesmos 10% de popularidade que a Dilma tinha nos últimos meses de seu governo.

Sendo que o futuro da política depende da opinião pública, o motivo mais óbvio é o medo de serem presos, mesmo. Não é que queiram afrontar a nossa inteligência, não é que queiram ser tão descarados, estão sendo assim porque é o único modo boicotar a Lava Jato, mesmo.

Grande parte dos políticos envolvidos na sabatina (seguida da votação) para o Alexandre de Morais ir para o STF, estão profundamente “enrolados”, indiciados na Lava Jato – e ninguém foi impedido de participar da escolha, por esse fato. Assim como ministros visivelmente parciais, no STF, também não se tem se declarado impedidos nas votações deles.

A democracia brasileira está sendo ferida gravemente, mas os políticos e os governos que se sucedem costumam falar em nome dela, da democracia, para justificar seus atos. Então “foi ela”, foi a democracia que se agarrou na faca desses políticos, desses governos, que a estão esfaqueando à luz do dia. Não são eles que estão atentando contra a sociedade e a democracia, foi ela quem se agarrou na faca.

.oOo.

Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora