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16 de dezembro de 2015
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09:01

É a política, e não a economia, que move o mundo!

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Sul 21
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É a política, e não a economia, que move o mundo!
É a política, e não a economia, que move o mundo!

Por Mauri Cruz

A cada vez que assisto algum telejornal da mídia corporativa verifico, de pronto, seu esforço cotidiano de fazer as pessoas desacreditarem na política. Para quem assiste ou lê um jornal, a conclusão imediata é que política é lugar de gente ruim, que só pensa em si mesma. De pessoas que estão lá para seu bel prazer. A síntese que se deduz das entrelinhas é de que o mundo seria melhor sem a política e os políticos.

Por outro lado, o mercado é apresentado como um sujeito sempre voltado a fazer o bem à sociedade. O humor do mercado é acompanhado com atenção e cuidado. Se ele, o mercado, está brabo ou irritado com alguma medida, deve-se, rapidamente buscar corrigir o erro, caso contrário, as consequências poderão ser catastróficas. O mercado é apresentado como um salvador, um bem em si.

E nesta ladainha, passam-se os dias, meses e anos. De tanto serem repetidas, as mensagens subliminares vão se tornando explícitas e ninguém mais estranha. Não dói aos ouvidos um repórter dizer que o mercado reagiu mal a determinada fala do Ministro da Fazenda. Ou, ainda, que a política é um antro de corruptos. Ninguém se pergunta, quem seria este “Senhor Mercado” que se irrita. Que mal teria feito, afinal, esta “Senhora Política” para ser tão mal amada?

Acompanhando a repercussão da tentativa de mobilização contra o Governo Dilma no dia de ontem, verifico que o objetivo de idiotização de uma parte da sociedade brasileira foi realizado com sucesso. Não pelo fato de cidadãos e cidadãs irem às ruas expressarem sua legítima posição contra o Governo. Isto é salutar, talvez até desejável. O que me impressiona são as formas e os conteúdos como as pessoas expressam suas opiniões e posições. Fazendo política, as pessoas falam mal da política. Sendo exploradas pelo mercado, as pessoas repetem o mantra de que só o mercado poderá lhes salvar.

Os erros da Presidenta Dilma são justamente estar dando espaço para as políticas que fortalecem a estratégia do mercado capitalista que é, e sempre foi, a concentração de renda e a exclusão social.

A contradição é que, eles querem derrubar a Presidenta que, para nossa tristeza, está aplicando as políticas que eles defenderam nas eleições do ano passado e que foram derrotadas pela maioria do povo brasileiro. E, nós, por nossa vez, estamos defendendo, não as políticas do Governo Dilma, mas a democracia que ele, o Governo, representa.

Deste ponto de vista, a atitude de desespero de Eduardo Cunha talvez tenha salvo nosso projeto político. Ao deflagrar a tentativa desesperada de impedimento da Presidenta para salvar a sua pele, ele arregimentou, de um lado, todas aquelas pessoas que, apesar das críticas e das divergências, sabem que o Governo Dilma tem lado. E, jogou uma isca, para os oportunistas que estavam ao lado do Governo apenas por conveniência e interesse, porque nunca comungaram com o projeto que está em curso no Brasil, na América Latina e em parte do Mundo.

Eu, como muitos de nós que lemos o Sul21, convivi com a militante e gestora Dilma e sei de suas qualidade e limitações. Por outro lado, aprendi que os projetos só se consolidam quando são projetos coletivos. Isto porque, no grupo, as qualidades de uns vão suprindo as limitações de outros. Neste momento, o centro da disputa é política, é ideológica. Está em jogo, qual concepção de sociedade queremos construir. Não somos reféns do mercado. Somos sujeitas e sujeitos de nosso tempo. O povo brasileiro já demonstrou, nos últimos meses, por várias vezes, que deseja seguir a liderança que está simbolizada pela Presidenta Dilma, mas que representa muito mais do que ela.

A janela de oportunidade está, novamente aberta e, quem sabe, o Fórum Social de Porto Alegre possa ser o momento onde iremos fortalecer a ofensiva contra qualquer hipótese do retrocesso. Mas para que isso ocorra, é preciso que o Governo se dê conta de que, o que move o mundo, é a política, e não a economia. Algo que o Presidente Lula sempre soube, mesmo que intuitivamente. E que o próprio PT desaprendeu. Oxalá, tenhamos tempo para este despertar do Governo. Senão, mais cedo ou mais tarde, o “Senhor Mercado”, que não faz nada mais além de política, vai acabar virando o jogo.

.oOo.

Mauri Cruz é advogado socioambiental com especialização em direitos humanos, professor de pós graduação em direito à cidade Mobilidade urbana, diretor regional da AbongRS.


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