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13 de dezembro de 2012
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07:42

O desafio da mobilidade – Parte II: Planejando o Uso e Ocupação dos Territórios

Por
Sul 21
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A mobilidade das pessoas é induzida e induz a ocupação dos territórios urbanos. É induzida porque primeiro surge um empreendimento ou iniciativa, tipo um residencial, uma indústria, um empreendimento turístico que gera a necessidade de viagens. Um espaço vazio distante do centro urbano acaba se tornando um lugar de desejo para um determinado grupo de pessoas e, com isso, gera a necessidade de uma estrutura de mobilidade. Por outro lado, ao ser criada esta condição de mobilidade, espaços próximos que antes eram inacessíveis tornam-se espaços com disponibilidade de acesso. Aumento o valor da terra, surgem novas possibilidades de uso e, com isso, uma demanda inicial de viagens acaba por ser potencializada e a chamada expansão urbana se realiza.

Vemos isso atualmente com os projetos do Programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal. Tal qual os “pombais” da extinga COHAB, este programa está levando para áreas anteriormente abandonadas um contingente enorme de pessoas gerando necessidade de novas viagens. Com isso, se ainda não estão sendo feitas vias pavimentadas, escolas, creches, estabelecimentos comerciais, postos de saúde, eles logo surgirão e com eles mais necessidades de viagens. Cria-se um polo de atração de viagens e este mesmo polo amplia a ocupação vertiginosamente.

O este breve relato já esclarece tudo para qualquer inexperiente leitor. Se não há planejamento urbano sobre o uso e ocupação do território das cidades esta ocupação desordenada gera o caos e, por consequência, amplia e perpetua as desigualdades sociais tão visível em nossas cidades. Nossos gestores públicos, principalmente os prefeitos responsáveis pela maioria das políticas públicas são impelidos a fazer coisas, cada vez maiores e em maior número. Agem como se houvesse um concurso de obras. Bom político é aquele que faz mais obras em menor tempo. No entanto, na gestão das cidades, muitas vezes, bom administrador é aquele que otimiza e potencializa aquilo que já existe dando sentido e utilidade prática a obras já construídas e consolidadas pela história. Vemos, por exemplo, que em muitas cidades europeias há pessoas morando em casas de 400 anos que foram de seus ancestrais. Com conforto e qualidade. O mito da pretensa qualidade do novo é mais uma peça que a ideologia capitalista incutiu na cabeça de muitos gestores públicos. Para fazer o novo tem que ter novas obras, novos contratos, novos investimentos.

Bem, mas o que nos interessa aqui é firmar o conceito de que não haverá uma solução para os problemas da mobilidade em nossas cidades se não houver planejamento sobre o uso e ocupação dos espaços. E é preciso que se diga que não é qualquer planejamento, mas um planejamento centrado em medidas que distribuam de forma racional e em todo território os polos de interesse das pessoas, tais como, escolas, empresas, bancos, serviços, espaços de lazer, bibliotecas, cinemas, comércio, dentre outros, reduzindo assim as necessidades de deslocamentos e aproveitando de forma mais harmônica o território urbano.


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