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7 de dezembro de 2012
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17:40

O desafio da mobilidade – Parte I: Função e Papel das Cidades no atual modelo econômico

Por
Sul 21
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É consenso entre os urbanistas de que as cidades foram moldadas como parte do negócio capitalista. Primeiro, para viabilizar a produção em massa através das fábricas. Hordas de pessoas foram praticamente arrancadas das áreas rurais para se empilharem em cidades não planejadas e desordenadas com o único objetivo de serem insumo da produção e, porque não dizer, da acumulação capitalista.

Mas as cidades cumpririam outra função. A de reunir grandes contingentes de consumidores em um mesmo espaço facilitando e reduzindo os custos da logística de distribuição dos produtos destas industrias. Assim fez-se as cidades. Como produtora e consumidora de seus próprios produtos numa reprodução cíclica de produção e consumo. Neste modelo de cidade à serviço do mercado a mobilidade era uma dimensão da logística da produção e do consumo. Não estava relacionada com direitos das pessoas que passaram a viver nestes novos espaços urbanos.

Acontece que, por reunir num mesmo espaço tantos trabalhadores e trabalhadoras as cidades também se tornaram espaços de organização social e construção coletiva de propostas desta nova classe social. Estas propostas exigiam moradia, estruturas decentes de lazer, espaços para tratar da saúde, da educação e demais necessidades humanas. A luta social começou a redesenhar as cidades no sentido de torná-las mais agradáveis para a vida dos seres humanos.

Neste processo de redesenho desde o início estabeleceu-se um conflito entre os interesses coletivos das pessoas e os interesses privados do mercado. Para se atender as necessidades das pessoas de forma universal, otimizando os recursos naturais existentes e promovendo equidade no acesso à cidade é preciso serviços públicos organizados em rede, de forma racional e distribuídos de forma uniforme por todo o território. Já o mercado quer liberdade para se expandir para onde haja poder aquisitivo capaz de adquirir seus produtos e não se dispõe a investir onde não haja uma boa taxa de retorno financeiro.

Assim, um primeiro debate que se impõe é sobre o caráter e papel das cidades. Se elas devem ser o logus da exploração e acumulação capitalista ou o lugar onde as pessoas tem direitos de viver com dignidade. A resposta para esta pergunta cada pessoa pode ter a sua. No entanto, sendo o estado o representante de toda a sociedade e de seus interesses mais profundos a resposta só pode ser uma. De que a cidade não pode ter como função a reprodução dos interesses econômicos de parte da sociedade. Ela até pode ser um lugar onde as atividades econômicas aconteçam, mas estas atividades devem estar subordinadas ao interesse coletivo do bem viver. É com esta concepção que devemos pensar o modelo de mobilidade.


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