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4 de novembro de 2015
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09:50

O PT e um Brasil que funcione

Por
Sul 21
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O PT e um Brasil que funcione
O PT e um Brasil que funcione

Por Marcelo Carneiro da Cunha

Estimados sulvinteumenses, não sei como anda a coisa aí no distante RS, mas em São Paulo, onde moro, não anda fácil a vida desse petista, ou ao menos eleitor do partido que vos atormenta.

Aí eu penso: mas o que foi que eu fiz de tão certo? Porque o PSDB, que só apronta aqui, segue sendo amado e adorado, por mais atrocidades que cometa. Os demais partidos são inodoros, insípidos e invisíveis, e ninguém os odeia por isso. Ou são evangélicos e equivocados até os ossos, e ninguém parece se incomodar em especial com todas as maldades que espalham em leis inúteis, estúpidas, ou ambas.

Nessa semana que passou Fernando Haddad, o Grande, foi até a imprensa e disse em alto e bom tom que sente orgulho do PT, por tudo que ele fez. Isso porque a mídia, como sempre, já estava plantando a noticia de que ele estaria indo para a Rede! Justo aquele souflê de palavras em excesso e ideias em recesso! Justo aquele conjunto vazio também conhecido como Rede! Nunca, jamais, e foi o que Haddad, o Iluminado, disse a todo mundo em um tuite. Um tuite acabou com a pauta, e isso mostra que Haddad virou uma personalidade com gravitas, como diriam os americanos. Sorte a nossa. Reservem esse ponto aqui para uso mais adiante.

O PT pode precisar de muitas coisas, Limpol inclusive, mas o país precisa dele. A pior coisa que pode nos acontecer é voltarmos ao sertão, ao mundo onde os mesmos faziam o que bem entendiam desde 1500. O PT é essencial ao Brasil moderno, e insuportável para o Brasil arcaico.

E a alternativa está aí, já olharam? Em Porto Alegre vocês vivem a celebração do muito pouco que é essa prefeitura Fogaça-Fortunati, e no governo do estado essa celebração do não se sabe bem o quê, aka governo Sartori. Aqui a gente tem um governo estadual que promete e não entrega, seja metrô ou limpeza dos rios, ou mesmo água na torneira. E mais: não entrega a um custo astronômico. E ainda por cima tem como Weltanschauung uma visão bandeirante das coisas e dos indígenas – nós, os demais brasileiros, no caso.

Eu estaria menos preocupado com a crise do país e do PT se não fosse a falta esquisita de alternativas. A tal alternância é, hoje, entre a dor e o coma, e isso, caros sulvinteumenses, não serve.

Por sorte surgiu um sujeito que demonstra ser o melhor governante em ação no Brasil de hoje, o único que demonstra um bom entendimento do que seja o século 21, e, ainda por cima, prova isso em uma administração incomum e inovadora, com resultados que todo mundo percebe, e muita gente passa a gostar.

Haddad é a contraprova de tudo que as oligarquias e sua mídia dizem do PT. Ele está aí, vivíssimo da Silva, e, se permanecer nesse caminho, o PT pode simplesmente ter nele e ao seu entorno a saída para sua crise de identidade. Assumir uma nova identidade, ou, entre as suas identidades possíveis o partido pode escolher aquela que tem mesmo a chance de levar partido e país para fora do desânimo em que se encontra. Isso, caros leitores, é muito, em especial porque ninguém mais tem qualquer coisa parecida. Ou vocês acham que o PSDB investe no Aécio porque gosta?

O PT cometeu erros e sérios. Entre eles o de não ter tido sucesso na criação de ferramentas que permitissem disputar a hegemonia da narrativa nacional. Entre eles, aparentemente, partir para o jogo praticado desde sempre pelas oligarquias, onde elas nadam de braçada e a gente afunda. Entre eles, talvez, o de cometer pedaladas fiscais, em vez de praticar boa e sólida governança.

Eu ainda tenho esperanças várias para o Brasil, até mesmo porque não me sinto bem no estrangeiro, ao menos de forma definitiva, e tenho um filho pequeno e brasileiríssimo. Precisamos retomar a nossa caminhada, companheiros, por total falta de escolha. É isso, ou passarmos a ser conduzidos por manadas de zumbis, como no The Walking Dead. Precisamos produzir uma visão de viabilidade para o século 21, e reformar o Estado para que ele possa realizar as suas missões, e não apenas realizar os seus compromissos com ele mesmo, no que, diga-se, ele é ótimo. Precisamos de muitas coisas, e, diferentemente dos outros partidos, a gente sempre tem um material humano melhor, até mesmo por ser mais humano.

Eu acho que os próximos tempos vão continuar sendo difíceis, sacudidos, e perigosos. Mas, e agora me ajudem aí os dotados de memória: quando não foi assim, na nossa longa e dura história?

Por hora, sigo achando que, pelo menos, vivo na cidade que tem algo a mostrar sobre como podemos fazer coisas de um jeito diferente e, sim, melhor. Se der certo aqui, pode dar certo no Brasil. E se tem uma coisa que a gente precisa, pra valer, é de coisas que deem certo. No mínimo pra quebrar esse ranço todo que está aí, e, no máximo para se acreditar em algo parecido com um futuro.

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Marcelo Carneiro da Cunha é escritor.


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