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22 de junho de 2015
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11:21

A troglodice chavista e o pato que a gente paga

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A troglodice chavista e o pato que a gente paga
A troglodice chavista e o pato que a gente paga

Por Marcelo Carneiro da Cunha

Saudosos, estimados sulvinteumenses? Perceberam que esse que vos atormenta andava distante, tênue, ausente, qual futebol para os lados da gloriosa Arena Tricolor? Mas, e é só questão de folga e assunto, eu volto. E os nossos estimados chavistas venezuelanos acabam de nos dar assunto, e, pior, dar assunto e agenda para a nossa esquálida oposição. Valeu, chavistas.

Acontece que a oposição brasileira sofre de situacionismo crônico e sabe tudo na vida, desde isso não inclua se comportar como oposição que se preze, indo mostrar na prática como seria diferente do governo, e, claro, pra melhor. Na falta de agenda, criaram uma perfeita: lá fora, onde não precisam justificar suas próprias maluquices, e aqui ao lado, onde o que é feito é, supostamente, assunto nosso. Foram até a Venezuela visitar um preso político, e dizem que foram impedidos pelos esbirros do Maduro, o que pode ter acontecido mesmo. E agora, caros leitores, a bomba é nossa.

Acontece que eles são congressistas. Eles têm o direito político de ir ali ver se os nossos vizinhos se comportam de acordo com o que está previsto nas regras do Mercosul, que eles assinaram. O fato é que existem presos políticos na Venezuela, e que o governo chavista é tão democrático quando a minha avó Jovita, a Terrível. E, o fato é que o nosso governo defende o governo chavista por motivos tão geopolíticos quanto os que nos fazem apoiar outros governos igualmente desagradáveis e violentos por aí. Não somos os guardiões da ordem universal e convivemos com os que se comportam bastante mal, porque essa é a tradição brasileira desde sempre. Gostem, ou não, essa é e sempre foi a nossa política de Estado, e não de governo. O Brasil, pasmem, inventou de ser um Estado, e isso desde o Império. E os nossos governos seguem invariavelmente essas políticas.

Mas, e a oposição sabe, dá pra grudar na gente a pecha de chavistas, ou simpatizantes. Eu duvideodó que a Dilma simpatize com o Maduro mais do que simpatiza com o Eduardo Cunha, mas ela tem que conviver com Cunha porque somos uma república e com Maduro apesar de a Venezuela não estar sendo. O Brasil, caros leitores, historicamente se relaciona com Estados, e não com governos, e o governo chavista vai passar, e o Estado venezuelano vai continuar lá, se espera.

A oposição conseguiu mais do que sonhava porque o governo nada democrático da Venezuela a impediu de se encontrar com Leopoldo López, um preso político. O governo chavista podia ter feito tudo, menos o que fez. Agora, a Venezuela não muda um ovo, porque aquilo lá já está um caos, e a gente é que vai pagar o pato, porque a oposição ganhou um presentão para se esbaldar nos próximos tempos, associando o PT ao autoritarismo chavista. Justamente o PT, o partido mais republicano que temos por aqui. Eles ganham mais uma pauta pra encher ciclos de noticias e capas na Veja, e quem acha que isso não importa não entende de política. A direita brasileira, nesse momento, e em várias frentes, conquistou a narrativa, e esse evento venezuelano fortalece a campanha de pressão, o projeto de manter o governo da Dilma nas cordas e apanhando, o quanto der, não importando o assunto.

E isso, caros leitores, é também o que faz uma oposição consciente do seu papel e de suas possibilidades.

O fato é que não ganhamos nada apoiando os chavistas, e nem ao menos fazemos isso. O governo brasileiro sempre atuou, Lula à frente, pra colocar limites no então enfant terrible Chávez. Dilma certamente não dá um ovo para o que Maduro e companhia desejam de nós. Apenas apoiamos o governo eleito da Venezuela porque é isso que faz um governo brasileiro, e se fosse o FHC não seria diferente. A oposição conseguiu grudar o rabo no governo do PT, que agora precisa se virar. E precisa sim exigir dos chavistas explicações sobre o que aconteceu, e como um grupo de congressistas brasileiros pode ter sido impedido no seu direito de ir ver o que acontece com o tal Leopoldo López, preso malucamente pelo maluco governo chavista da pobre Venezuela.

O Brasil poderia também cobrar da Venezuela melhor comportamento, mas não vai fazer isso, não publicamente ao menos, porque ele jamais faz isso. O que o governo brasileiro precisa fazer é ser duro na defesa dos congressistas brasileiros, mesmo que vários deles envergonhem a instituição, porque lá fora vale o que eles representam, e não o que são. O fato é que perdemos mais esse ciclo político e midiático, e a culpa é dos chavistas. Alguém tem que ir lá e cobrar a conta, e já que eles não tem como pagar o que seja, esperar que saiam, sumam, desapareçam, porque é isso, e somente isso, que vai, finalmente ajudar as coisas a irem para o seu lugar.

Fica a dica.

Marcelo Carneiro da Cunha é escritor.


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