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29 de novembro de 2012
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12:47

Centro-esquerda mobiliza italianos

Por
Sul 21
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No último domingo, mais de três milhões de italianos foram às urnas para participar do primeiro turno das prévias da coligação de centro-esquerda do país, denominada “Itália Bem Comum” e encabeçada pelo Partido Democrático (PD). A ampla participação dos eleitores chamou a atenção pelo fato de a Itália viver um momento de tensão econômica, provocada pelo agravamento da crise financeira, o que produz forte rejeição da população à classe política e, consequentemente, baixo engajamento no processo eleitoral. Apesar disso, partidários e não partidários do PD, uma vez que as primárias são abertas a todos os eleitores, compareceram e indicaram sua preferência por Pier Luigi Bersani, ex-membro do Partido Comunista, que obteve 44,9% dos votos.

Na disputa pela indicação da coligação, surpreendeu ainda o bom desempenho do jovem prefeito de Florença, Matteo Renzi, que obteve 35,5% dos votos. Renzi, que apresenta um discurso calcado na renovação e na ruptura em relação à velha política, desponta como nova liderança, especialmente entre os eleitores mais jovens. O terceiro mais votado, com 15%, foi Nichi Vendola, da SEL (Esquerda Ecologia e Liberdade), a voz mais à esquerda desta disputa e o único que questiona o receituário da austeridade, seguido pelo primeiro-ministro Mario Monti.

Bersani e Renzi agora disputarão a indicação da coligação em segundo turno. As duas lideranças, apesar de serem do mesmo partido, possuem perfis bem distintos. Bersani, que atualmente é secretário-geral do PD e já foi ministro duas vezes, representa certo equilíbrio entre as várias vertentes que compõem a centro-esquerda no país. Mas sofre resistência entre o eleitorado da esquerda por seu tom demasiadamente conciliador e de conduta ambivalente – ao mesmo tempo em que é o líder da oposição no Parlamento italiano, apoia a política de austeridade de Monti.

Já Renzi é considerado por analistas políticos italianos como a grande novidade na política do país nesses últimos tempos. Com um discurso mais agressivo que o de Bersani e crítico às gerações que dominam a política italiana e o partido onde agora milita, Renzi vem crescendo entre o eleitorado. Acredita-se, inclusive, que a vitalidade que ele traz à cena política tenha sido responsável por despertar o interesse dos eleitores italianos neste momento.

Enquanto a centro-esquerda italiana escolhe o nome do seu novo líder, os partidos de direita ainda não se decidiram se realizarão eleições primárias. Perante o iminente colapso do Partido do Povo (PDL) de Berlusconi e num cenário de fragmentação da federação dos partidos que o apoiaram, o segundo turno das prévias da centro-esquerda deverá apontar o próximo primeiro-ministro italiano.

Contudo, por mais que seja positiva a provável derrota da direita nas urnas em abril do próximo ano, a coligação que engloba o PD, seja com qualquer um dos dois candidatos que pleiteiam a indicação, não necessariamente se mostra uma alternativa ao conservadorismo que domina hoje a Itália, até porque é apoiadora, com poucas ressalvas, do status quo.

As eleições municipais italianas, realizadas em maio deste ano, sinalizaram o profundo descontentamento da população com a política. Houve grande abstinência e apenas pouco mais da metade dos eleitores (51,5%) compareceu às urnas.

Assim, a mobilização despertada pelas prévias da centro-esquerda, que se pode interpretar como sinal de que as pessoas estão mais sensíveis ao processo eleitoral, também deve ser entendida como um clamor pela mudança.

Portanto, seja qual for o resultado final das prévias que continuam no próximo final de semana, é preciso que o candidato da coligação faça jus à esperança da população e se apresente também como alternativa às políticas recessivas e de distanciamento do bem-estar social que castigam os italianos. Vamos acompanhar.

José Dirceu, 66, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT


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