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15 de julho de 2016
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10:03

A lógica financista não tirará o país da crise

Por
Sul 21
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financasPor Germano Rigotto

Há sinais positivos, ainda que tímidos, em relação aos movimentos do governo interino na área econômica. De fato, o presidente Michel Temer blindou a equipe de pressões políticas e escolheu nomes técnicos, de reconhecida competência. Todavia, algumas visões parecem persistir. Não se pode imaginar que o Brasil voltará aos trilhos sem enfrentar a alta taxa de juros e o câmbio excessivamente valorizado. E, pelo que se viu até aqui, tais preocupações não estão entre as principais do Ministério da Fazenda e do Banco Central.

Esses dois fatos afetam diretamente a produção. E, quando um país não coloca em curso toda a sua capacidade produtiva, quaisquer medidas de estabilização ou crescimento tendem a ser insuficientes ou meramente temporárias. O reequilíbrio só se dará com o retorno da confiança e da força das empresas nacionais. Sem isso, não haverá retomada do crescimento, geração de emprego e aumento de arrecadação. Não se pode vislumbrar o mercado apenas por um prisma rentista, pois tal raciocínio beneficia apenas os setores financeiros, já bem fortalecidos nos últimos anos.

A nova onda de valorização do real frente ao dólar pode colocar em risco, ainda mais, a recuperação das exportações e, especialmente, da indústria. Desde o ano passado, o saldo da balança comercial estava positivo. Mas, com a valorização recente, a indústria já teme perder essa vantagem competitiva. Se o Banco Central continuar utilizando a taxa de câmbio para conter o avanço da inflação – que já está contida pela recessão – essa dimensão da crise se agravará. Isso porque se trata de um artifício que destrói a competitividade do país, o que se alia a outros fatores como a alta carga tributária, o custo do capital, a logística deficiente e aos entraves burocráticos – o chamado Custo Brasil. Tal contexto praticamente exclui os produtos brasileiros do mercado internacional.

A situação da economia e do consumo também não justifica os juros estratosféricos que seguem em curso, sem previsão de baixa. No cheque especial e no cartão de crédito, por exemplo, chegaram a recordes mundiais, próximos de 500% ao ano no primeiro caso e de 311% no segundo. O juro elevado está na raiz da atual recessão pela qual passa o país. Certamente não é o único motivo, vide o descontrole fiscal, mas sem dúvida um dos mais relevantes, pois afeta fortemente o setor produtivo. Isso sem falar no prejuízo que causa ao próprio governo, que também tem corrigida sua dívida junto aos bancos.

Portanto, forçar a valorização do real e manter o juro elevado é um grande erro. Tudo isso, repito, agrava a recessão. O governo deve seguir fazendo o ajuste fiscal, equilibrando o orçamento, cortando despesas supérfluas e controlando gastos. Mas não pode voltar suas atenções apenas à lógica financista, tão bem cuidada pelos setores que historicamente lucram com ela. A maior arma do país, em termos de desenvolvimento, é a nossa vocação produtiva. Enquanto quem trabalha e produz não estiver num ambiente apto para aumentar os resultados, menores serão as chances de superação desta ou de qualquer outra crise. Uma ação não inviabiliza a outra. E tudo começa por acertar nas políticas monetária e cambial.

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Germano Rigotto é ex-governador do Rio Grande do Sul e presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários (www.germanorigotto.com.br


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