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15 de março de 2016
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09:59

Sem conformismo na construção de um novo futuro

Por
Sul 21
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Sem conformismo na construção de um novo futuro
Sem conformismo na construção de um novo futuro

Por Germano Rigotto

Milhões de brasileiros foram às ruas no último domingo. Carregavam, acima de tudo, uma pauta de negação – o que não deixa de ser um gesto eloquente. Diziam não à corrupção e ao atual governo. Diziam não ao aparelhamento partidário do estado. Diziam não à demagogia e à mentira. Diziam não a qualquer espécie de oportunismo.

Saíram sem líderes ou organizações convencionais. Cada pessoa portava suas próprias ideias e anseios. As convicções eram partilhadas entre familiares e amigos. Um protesto pacífico, numeroso e presente em todo o país. Uma resposta à altura da crise pela qual passa o Brasil. Um gesto cívico e de engajamento, a demonstrar que o povo quer mudanças urgentes.

Há quem pretenda minimizar o acontecimento. Ouvi críticas pela falta de uma pauta de futuro entre os participantes dos protestos. Também apareceu quem quisesse carimbar o movimento de golpista. Mas qualquer análise que centrar-se apenas nessas lateralidades estará incorrendo num grande erro. Um erro eivado de arrogância.

Estivemos diante de uma das maiores mobilizações da história do Brasil. Já não seria pouco pela quantidade de pessoas envolvidas. O fato é ainda mais contundente pelo tom crítico, ordeiro e voluntário com que as pessoas foram às ruas. Os excessos podem ter havido, aqui e acolá, mas não representaram o sentimento geral de quem saiu para protestar.

Ninguém sabe os resultados dessa grande manifestação. É difícil prever o que vai acontecer nos próximos dias. Mas um parâmetro não se pode afastar. Governo e oposição não podem optar pelo radicalismo, sob pena de criarem um isolamento em seus próprios redutos partidários. E não foi isso que a população pediu. O saldo deve ser usado proativamente.

É hora de humildade e serenidade. Primeiro, sem dúvida, para o governo – que terá ainda mais dificuldades de sobreviver ao atual momento político. A Presidente Dilma terá que analisar com aqueles que lhe são mais próximos quais são as alternativas para evitar que o governo e o país “sangrem” ainda mais. A possibilidade de seu afastamento é cada vez mais concreta.

Os mesmos predicados também são aconselháveis a quem faz o combate de oposição. Claro que não devem abandonar seus papéis, mas os líderes desse campo serão cobrados por mais do que o mero enfrentamento. O aviso foi dado nas manifestações quando alguns deles foram hostilizados pelos manifestantes que com isto procuraram dizer mais do que um não ao oportunismo, mas também um não as lideranças que põe seus interesses partidários antes dos interesses da sociedade, um não a falta de projetos da oposição e um descontentamento com um sistema partidário que corroí e desgasta não apenas quem está no governo, mas também quem se opõe a ele.

Ainda está por surgir alguém – ou algum grupo – que se apresente como a ponte para uma nova fase. E o mais triste e a constatação da falta de uma liderança nacional que assuma este papel para dar um novo rumo ao país.

Dentro do que prevê a Constituição Federal, precisamos encontrar caminhos para sair desta grande crise política, econômica, social e moral em que o país se encontra. O protesto histórico de domingo, dia 13 de março de 2016, ajudou a mostrar que os brasileiros não estão conformados. E essa reação é, no mínimo, um ponto de partida importante para construir um novo futuro.

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Germano Rigotto é ex-governador do Rio Grande do Sul e presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários.


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