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25 de março de 2016
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10:05

O impeachment precisa andar. E Cunha precisa sair

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O impeachment precisa andar. E Cunha precisa sair
O impeachment precisa andar. E Cunha precisa sair

Por Germano Rigotto

cunha

O processo de impeachment está posto. Depois de seguir as tramitações legislativas preliminares, agora precisa seguir seu curso. Do ponto de vista formal, é um caminho sem volta. Política e socialmente, possui legitimação. Não há como ignorar esse ambiente, sem deixar de respeitar todas as normas constitucionais e regimentais em vigor.

O governo, até aqui, demonstrou inabilidade nas mais diversas frentes. Administrativamente, teve resultados pífios. O Brasil é um retrato de obras inacabadas e de projetos que ficaram só no papel. Politicamente, a presidente Dilma tem dificuldade de dialogar com a sociedade, inclusive com os grupos ideologicamente mais próximos a ela. Economicamente, a irresponsabilidade nos conduziu à recessão. Perdemos credibilidade interna e externa.

Eticamente, também é uma vergonha. É verdade que a corrupção não começou agora e nem é monopólio de quem está no poder. Além disso, não há nada que implique Dilma do ponto de vista pecuniário pessoal. Mas não se pode ignorar a tomada do aparelho estatal como um viés de permanência no poder. E isso, de fato, não tem precedente na história do país.

Mas, mesmo com todas essas circunstâncias, o processo de impeachment nasce constrangido, sob certo aspecto, em virtude de quem o instituiu. Não é plausível, razoável e correto que a Câmara dos Deputados continue sendo presidida por Eduardo Cunha. Não seria em uma situação normal, muito menos nesta cruzada histórica. A presença dele joga contra a credibilidade das instituições e de toda e qualquer decisão que vier do parlamento.

Se são fartas as provas da operação Lava-Jato, não são em menor quantidade aquelas levantas contra ele. É um presidente sob suspeição, hoje sem apoio político dentro no Congresso e, especialmente, na opinião pública. Seja por corporativismo ou por medo, muitos deputados insistem em não afastá-lo. Esse vício de origem acaba prejudicando todo o processo.

Basta ver que, dos membros indicados para a comissão de impeachment, mais de 30 têm problemas a resolver com a Justiça.  Não é uma questão apenas de Cunha, portanto. Parece que os partidos também não entenderam o clamor da população por mais moralidade e ética na política. Incrivelmente, alguns ainda fazem pouco caso destas que foram as maiores manifestações populares das últimas décadas no Brasil. A Câmara dos Deputados, que poderia ter um papel altivo na condução de todo esse processo, fica exposta a um desgaste tão grande quanto o governo.

Entendo que o rito do impeachment precisa desenrolar-se o quanto antes. O resultado da investigação e a deliberação do Congresso será melhor do que o que estamos vivendo hoje, onde não temos perspectivas com relação ao futuro. Mas a saída de Cunha é um obstáculo constrangedor, que precisa ser superado. Pelo bem do Brasil. Para colocar nosso país minimamente nos trilhos.

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Germano Rigotto é ex-governador do Rio Grande do Sul e presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários (www.germanorigotto.com.br).


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