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12 de janeiro de 2017
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09:00

Robinson Crusoe, a fantástica aventura de um empreendedor capitalista

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Sul 21
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Por Franklin Cunha

“Robinson Crusoe é o romance fundamental do capitalismo”.
O.M.Carpeaux

Quando nos filmes batíamos palmas para Gunga Din aguateiro indiano que dando o alarme salvou os soldados ingleses de um ataque de “terroristas” nacionalistas indianos (filme americano de 1939 baseado num livro de Rudyard Kipling e com roteiro – quem diria – de Willian Faulkner). Quando delirávamos ao ver nos “ farvestões “ o mocinho abater um índio com um tiro derrubando-o de seu cavalo. Quando nos filmes românticos de Hollywood achávamos natural que os papéis de serviçais algo retardados, fossem sempre representados por negros e, por fim, quando líamos as aventuras de Robinson Crusoe, estávamos sendo psiquicamente trabalhados para aceitar todos os produtos materiais e mentais que a pujança do capitalismo necessitava para se expandir e para obter lucros cada vez maiores. A história de Daniel Defoe mostra como um homem comum, ao se ver completamente só em uma ilha, revela-se capaz de submeter a natureza aos seus objetivos materiais, triunfando sobre o meio físico, empregando a racionalidade ecológica, a iniciativa no trabalho econômico e o ascetismo, Crusoe estabeleceu as bases morais do capitalismo nascente. H.Taine, citado por J.M. Coetzee disse que “a imaginação de Crusoe foi a de um homem de negócios, não a de um artista. Homem de negócios que trafica com palavras e ideias com um claro objetivo comercial do que significa e do que vale cada palavra”.Daí seu enorme êxito na época. Nas casas dos primeiros colonos ingleses da América, o livro de Defoe era colocado ao lado da Bíblia.

Foi talvez o primeiro romancista do individualismo empreendedor e possessivo. A economia capitalista dita liberal, se justifica pela necessidade de defender o individualismo contra ideias coletivistas ditas socialistas, com o emprego da violência dita justificada por ações do Estado dito democrático. Em outras palavras: o uso da violência é justificado porque o Estado fundado no contrato social precisa manter o consenso por meio da força.

Quando o capitalismo se desenvolveu, tornou-se adulto e próspero, Robinson Crusoe transformou-se num livro para crianças. Passada a infância, o capitalismo tornou-se adulto, o romance de Defoe perdeu o significado econômico e os homens do século XX foram obrigados a procurar aventuras interiores, no interior de suas almas. Enfim, o sucessor do romance de aventuras é o romance psicológico, das teses psiquiátricas , da psicanálise que J.L. Borges define como mais um ramo da literatura fantástica.

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Franklin Cunha é médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


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