Poucos livros exerceram influência tão notável em nosso pensamento político como A Democracia na América, de Aléxis de Tocqueville, editado 1835. Esse nobre francês objetivou estudar as instituições norte-americanas como expressão do estilo de vida daquele país. Entre outras, chegou a conclusões paradoxais que nem ele esperava. Uma foi de ordem demográfica.
Tocqueville previu que os Estados Unidos, a Rússia e a China dominariam o mundo nos próximos séculos. As pressões populacionais obrigariam os dirigentes desses países a adotar políticas econômicas que livrassem a sociedade de estruturas obsoletas em favor de melhores e mais justas oportunidades de trabalho, de educação, de obtenção e repartição da riqueza. Conhecidos acidentes de percurso histórico não confirmaram plenamente as profecias de Tocqueville, mas algumas previsões sobre quem dominará o mundo nos próximos séculos podem ser feitas baseadas nos fatos e dados da atualidade, os quais confirmariam as previsões de Tocqueville.
Um outro francês,Jean-François Susbielle, geopolítico e consultor de grandes grupos empresariais em Les Royaumes Combattants, livro de 2002, nos informa que, atualmente, sete “reinos” repartem o mundo. Para quatro deles, a mundialização capitalista somente apresenta vantagens, pois dentro de 10 a 15 anos, a China, a Índia, a Rússia e o Brasil dominarão o mundo graças aos seus recursos financeiros, industriais, tecnológicos e demográficos.
O tempo flui irresistivelmente em favor desses “reinos emergentes”. A China e a Índia não precisarão mais do que um decênio de paz e estabilidade para cumprir o seu destino, enquanto o Brasil e a Rússia emergirão em seguida, ao passo que, para os Estados Unidos e seus aliados europeus e japoneses, o tempo se tornou um inimigo mortal, significando enfraquecimento e declínio.
Para sobreviver num mundo de transformações aceleradas, os EEUU deverão romper com o status quo que lhe impuseram seus rivais. Fortalecidos e seguros de sua superioridade militar, empenham-se em fabricar conflitos: Iraque, Irã, Kosovo, Afeganistão,Venezuela, Líbia, Palestina, ( e no Brasil?) distúrbios que lhe permitem manter o seu domínio graças às 800 bases militares e 6 mil artefatos atômicos. Em 2001, o mundo entrou na era dos “ reinos combatentes”. A crise financeira que se espraia no capitalismo será a mais grave desde 1929 a qual desencadeou a II Guerra Mundial. O mecanismo da depressão econômica conduz ao protecionismo econômico-financeiro e, novamente, à guerra.
Afinal de que se sustentará a economia americana?
Concluindo , em 2002 Susbielle , em seu livro perguntou se “2008 seria o ano em que se desataria o nó górdio do frágil equilíbrio da mundialização”?
(Texto escrito em julho de 2008)
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Franklin Cunha é médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.