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13 de janeiro de 2014
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10:22

2014: ano morno para a política econômica

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Sul 21
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2014: ano morno para a política econômica
2014: ano morno para a política econômica

Em abril do ano passado escrevi sobre a pequena margem de manobra que havia para a política econômica em 2013. A ideia geral era de que, com o debate eleitoral lançado precocemente no país, a tentativa de preservação de alguns símbolos da política econômica daquele momento estreitavam as opções do Governo, principalmente no que se referia à taxa de juros e à taxa de câmbio. A taxa de juros básica (SELIC) estava excepcionalmente baixa para o padrão brasileiro – 7,25% ao ano – e a taxa de câmbio girava em torno de R$ 2 por dólar, ajudando muito ao controle da inflação, dado que balizava os preços dos produtos importados imprescindíveis ao funcionamento da economia. Tendo em conta que a inflação é uma variável decisiva para o sucesso eleitoral, qualquer elevação do dólar passaria a constituir uma questão delicada.

Isto projetava um cenário de uma política econômica “amarrada”, o que não se confirmou, em função da elevação da taxa de inflação ao longo do primeiro semestre do ano, em parte por pressões de demanda e em parte por aspectos do lado da oferta, principalmente de produtos primários, decorrentes de problemas com entressafra de hortifruti no país e da alta dos preços dos grãos no mercado internacional. Era sabido que na segunda metade do ano a inflação cairia e nenhum analista responsável chegou a projetar um IPCA maior que o teto da meta para 2013 (6,5%), mas a grande imprensa difundiu irresponsavelmente o receio de que isto pudesse acontecer, insistindo com a expressão “descontrole da inflação”. Preocupado com o índice elevado e tendo que responder à pressão, o Governo começou um ciclo de alta dos juros. Este ciclo também encontrou justificativa na declaração dos EUA em maio, de que eles estavam começando a pensar em reverter sua política de irrigar o mercado com dólares. Bastou este anúncio para causar uma movimentação de saída de dólares dos emergentes em geral, o que elevou a taxa de câmbio no Brasil e assustou o Governo. Os juros mais altos no Brasil ajudariam a conter a inflação e, a segurar o capital estrangeiro, jogando contra a disparada do dólar.

Assim, caíram os dois símbolos da política econômica brasileira. A taxa de câmbio mudou de patamar, chegando no final de 2013 a R$ 2,35 por dólar, e os juros escalaram até 10% em sucessivas reuniões do COPOM. Houve neste ajuste uma clara opção política; se havia pressão sobre estas duas variáveis e se esta pressão iria continuar, o melhor a fazer era mexer logo, ainda em 2013, e não no ano eleitoral de 2014. No caso do câmbio, o Governo administrou a mudança através de uma política generosa e programada de oferta de dólares ao mercado; aceitou o novo patamar, que até devolveu um pouco de competitividade à produção da indústria nacional, mas não abriu mão de intervir. É o que se chama de “flutuação suja”. No caso dos juros, a mexida a partir do meio de 2013 trouxe a vantagem de diminuir a pressão sobre o câmbio e os preços e ganhar tempo para obter os efeitos em 2014.

Estas medidas parecem ter transferido para 2014 a calmaria que se projetava para o ano passado. Será? Tudo depende de algumas variáveis sobre as quais não temos controle, como a evolução da economia mundial e em especial a dos EUA. Mas se o cenário mais provável se confirmar, de distensão gradual da economia americana e lenta recuperação do resto do mundo, o ano da política econômica no Brasil deve ser morno, até porque o Governo fará muita força para que nada estranho aconteça. Câmbio e juros devem se alterar pouco, a inflação permanecerá alta, ainda perto de 6%, mas sem passar do teto da meta, e o PIB vai crescer próximo a 2%, ajudando a fazer um resultado um pouco melhor das contas externas, pois quanto menos cresce o PIB, menor a necessidade de importações. Do lado fiscal, também não há porque esperar mudanças, nem na ponta das receitas, nem na das despesas.

As emoções ficam guardadas para 2015. Com Dilma reeleita – cenário político mais provável neste momento –, é razoável apostar em mudanças, não radicais, que não envolvam o abandono do sistema de metas de inflação nem as metas de superávit primário. O que se pode esperar, pelo menos num primeiro instante, é o aprofundamento de alterações das variáveis mais importantes: metas mais duras para inflação e resultado fiscal e variações maiores nas taxa de juros e câmbio. O Governo vai finalmente ter que dar respostas para o dilema câmbio-juros: é necessário corrigir o valor do dólar, para dar mais competitividade ao produto nacional, mas uma taxa mais alta não pode impactar a inflação. Segurar este efeito com alta de juros é simples, mas contraproducente; trava o crescimento, ou seja, o que se dá com uma mão tira-se com a outra. Nestes casos, em que as mudanças das variáveis apontam para efeitos contraditórios, só há uma forma de resolver, é entrar com forças exógenas ao dilema, como os investimentos em infraestrutura, alterações tributárias e avanços na política industrial.


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