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15 de dezembro de 2016
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09:30

Ser xavante não é o mesmo que ser simpatizante

Por
Sul 21
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foto-torcida-051Por Eduardo Silveira de Menezes1

A conhecida Princesa do Sul – para não dar crédito ao coirmão – é muito famosa pela centenária rivalidade envolvendo rubro-negros e aureocerúleos. São histórias de resistência a um processo de “colonização futebolística” que, embora não tenha começado hoje, cresceu – e muito –, nos últimos anos, devido ao apelo publicitário da dupla grenal. Nada contra gremistas e colorados. Cada um torce para quem bem entender. Nós, xavantes – não simpatizantes –, torcemos para o Grêmio Esportivo Brasil! Não tem essa de “primeiro” e “segundo” time. O xavante é o nosso primeiro, segundo, terceiro…, milésimo time. É o nosso time. Nosso único time. Não há espaço para outro clube em nossos corações.

Quando as principais avenidas da Princesa do Sul enchem-se de torcedores comemorando as conquistas de um dos times da capital – mesmo considerando que, aqui, residem muitos porto-alegrenses –, ficamos incomodados. Foguetes corneteando o rebaixamento de um adversário que não é daqui também nos provocam desconforto. Custamos a aceitar. Mas a verdade é que a colonização da dupla grenal já é um fenômeno que afeta não só Caxias, Rio Grande e Santa Maria. Nossa querida Princesa do Sul, infelizmente, também sofre com o complexo de vira-lata. Parafraseando Nelson Rodrigues, triste daquele que precisa buscar autoestima nos feitos dos que, na maior parte das vezes, são os seus próprios algozes.

Caso você torça para algum clube da capital, lamento desapontá-lo, mas sua condição não é de torcedor xavante. Você é, no máximo, um simpatizante do Brasil. Não há nada de mal nisso. Mas não tente igualar seu sentimento ao nosso. Não temos outra alegria que não venha da camisa rubro-negra. Não “relativizamos partidas” para definir, caso a caso, para qual time “podemos”, ou não, “torcer”. Torcemos para o xavante em qualquer circunstância ou ocasião. Qualquer time que não seja o Brasil é nosso rival. Respeitamos a dupla grenal. Mas Grêmio e Inter são – e sempre serão – apenas nossos rivais.

Não entre em crise de identidade, caro amigo simpatizante do Brasil. Torcedor é aquele que sabe as cores que mexem em definitivo com o seu coração. Canta o hino do seu clube com a emoção de um patriota. Chora de emoção nas derrotas e nas vitórias. Não se rende aos times com mais estrutura, mais torcida, mais apelo de mercado, mais publicidade. Gasta o dinheiro que não tem pelo seu time do coração. Associa-se a ele. Não dá dinheiro para os clubes adversários. Faz o possível e o impossível para acompanhar aos jogos dentro ou fora de casa. Com ou sem chuva. Com ou sem mídia. Com ou sem título. Com ou sem holofotes. Com ou sem divisão em competições nacionais.

Torcedor do Brasil não fica pensando em qual jogador do “seu time” serviria para jogar no que chama de seu “outro time”. Não fica batendo palma e enaltecendo aquele drible do jogador adversário, em cima do nosso zagueiro, porque pertenceria ao seu “segundo time”. Quem faz isso é simpatizante. Torcedor não engole a arrogância de jogadores adversários a menosprezarem nossos guerreiros, em campo, com bravatas sobre “times grandes” e “times pequenos”. Isso mexe com os nossos brios. Se não vestir o manto rubro-negro é jogador do time adversário. Respeitamos os nossos adversários, mas não nos curvamos a eles. Não são melhores do que nós. Não somos melhores do que eles. Os torcedores dos outros clubes podem, no máximo, simpatizar com o Brasil. Não são xavantes.

Torcedor não é o mesmo que simpatizante. Vamos assumir isso de uma vez. Você não é torcedor do Brasil só porque gosta da nossa torcida. Você não é torcedor do Brasil se, no fundo, deseja que o nosso clube seja sempre uma “segunda força” dentro do estado. Você não é torcedor do Brasil se precisa analisar a tabela ou as circunstâncias de um campeonato para decidir se vai torcer, ou não, pelo Brasil. Grêmio e Internacional são nossos adversários. Da mesma forma que Caxias, Juventude, São Paulo de Rio Grande, Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama, Corinthians, Palmeiras e todos os outros mais.

Torça para quem você quiser. Fortaleça o clube que bem entender. Caso queira fazer como muitos torcedores de outros clubes que são sócios xavantes, faça isso. Estufe o peito para dizer que apoia o Brasil, que torce para ele “em primeiro lugar”, que “sempre teve duas paixões”. Explique essa “capacidade enorme de amar” à sua companheira ou ao seu companheiro de relacionamento. Viva um amor livre. Mas não se diga torcedor xavante. Não ofenda a paixão de quem ama de forma incondicional e sob qualquer circunstância um único clube. Enquanto você comemora um título com a camisa de um time adversário ou sofre pelo rebaixamento de outro, nós estamos preocupados, unicamente, com o Grêmio Esportivo Brasil. Nossas alegrias e tristezas somente ao xavante pertencem. Esse é o nosso maior patrimônio. Não tente mudar isso. É maior do que você e do que qualquer um de nós, xavantes. É um amor único e incondicional. Queremos ser a primeira força do estado. Lutaremos, com dignidade, por isso até o fim! Somos e seremos SEMPRE Brasil e SOMENTE Brasil!

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1 Eduardo Silveira de Menezes é jornalista, mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos, doutorando em Letras pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e, acima de tudo, torcedor xavante. E-mail: [email protected].


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