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18 de dezembro de 2016
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09:30

Eles são os filhos da classe trabalhadora

Por
Sul 21
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Estudantes secundaristas ocupam a 5º CRE e mantêm a luta em defesa dos serviços públicos e dos direitos sociais

Por Eduardo Silveira de Menezes*

Não faltariam motivos para que nós – trabalhadores brasileiros – lembrássemos com tristeza do dia 13 de dezembro de 2016. Um governo ilegítimo, movido por interesses contrários aos de quem depositou sua confiança nas urnas, em conluio com parlamentares investigados em escândalos de corrupção, conseguiu, enfim, aprovar uma proposta de emenda constitucional (PEC 55/2016) que tem como principal objetivo assegurar os privilégios de financistas, rentistas e banqueiros. Foi para isso que Temer (PMDB) deixou o governo Dilma (PT), arquitetou o golpe institucional, e se aliou ao PSDB. Para esse grupo político, não importa que se coloque em risco os investimentos em áreas como saúde e educação. Não há compromisso ideológico com a parcela da população que não desfruta das vantagens da classe média. Só interessa a manutenção de uma estrutura jurídico-política que os mantenha impunes.

Acontece que essa ilegítima coalizão de forças que, hoje, governa o país subestima os movimentos sociais. Esquece que, mesmo com a histórica falta de unidade da esquerda brasileira, ainda é possível encontrar os “imprescindíveis de Brecht”. Quando olhamos para os estudantes secundaristas que ocupam escolas em todo o país, temos a certeza de que a luta por uma sociedade mais justa e mais fraterna não está perdida. Foi assim no dia 13 de dezembro de 2016, quando dezenas de secundaristas ocuparam a 5º Coordenadoria Regional de Educação (CRE), em Pelotas. Ao final do ato público contra a imposição da agenda neoliberal, que toma conta do estado e do país, eles deixaram um recado: “ainda existem os que tremem de indignação sempre que se comete uma injustiça”. Não estamos sozinhos!

E não é só isso. O Movimento Estudantil Secundarista Unificado de Pelotas (Mesup) tem demonstrado, na prática, que é possível unificar a luta em defesa do serviço público, sem colocar os interesses particulares acima dos interesses coletivos. Em meio ao avanço do conservadorismo, à ascensão de grupos de extrema-direita e à proliferação de analfabetos políticos identificados com movimentos financiados por partidos golpistas, é um alento perceber que existe um grupo de estudantes dispostos a deixar o conforto de suas casas para ocupar escolas e defender os interesses da maioria. Eles fazem isso mesmo sem a compreensão de boa parte da sociedade e, muitas vezes, sendo estereotipados de forma covarde por grupos de comunicação que recebem verbas publicitárias dos mesmos governos e empresários que estão tomando de assalto o estado e o país. Sempre que um estudante secundarista é agredido ou tratado como criminoso cada um de nós é atingido da forma mais violenta possível em nossas dignidades. Não basta “ter a decência de respeitar os que lutam”. É preciso juntar-se a eles para fazer diferente. E “fazer diferente”, como diria Paulo Freire, não implica “ser melhor ou pior do que os outros”, mas sim – e unicamente -, sentir e pensar diferente dos que perderam a capacidade de ousar se revoltar.

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Eduardo Silveira de Menezes é jornalista, mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos, doutorando em Letras pela UCPel e colunista do Jornal Sul21.


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