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31 de julho de 2016
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10:30

Tem que respeitar

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| Foto: Blog Xavante

Por Eduardo Silveira de Menezes

Esqueceram de avisar o “CRBayern” que, do outro lado, estava o Grêmio Esportivo Brasil. Time centenário, de uma torcida apaixonada, que não mede esforços para estar junto ao clube do coração e que, portanto, exige respeito. “Jogo para encostar no líder”, diziam eles. Mais uma partida difícil, prevíamos nós. Ao final, os repórteres das rádios de Pelotas descreveram o clima que pairava pelo estádio Rei Pelé: “eles pensavam que seria de goleada”. Não foi. Longe disso. Na verdade, quem escapou de levar “uma sacola” foi, justamente, o CRB. Um bom time, sem dúvidas, mas que precisa ter um pouco mais de respeito pelos adversários. É como diz aquele velho ditado: “o jogo é jogado e o lambari é pescado”.

Com o Fortaleza, nas quartas de final da Série C, em 2015, vivemos uma situação semelhante. Os torcedores do tricolor cearense já davam como garantido o acesso. Hoje, amargam mais um ano na terceira divisão. Estamos acostumados a fazer história. O “castelanaço” nos alçou à condição atual. O Grêmio Esportivo Brasil está entre os 40 maiores do país. E não é só isso. Com todas as dificuldades, estamos fazendo uma bela campanha. Bem diferente das “previsões” de alguns torcedores adversários, os quais podiam jurar que “o time só iria a passeio” na Série B de 2016.

Erraram feio. A primeira vitória fora veio em grande estilo. De virada. Depois de sair perdendo, com um gol de falta, aos cinco minutos da primeira etapa, Ramon empatou para o xavante, no final primeiro tempo. É o segundo gol dele em dois jogos consecutivos. Um atacante que vinha sendo contestado, mas que tem qualidade e, aos poucos, mostra seu potencial. O rubro-negro foi melhor durante todo o jogo. Praticamente não deixou o CRB jogar. A equipe alagoana é um dos destaques do campeonato. Não perdia há cinco rodadas e chegou a acumular quatro vitórias na sequência.
Somos grandes

O Brasil mostrou sua grandeza. Ser grande não significa ter a “maior folha salarial”, o “melhor estádio”, a “melhor estrutura”. Ser grande é saber respeitar os adversários. É acolher entre os nossos, inclusive, torcedores do coirmão. Mesmo depois das bobagens ditas por dirigentes despreparados – orgulhos de negar o aluguel de seu estádio ao Brasil – não guardamos mágoas. Afinal, o mundo dá voltas. Talvez, agora, eles tenham aprendido uma lição. Ir para as rádios locais enaltecer uma suposta “estrutura invejável” e não aceitar o aluguel sob a justificativa de que seu estádio deveria “abrigar apenas as conquistas do Esporte Clube Pelotas (ECP)” é de uma mesquinhez tão grande, que só pode mesmo ser condizente com a atual situação do clube.

Uma atitude típica dos representantes da elite falida da cidade. Agora, são obrigados a aplaudir o nosso sucesso. Como fez a torcedora áureo-cerúlea que esteve presente no estádio Rei Pelé, ao vibrar com a vitória do xavante. O “time do pepino”, que “não tem nem estádio”, mostrou que tem brio e é motivo de orgulho para os pelotenses. Tem a maior torcida da cidade e, em breve, terá o mais moderno estádio da zona sul. E não é só isso. Tem um calendário cheio.

Verdade seja dita. Já passou da hora da dupla Bra-Pel deixar de lado o antigo “pacto pela mediocridade”. O Brasil poderia ter ajudado o Pelotas com o valor que seria pago pelo aluguel; da mesma forma que o Pelotas poderia ter ajudado o Brasil, que não precisaria viajar até Caxias para mandar seus jogos. Aliás, o Caxias – que alugou o seu estádio ao Brasil – retornará à elite gaúcha em 2017. Rivalidade não pode ser sinônimo de inimizade, tampouco de burrice. A dificuldade do nosso adversário não pode ser comemorada como se fosse a nossa vitória. Parece que a direção xavante entendeu isso. Já faz um tempo que deixou de lado o amadorismo. Deveria servir de lição.
Rivais não devem ser inimigos

Após o acidente com a delegação xavante, em 2009, que vitimou o preparador de goleiros, Giovani Guimarães, e dois de nossos jogadores – o zagueiro Régis Gouveia e o atacante Claudio Milar – alguns ditos “torcedores” do coirmão comemoraram a tragédia. Tiraram fotos imitando uma flecha, em frente à imobiliária pertencente ao então presidente do Brasil. Um evidente deboche à comemoração que o saudoso atacante uruguaio fazia após balançar as redes.

As “flechadas” em direção à nossa torcida, muitas vezes acompanhadas de gritos como: “uh, uh, uh, morreram em Canguçu”, nada tem a ver com futebol. Essas “saudações”, infelizmente, também foram utilizadas por torcidas de outros clubes do interior do Rio Grande do Sul em partidas que jogamos como visitantes. São condutas isoladas, é verdade. Uma minoria age assim. Mas, esses poucos, ao serem tão vis, deixam uma mensagem negativa sobre a rivalidade. Neste sábado (29), ao olhar para as arquibancadas do estádio Rei Pelé, e visualizar uma camisa azul e amarela entre dezenas de mantos rubro-negros, nosso sentimento só pode ser de superioridade. Crescemos de tal forma que, alguns deles, estão aprendendo a torcer e a vibrar com as nossas vitórias.

Somos homens, mulheres, idosos e crianças apaixonados por futebol. É um esporte que nos faz ir do inferno ao céu em questão de minutos; às vezes, até de segundos. Somos solidários à atual situação do coirmão. Devemos ser superiores às ofensas; da mesma forma que, em outras ocasiões, eles também tiveram de agir assim. A morte de um torcedor do Pelotas, em 2003, após confronto com um dito “torcedor” do Brasil, é algo inconcebível. A condenação do responsável ocorreu apenas em 2011. Um episódio muito triste e que jamais deve se repetir. Precisamos acabar com toda e qualquer atitude que possa levar a isso. Temos amigos e parentes de ambos os lados. É inadmissível que ainda haja violência, racismo e homofobia no futebol.

Exigimos respeito na mesma medida que devemos respeitar os nossos adversários. Mas respeito, de verdade, se ganha dentro de campo; como nessa primeira vitória fora de casa. No grito de incentivo, que faz os nossos jogadores se doarem ao máximo. No reconhecimento de que só temos orgulho do vermelho e preto porque, do outro lado, outros se orgulham do azul e amarelo; e assim por diante. Na sexta-feira (29), o CRB conheceu a grandeza do Grêmio Esportivo Brasil. E não foi só dentro de campo. Foi, sobretudo, na arquibancada. O Brasil não canta vitória antes de qualquer jogo e, pouco a pouco, nós, torcedores, estamos aprendendo a tratar nossos adversários como realmente devem ser tratados: como adversários e não como inimigos. O Brasil é grande graças à sua torcida. Em um futuro próximo será ainda maior. Só depende de nós.

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Eduardo Silveira de Menezes é jornalista, doutorando em Letras pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e, acima de tudo, torcedor xavante. E-mail: [email protected].


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