Colunas>Cecília Hoff
|
30 de junho de 2014
|
10:59

Desigualdades regionais

Por
Sul 21
[email protected]
Desigualdades regionais
Desigualdades regionais

Já foi mencionado, nesta coluna e em outros espaços, que a perda de participação do estado na economia nacional não deve ser tomada, isoladamente, como evidência de uma crise estrutural na economia gaúcha. Considerando-se as flagrantes desigualdades regionais brasileiras, é desejável que as regiões menos desenvolvidas cresçam mais aceleradamente do que as mais desenvolvidas. Nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, por exemplo, a renda per capita anual é de R$ 13,9 mil e R$ 10,5 mil, respectivamente, enquanto a renda média nacional é de R$ 21,5 mil (dados do IBGE para 2011). Ademais, em se tratando de um país continental, com regiões muito distintas em termos de disponibilidade de recursos naturais, geografia e aspectos demográficos, é natural que o desempenho dos estados seja desigual.

Não obstante, a redução da fatia da economia gaúcha na economia nacional tem sido um tema recorrente no debate local. A participação do Rio Grande do Sul de fato reduziu-se, de 6,9%, no início dos anos 2000, para 6,4%, em 2005, mantendo-se neste patamar até 2013 (na série a preços constantes). Ou seja, a parcela do estado diminuiu, mas desde meados da década passada a economia gaúcha tem crescido, em média, em linha com a economia nacional. Pode-se argumentar que ritmo de crescimento neste período foi lento, ou que foi insuficiente para aumentar o desenvolvimento em seus múltiplos aspectos, ou até mesmo que a sua dinâmica foi excessivamente instável e dependente do clima. Os dados não validam, porém, a conclusão de que há uma crise localizada especificamente na economia gaúcha. Ao contrário, considerando-se o padrão de crescimento vigente na economia nacional, surpreende que a perda de participação não tenha sido maior.

As mudanças regionais ocorridas no Brasil na última década podem ser explicadas, em grande medida, pelo padrão de crescimento que vigorou no período. De um lado, o processo de redução das desigualdades de renda induziu, também, uma redução das desigualdades regionais. As regiões Norte e Nordeste (que representam cerca de 20% da economia nacional) aumentaram a sua participação, enquanto o Sul e o Sudeste (que representam 60%) reduziram. O crescimento também foi mais intenso nos estados que expandiram a produção de commodities, como Pará e Minas Gerais (minério de ferro), todos do Centro-Oeste (soja) e Espírito Santo (petróleo). Em geral, os estados menores e os produtores de commodities ganharam participação, em detrimento dos maiores, nos quais a indústria de transformação tem maior representatividade.  Os estados do Rio Grande do Sul e São Paulo se encaixam no segundo grupo e foram, precisamente, os que registraram as maiores perdas.

Talvez a única exceção seja Santa Catarina. Trata-se de um estado privilegiado em termos de renda per capita (R$ 26,8 mil anuais, em 2011), que não pode ser considerado pequeno e que tampouco é produtor de commodities. Ainda assim, aumentou a sua participação, de 3,8%, em 2002, para 4,1%, em 2011. Como no Rio Grande Sul, a indústria tradicional de Santa Catarina enfrenta dificuldades competitivas. As indústrias têxteis e de vestuário, por exemplo, estão reduzindo a produção ano após ano, num processo semelhante ao que se observa na indústria calçadista gaúcha. Por outro lado, esse movimento tem sido compensado, nos anos recentes, pelo crescimento de setores de maior produtividade, como celulose, metalurgia e material elétrico, e pelo dinamismo da cadeia produtiva do abate e fabricação de produtos de carne. Santa Catarina tem a menor população da região Sul, mas também a maior renda per capita, o que evidencia a sua maior produtividade.

Comparar o crescimento do Rio Grande do Sul com o alcançado em regiões econômica e socialmente distintas, que partem de níveis de renda inferior ou que possuem diferentes recursos naturais, pouco agrega na compreensão do desempenho da economia gaúcha na última década. Se for para comparar, que seja com as regiões mais próximas.

Cecília Hoff é doutora em economia pela UFRJ, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professora da FACE/PUCRS.


Leia também