Colunas>Cecília Hoff
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5 de março de 2014
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13:39

Primeiro lugar na indústria

Por
Sul 21
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Nas últimas semanas, o IBGE divulgou os dados de crescimento da produção da indústria, em níveis nacional e regional. Como era esperado, a indústria de transformação brasileira mostrou uma pequena recuperação, um crescimento de 1,5% no ano, ainda insuficiente para compensar a queda de 2,8% em 2012. Mesmo com essa pequena expansão, o nível de produção se encontra em patamar semelhante ao que vigorava no período pré-crise, em 2008. Também chamou atenção a queda de 3,3% na virada de novembro para dezembro, no dado ajustado sazonalmente. Para essa redução foi determinante a redução na produção de veículos, especialmente caminhões e ônibus. É normal que os dados mensais sejam mais voláteis, mas a redução acentuada do nível de atividade no final do ano traz dúvidas quanto à sustentabilidade da recuperação. Esses resultados também foram determinantes para o crescimento de 2,5% do IBC-Br no ano (indicador mensal do Bacen que procura antecipar a dinâmica do PIB), bem como para a queda de 0,17% no último trimestre, na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

Ainda assim, as perspectivas para a indústria brasileira em 2014 são mais favoráveis, pesando para tanto a possibilidade de recuperação da rentabilidade nas exportações e de ampliação da fatia do mercado interno atendida pela produção nacional, ambas proporcionadas pela taxa de câmbio mais depreciada. Porém, muitas dificuldades estruturais permanecem, como os custos elevados e a baixa produtividade da mão de obra, as distorções tributárias, a energia cara, as deficiências na infraestrutura, as dificuldades de financiamento, além das incertezas quanto ao crescimento da demanda. O câmbio ajuda, mas não recupera, sozinho, a perda de competitividade e as dificuldades acumuladas ao longo dos anos.

Neste contexto, de crescimento lento da indústria em nível nacional, a indústria de transformação gaúcha foi a que registrou o maior crescimento entre as taxas estaduais em 2013, com expansão de 6,8%. Da mesma forma, o IBCR-RS (versão regional do IBC-Br) registrou crescimento de 8,3% no ano. A que se deve este bom desempenho, aparentemente descolado da dinâmica nacional? A rigor, a indústria do Estado cresceu mais porque no ano anterior também tinha caído mais – em 2012, a queda foi de 5,1%, em parte devido à estiagem, enquanto o IBCR-RS reduziu-se em 1,3%. O nível de produção da indústria gaúcha encontra-se, tal qual o nacional, pouco acima do observado em 2008. Ademais, setores que registraram uma recuperação pontual e determinada por ajustes na oferta no ano passado têm uma participação elevada na estrutura produtiva estadual, o que implica em maior impacto no indicador regional. Foram os casos, por exemplo, do refino de petróleo, que cresceu 35,2% no Estado e 7,3% na média nacional, e da produção de caminhões e ônibus, que contribuiu para o crescimento de 17,2% do setor de veículos no RS, contra uma expansão de 7,2% no País.

Nem todo o crescimento da indústria gaúcha, porém, adveio do efeito estatístico da recuperação e de ajustes na produção. Algumas atividades vinculadas à produção de bens de capital, como máquinas e equipamentos e produtos de metal, também registraram bom crescimento (9,4% e 2,8%, respectivamente), em linha com as melhores condições de financiamento do investimento em nível nacional. A produção de veículos leves e autopeças também cresceu e a expansão do setor de veículos com um todo induziu o crescimento da produção de borracha e plástico. Por outro lado, a maior parte dos demais setores – como alimentos, calçados, metalurgia, mobiliário, fumo, químicos – apresentou taxas de crescimento muito baixas ou negativas no Estado. Para muitos deles, a crise argentina deve dificultar a recuperação. Aqui, a indústria enfrenta os mesmos problemas estruturais que a indústria nacional, com os agravantes de ser mais especializada em manufaturas em que houve perda de competitividade, e de ser mais interligada ao país vizinho. Não há descolamento em relação à indústria nacional: quando forem diluídos os efeitos estatísticos da recuperação, e reduzidos os incentivos à compra de bens de capital e automóveis, as dificuldades de crescimento também ficarão evidentes.


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