Colunas>Benedito Tadeu César
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18 de janeiro de 2014
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11:42

As eleições de 2014, serão feitas pela legislação antiga onde o capital dá as letras

Por
Sul 21
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Blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá. Não vou discutir se houve estupro ou não. (Há um ótimo artigo no Sul21 que recomendo e que discute a questão: A cena do Big Brother é um problema do Brasil). Não vejo o Big Brother Brasil e nem assisto à programação da TV Globo. Não sou voyeur de babacas.

Não vou discutir aqui também o Big Brother Brasil. Acho que não é o momento para uma reflexão sociológica, antropológica ou psicológica sobre o programa, seus protagonistas e seus assistentes, se bem que elas sejam desejáveis e devam ser realizadas em outro momento. O que me parece fundamental questionar aqui são as motivações e os interesses de quem produz e veicula tal programa, ou seja, da Rede Globo de Televisão. Afirmar que é audiência é chover no molhado, já que todo veículo de mídia a deseja e procura. Até mesmo o Sul21 precisa de audiência. Sem clics e pageviews, não teria razão de existir e iria à falência, pois não teria os anunciantes que o mantém.

Acontece que alguns veículos de comunicação, em busca de audiência, estupidificam seus programas e, no roldão, seus leitores, ouvintes, expectadores. Alguém duvida, no caso em pauta, que a coordenação da Rede Globo de Televisão superdimensionou o ocorrido, dando destaque a algo que é corriqueiro no programa, em todas as suas edições?

Por dever de ofício, em virtude da polêmica em curso, assisti ao vídeo do suposto estupro e, de quebra, assisti a outras cenas deste mesmo programa, quase todas postadas no Youtube e, algumas, no Facebook. O que vi no primeiro vídeo foi um casal sob lençóis (ededron, para utilizar a terminologia do debate), uma pretensa bêbada e um rapaz que a abraça. Houve relação sexual? Foi consentida? Foi abuso? Não sei. O que vi nos outros vídeos foi muito mais explícito, quase sempre envolvendo álcool em excesso, porre, descontrole e abuso.

Veja-se, por exemplo, o vídeo abaixo que, sem o estardalhaço promovido pela própria emissora, não causou comoção. Pelo contrário, causou tesão aos seus assistentes. Tesão que, aliás, é tudo o que eles buscam.

http://youtu.be/kUDNc2pEiyY

É fato notório que o Big Brother Brasil vem perdendo audiência a cada edição. Ninguém aguenta tanta bobagem por tanto tempo! A Rede Globo tem encontrado, no entanto, meios de manter o faturamento com o programa, aumentando os escândalos e as disputas nas eliminações dos concorrentes. Só com os telefonemas dos incautos ela fatura milhões…

Este é, com certeza, mais um escândalo fabricado pela Rede Globo de Televisão e compartilhado pelas suas afiliadas, todas elas cúmplices, diga-se de passagem, da divulgação e do enaltecimento de um suposto estupro (já que não houve interferência para impedi-lo e, ao contrário, houve interesse em divulgá-lo ao vivo para os assinantes). Não se diga, entretanto, em defesa da emissora, que foi a própria Rede Globo de Televisão que tomou a iniciativa de punir o provável agressor. Claro que foi. O que se há de questionar é a razão de a Rede Globo de Televisão ter tomado a iniciativa neste caso específico, um tanto nebuloso e inexato, e não tê-lo feito nos muitos outros casos de abusos ocorridos em (quase?) todos os outros Big Brother Brasil e também neste, como o prova o vídeo acima.

Cabe investigar o caso em questão. O Ministério Público e a polícia civil já entraram em campo. É bom que eles ajam, mas é aconselhável que não se limitem a investigar os protagonistas diretos da ação, mas incluam também, em suas investigações, os responsáveis pela promoção, pelo incentivo e pela divulgação do fato. Caso haja culpados eles devem ser punidos. Que não se fique apenas na condenação do vilão visível. Todos os culpados devem ser punidos. O abuso flagrante da condição feminina é crime recorrente e diuturno praticado durante o(s) BigBrother(s), assim como nas Fazendas e que tais, vulgarizando e incentivando o desrespeito à mulher na sociedade brasileira.

Joãosinho Trinta

Na última coluna comentei a morte de Joãosinho Trinta e rememorei uma frase genial atribuída a ele: “Quem gosta de miséria é intelectual. Pobre gosta de luxo”.

Pois bem, Geraldo Hasse e Luiz Cláudio Cunha, dois ícones do jornalismo brasileiro, com muita quilometragem rodada e com muito conhecimento acumulado nas lides da imprensa, me alertaram que a frase foi criada por Elio Gaspari e “oferecida” a Joãosinho Trinta, em uma entrevista. Ele, que nunca foi bobo, percebeu a sacada e sua genialidade e a assumiu no ato, como sendo sua.

Como me lembrou Geraldo Hasse, o Magrão, é assim, quase sempre, que acontece com muitas das frases célebres – ou alguém acredita que foi mesmo Dom Pedro I que declarou, no Dia do Fico, que “Se é pelo bem de todos e felicidade geral da Nação, diga ao povo que fico” ou, ainda, emitiu o brado “Independência ou morte!”.

Benedito Tadeu César é mestre em antropologia social, doutor em sociologia, cientista político e professor universitário especializado em análise e comportamento político.


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