Colunas>Antônio Escosteguy Castro
|
21 de janeiro de 2016
|
10:30

Sartori: Do nada à guerra civil sindical

Por
Sul 21
[email protected]
Sartori: Do nada à guerra civil sindical
Sartori: Do nada à guerra civil sindical

Por Antônio Escosteguy Castro

O ano político de 2015 no Rio Grande do Sul começou com a posse de José Ivo Sartori no Governo do estado. Fora a vitória do azarão , numa eleição que se achava estar entre Tarso Genro e Ana Amélia Lemos, como fora a vitória de Rigotto, também do PMDB, em 2002. Mas a esperança logo se transformou em angústia. Confrontado como uma crise econômico-financeira de grandes proporções no estado, Sartori tomou algumas medidas de contenção de gastos e prometeu para “depois do Carnaval” um programa para enfrentá-la. O Carnaval veio, passou e nada foi apresentado. Foi então anunciado que na Páscoa haveria um Programa. A Páscoa veio, passou e nada foi apresentado. A imprensa trombeteou, então, que no fim do primeiro semestre haveria um Programa. O semestre acabou, o segundo também veio e passou, e nada foi apresentado. No final do ano a perplexidade da sociedade com a inação do Governo era tanta que até o Poder Judiciário, usualmente comedido em seus pronunciamentos, publicou nota lamentando “ a ausência de um projeto de crescimento econômico e social” do Estado, ao mesmo tempo que são exigidos enormes sacrifícios de sua população.

O Governo de Sartori, porém, não dá muitas esperanças de que possa produzir um programa eficaz de combate á crise. Foi loteado entre apadrinhados políticos de forma muito mais intensa que o já muito criticado “presidencialismo de coalizão” do governo federal. O ex-deputado Paulo Odone virou banqueiro para assegurar o voto do PPS na Assembleia. Para agradar um importante cacique político da região metropolitana , o cidadão Juivir Quem? virou secretário de estado. O Czar das Finanças, plenipotenciário do dinheiro, é um ex-prefeito de uma cidadezinha periférica, sem peso político ou expertise técnica para o cargo, detentor apenas de influência no parlamento. O episódio do decisivo voto do deputado Jardel no aumento do ICMS , com uma viagem prêmio à Europa e a promessa , documentada, de dez cargos no governo, demonstra o método mais primitivo de construção de maioria e hegemonia. Se tivesse acontecido num governo do PT , seria o escândalo dos escândalos. A RBS teve de exercer todo seu poder para tirar o foco do episódio da negociata do governo do estado para os problemas pessoais de um cidadão doente.

Aliás, o Governo Sartori já teria se inviabilizado se não fosse o apoio militante, permanente e incondicional do Grupo RBS. Toda sua potência, jornais, rádios e TVs, é usada hoje para defender e justificar o Governo Sartori. Nem no tempo do Brito se vira algo igual e esta é uma aposta de alto risco do Grupo RBS, que naquela época pagou caro em perda de credibilidade pelo apoio ao então governador, que veio a fracassar nas urnas. Hoje em crise econômica , envolvida na Operação Zelotes, a RBS tem muito menos gordura para queimar. Mas isto não tem impedido que seja o verdadeiro suporte político de Sartori e seu governo. Durará para sempre?

Nem mesmo o apoio da RBS consegue obscurecer a dimensão da crise que advém da inação do Governo Sartori. Os serviços públicos de que o Rio Grande sempre se orgulhou estão em pandarecos. O atendimento à saúde, particularmente no interior , tem sido dizimado pelos cortes de verbas e a situação na Segurança Pública superou todo os padrões conhecidos de nossa História. A sensação de insegurança da população é a mais alta já verificada. Não há policiais nas ruas e o governo vai aos jornais dizer que não pagará horas extras nem chamará os concursados. Resultado: um incremento da criminalidade , pois os bandidos sabem que não enfrentarão a polícia! Reduzem-se os salva- vidas na praia e por óbvio, aumentam os afogamentos. E com tudo isto acontecendo, o Secretário de Segurança vem dizer que se os movimentos sociais ocuparem as ruas em seus protestos a Brigada agirá rápido para assegurar a liberdade do trânsito . Ah, agora sim estamos seguros!

É evidente, nesta conjuntura, que as perspectivas para o estado em 2016 não são boas. O cenário recessivo em nível nacional perdurará por mais algum tempo e nada foi feito ou proposto no Rio Grande do Sul que possa melhorar a situação local. O estado está paralisado, assistindo o que se passa no país. Por óbvio, Sartori deverá ter algum tipo de iniciativa política para que não se escancare à opinião pública sua incapacidade de governar. A saída política para Sartori em 2016 será desafiar e derrotar o movimento sindical dos servidores, transformando o processo de retirada de direitos do funcionalismo numa “importante vitória política do governo para sanear as finanças do estado”. Sem um programa de ação, ele não tem outra opção e sabe que para isto contará com o apoio da RBS e do empresariado local , tentando dialogar com os setores da população que acham que os funcionários públicos são vagabundos que ganham muito e trabalham pouco . Em 2016, vamos para a guerra civil sindical.

Boa parte de minhas colunas de 2015 terminavam com uma expressão que infelizmente ainda é a que melhor define nossa situação: Pobre Rio Grande.

.oOo.

Antônio Escosteguy Castro é advogado.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora