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9 de dezembro de 2015
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09:44

Notas sobre o País e o Estado

Por
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Notas sobre o País e o Estado
Notas sobre o País e o Estado

Por Antônio Escosteguy Castro

Busco sempre que minha coluna aqui no Sul21 trate de alguns temas específicos e relacionados entre si, e tenha princípio, meio e fim lógicos, como modesta forma de ajudar a compreensão da política no país e em nosso estado. Mas a conjuntura nos últimos dias tem evoluído com tal velocidade e com tal fragmentação, que pela primeira vez me vejo forçado a utilizar o formato das notinhas, tão comum na crônica política de nossos jornalões. Peço desculpas, mas vamos em frente.

O impeachment do Cunha: O Presidente da Câmara dos Deputados , sob pressão de um processo ético na Casa e réu no STF, que para escapar de uma provável cassação de mandato , abre um processo de impeachment sem fundamento jurídico sólido contra a Presidente da República, jogando o país numa instabilidade que apenas aprofunda uma já complicada crise econômica e política, bate o recorde histórico das elites brasileiras de uso das instituições públicas em proveito pessoal.

A Carta do Temer: o sujeito ser vice-presidente da República por 5 anos , em dois mandatos, com a mesma coalizão e quando vê aberto um no mínimo duvidoso processo de impeachment contra a sua companheira de chapa , sob acusações que ele igualmente cometeu ( os decretos da pedaladas fiscais) e então publicar uma carta dizendo “ ela nunca confiou em mim, gente” , sem dúvida merece o Prêmio Nobel Universal do Cinismo e do Oportunismo . A dupla Cunha/Temer é a principal defesa do Governo Dilma contra o impeachment hoje.

O desejo do Aécio e do Kim: A aceitação de um processo de impeachment que, sem fundamento sólido, apenas aprofunda a crise , no momento errado, pelo deputado errado, em benefício do homem errado , por óbvio não obteve boa repercussão na opinião pública e não mobilizou ninguém. E então vem um Senador da República , candidato a governar o país nas últimas eleições e junto com um “líder popular” diz que a apreciação do impeachment deve ser postergada para que aumente o sofrimento do povo, de modo a que venha a apoiá-lo. Nunca ficou tão clara a opinião que as elites tem do povo brasileiro.

O afastamento do Jardel: Muita embora tenha sido revertida pelo mesmo desembargador que a concedeu, a decisão que afastara liminarmente um deputado eleito no exercício do mandato jamais deveria ter sido postulada ou concedida. O pior é que isto se deu logo depois que o próprio STF, premido pelas gravações em que o Delcídio Amaral afirmava ter feito lobby na Suprema Corte , mandou prender, de forma completamente arbitrária e inconstitucional, um senador da república. Todo poder emana do povo e é exercido pelo voto secreto e direto. Nada é mais sagrado que o mandato concedido pelas urnas, por isso são rígidas e excepcionais as situações em que o parlamentar pode ser preso ou afastado e nem Delcídio nem Jardel cabem em nenhuma delas. Cada vez mais magistrados e procuradores se arvoram em substituir o povo e governar em seu lugar como se a aprovação num concurso público valesse mais que a dignidade e o direito do cidadão que vota , mesmo no Jardel. A República Judiciária é elitista , anti-popular e anti-democrática.

A paralisia do Sartori: Enquanto isto, beneficiado pelo carrossel de emoções da política nacional, ninguém fala do Sartori. E ele aproveita… para continuar não fazendo absolutamente nada. O ano vai acabar, Sartori obteve do parlamento tudo o que pediu e não apresentou uma só proposta em favor do desenvolvimento e do crescimento do Rio Grande, em favor da solução de qualquer de seus inúmeros problemas sociais e econômicos. Nada, absolutamente nada. E para coroar , na grande confusão do impeachment , consegue declarar que está neutro, que não é contra nem a favor. Um Governador do Rio Grande do Sul. O estado que se diz o mais politizado da nação. O estado que mudou a história do Brasil em 1930. Neutro. O Rio Grande não merece ter um governador como este.

A cruel estratégia de Fortunati: Também beneficiado com o fato de que os holofotes da política estão dirigidos para Brasília, Fortunati comanda um cruel processo de despejo de dezenas de comunidades às vésperas do Natal. Em Porto Alegre , há cerca de 40 ordens de reintegração de posse aguardando cumprimento e as autoridades vêm cumprindo uma a uma, aos poucos , para dividir o movimento e não dar na vista. E quando as comunidades reagem , como fizeram ontem os moradores da Ocupação Bela Vista , com passeatas e piquetes, a grande imprensa deflagra uma brutal campanha acusando-os de paralisar a cidade , como se o fluxo de trânsito fosse mais importante que o direito de moradia…

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Antônio Escosteguy Castro é advogado.


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