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12 de abril de 2017
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10:00

O racismo politicamente correto contra os judeus

Por
Sul 21
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O racismo politicamente correto contra os judeus
O racismo politicamente correto contra os judeus
26/01/2016 – PORTO ALEGRE, RS, BRASIL – Movimento LGBT protesta contra o deputado federal Jair Bolsonaro (PP) recebido pela ALRS, seguido de briga entre os dois lados | Foto: Guilherme Santos/Sul21

André Pereira

O anti-semitismo é uma espécie disfarçada de racismo, digamos, politicamente correto.

É tão nocivo, repugnante e detestável como qualquer outro preconceito contra minorias ou diferentes.

Mas, para alguns de nós, da esquerda, este repúdio étnico velado aparenta portar um salvo conduto, justificado, talvez, em razão do conflito bélico distanciado, outro lado do Atlântico, que divide e confronta Israel e a Palestina. Isto é, o bandido e o mocinho, na simplificação rasteira e maniqueísta da síndrome da grenalização, que não é privilégio de torcedores gaúchos de futebol nem de brasileiros que dividem o mundo entre coxinhas e petralhas.

Após o recente episódio de segunda feira (3), no Clube Hebraica, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, evidenciou-se, açodada nas redes e nos textos intelectualizados, a condenação sumária da comunidade da sinagoga.

Eu não conferi se, de fato, eram judeus de quipá os que saudavam o “mito” Bolsonaro ou era a mesma numerosa e barulhenta claque que ele carrega sempre e que infestou, aqui na mui leal e valerosa capital dos pampas, o glorioso auditório da Assembleia Legislativa em janeiro do ano passado.

Na dita Casa do Povo, onde veio convidado pelo deputado Sergio Turra (do PP, de origem orgânica na Arena da ditadura), Jair Bolsonaro pintou e bordou, divertindo suas excelências que, alegremente, estendiam os dedinhos, pelo que entendi, imitando o acionar de gatilhos de revólveres.

Afora os jovens mancebos que promoveram um beijaço de barbudos e jogaram purpurina no visitante para provocar a aversão do homofóbico, logo gerando confusão e violência, não lembro de nenhuma reação indignada com o público, como acontece agora com a rejeição aos espectadores da Hebraica.

Poucos valorizaram o protesto que aconteceu no lado de fora da porta da Hebraica, onde jovens sionistas manifestaram-se com veemência e contundência contra o deputado federal do PSC/RJ.

Os manifestantes levaram cartazes contra o deputado e gritaram palavras de ordem como: “Judeu e sionista não apoia fascista”, “quem permite torturar se esquece da shoá (genocídio judeu) e “pela vida e pela paz, tortura nunca mais”.

Às convidadas mulheres, o grupo gritava: “ei, mulher, ele apoia o estupro”.

Em um dos momentos da mobilização da comunidade, especialmente dos mais jovens, alguém gritou nomes de judeus mortos na ditadura brasileira, com Vladimir Herzog e Iara Iavelberg, e os manifestantes respondiam “presente”.

Mas a narrativa que predominou só ouviu, como sempre, o lado que lhe interessava.

Como acontece em toda a manipulação ideológica.

Os judeus, mais uma vez, seguem vitimados pela nossa hipocrisia.

.oOo.

André Pereira é jornalista e não judeu (até onde ele sabe).


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