Por Adeli Sell
Aos poucos, volto a rabiscar algumas resenhas de livros. É um compromisso grande. Há tempos venho afastado de necessárias leituras e imperiosas reflexões sobre Literatura e Arte, porque fui arrebatado por outros textos e afazeres.
Perdi muito, ficaram lacunas. Procuro aos poucos preenchê-las sorvendo um café ao me fixar num texto enxuto, cativante, com letras maiores, porque dali saem os sentidos mais sublimes.
A poesia e o conto sempre me deixam aquela sensação de beber um copo de vinho e depois mais outro e outras vezes faço o mesmo gesto, sem perder o rumo e o prumo.
Ao ler os contos de Vera Ione Molina “Outra e mais outra e mais outras vezes” e mirar as fotografias de Roberto Schmitt-Prym saí com a certeza que tinha que ler mais, mais literatura e ter mais olhos para arte da fotografia, do grafismo e dos quadros. Fugir de quando em quando da leitura de jornais, da Internet que nos traz muita coisa sem sentido, sem graça, sem valor.
Disponível e à venda aqui.
Eu já tinha apreciado fotos tocantes do Roberto numa exposição numa de nossas galerias. E repetirei o que disse a ele: ouse sempre, faça mais. E ele fez.
Os contos de Vera Ione são de leveza intimista, com rasgos de crueza como deve ser a paixão, o amor aberto. São os corpos que falam no pulsar da linguagem, com letras que se fazem uma atrás da outra para dar conteúdo maior a tudo o que é sublime nos sentidos, nos sentidos dos gestos como da linguagem também.
A leitura e a ação não separa conteúdo de forma. É um encaixe perfeito como são as cenas de amor e sexo, pois afinal o que move a vida se não o falar, o sentir, o arfar do peito, a respiração que busca sentido no percurso do prazer?
O livro é uma “Teia” como se lê na abertura, já estava lá em “Outros caminhos” em 1996 pela Mercado Aberto. O tempo fluiu e o enredo foi dando “Outra e mais outra e mais outras vezes” como diz a autora falar do preparo do “Café com amor”.
E sempre tem o “chegar” que pode ser tímido, de mansinho, chegando, com olhares, mas tem a “Fúria” no âmago, que vem com uma “Enxurrada” de coisas ditas, sentidas, às vezes faladas por gestos, tatos, por “encaixes”.
Os contos são uma mescla de ousadia de linguagens construídas sobre pessoas e seus sentidos de vida, de não deixar escapar a oportunidade, do sentir e do amor, seja ao fazer um café na cozinha ou no carro com quem faz sem medo de ser feliz.
São atos sem medo, sem culpa, sem pecado, como deve ser a vida de quem acredita que é possível escrever para ser mais e melhor.
Se em algum momento você descobrir que o ato ficou no pensar não faz a diferença, pois se foi sonho, foi real, foi também vivido, só a forma se moldou àquilo.
Vera Ione vem de escrever para crianças, com livros infantis publicados, com canções, letras musicadas, com contos de tipos diversos, mas sempre com letras maiores e com sentimentos sublimes.
A cada dia se completa mais.
Há de encontrar mais e mais espaços para escrever, publicar e também ensinar já que é ativista das boas oficinas literárias.
De Uruguaiana para o mundo só as letras maiores e o sublime sentimento podem alcançar.
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Adeli Sell é consultor e escritor.