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3 de dezembro de 2014
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10:46

Viaduto Otávio Rocha: Problemas não tão antigos, soluções inovadoras

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Viaduto Otávio Rocha: Problemas não tão antigos, soluções inovadoras
Viaduto Otávio Rocha: Problemas não tão antigos, soluções inovadoras

Por Adeli Sell

É sempre na primeira semana de dezembro que Porto Alegra rememora um de seus mais importantes patrimônios históricos e culturais. Através de projeto de Lei de minha autoria, o Viaduto Otávio Rocha ganhou notoriedade no Calendário Oficial de Eventos do Município.

A data tem o objetivo de sensibilizar e conscientizar a todos sobre a conservação do Viaduto. A partir disso, faz-se possível uma leitura do que ele representa e já representou para a Capital dos Gaúchos.

A inauguração aconteceu em 1932, mas suas obras estavam previstas desde o Plano Diretor de 1914. Durante o mandato do intendente Otávio Rocha (1924-28), ele e o então presidente do Estado, Borges de Medeiros, decidiram abrir a Avenida Borges de Medeiros, ligando o Centro à Zona Sul da cidade.

Sua estrutura é de concreto armado e o vão central mede 19m20cm. Em 1988, por conta das marcantes características arquitetônicas e urbanas – bem como pela relevância sociocultural – o Viaduto foi tombado como patrimônio de Porto Alegre.

Em 1999, o ator Paulo José recebeu o título de Cidadão Porto-Alegrense e, em seu discurso, citou a imagem que teve ao enxergar pela primeira vez o Viaduto Otávio Rocha:

“Eu me lembro do meu primeiro encontro com Porto Alegre. A família vinha de Bagé, de carro, era noite, eu cochilava no banco traseiro. Acordei quando entrávamos na Av. Borges de Medeiros, ao lado da Av. Praia de Belas, e aí eu vi imponente, monumental, maior do que a Igreja Nossa Senhora Auxiliadora e a de São Sebastião juntas, mais alto do que a Ponte Seca, mais bonito do que a casa do meu avô, o Viaduto Otávio Rocha. Depois, pela vida afora, vi outros espaços monumentais impressionantes a Piazza San Marco, Veneza, o Arco do Triunfo, o Coliseu de Roma, o Parlament House com o Big Ben, mas nenhum deles me fez o coração disparar como aquela visão dos meus oito anos. O Viaduto Otávio Rocha foi o meu primeiro alumbramento.”

De volta aos dias atuais, o Viaduto Otávio Rocha que temos em nosso cotidiano parece oposto ao presente na lembrança dos que passaram por ele no último século. Pichações, moradores de rua, sujeira e até mesmo assaltos fazem parte da rotina de quem precisa passar por ali diariamente. O que poderia ser visto como um ponto turístico chega a ser evitado pela população em certos horários.

Com relação aos moradores de rua e usuários de drogas que fazem do viaduto sua moradia, é indispensável uma maior e mais efetiva ação da prefeitura na figura da Fundação de Assistência Social da Comunidade (Fasc) e da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Eles precisam de um lugar que seja melhor para eles mesmos e para a comunidade.

No que tange à ocupação do espaço pelos cidadãos, projetos de restauração encontram barreiras quando chegam à esfera pública. A falta de acordo entre diferentes órgãos da administração municipal, moradores e comerciantes acaba por não desenvolver uma resolução que seja suficiente para a realização de mudanças. Ainda em 2014, um projeto que agradou moradores não foi aprovado pelas secretarias municipais, alegando-se, entre pedidos de correções, motivos políticos. Aparentemente não se trata de prioridade.

Eventos artísticos revitalizariam o Viaduto como nenhuma outra intervenção poderia fazer. O ‘Comida de Rua’, tão em voga atualmente, é a personificação do porto-alegrense que gosta da sua cidade e quer curti-la das mais variadas maneiras. Aproveitar uma tarde em meio à mistura arquitetônica das construções da Capital – ao mesmo tempo em que se degusta algo novo.

A semana está aí, nos convidando para pensar e repensar o nosso Viaduto. Durante a sua construção, pelos engenheiros Manoel Itaquy e Duílio Bernardi, ou até mesmo durante a criação dos elementos ornamentais pelo escultor Alfredo Adloff, pode ser que não se tenha idealizado tantas possibilidades de utilização do espaço como agora. Os tempos são outros e as necessidades da Capital mudaram, fazendo assim, com que novas leituras devam ser dadas a espaços já tradicionais de Porto Alegre.

Adeli Sell é professor, escritor e consultor.


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