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12 de dezembro de 2014
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09:00

O novo peleguismo nos sindicatos

Por
Sul 21
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O novo peleguismo nos sindicatos
O novo peleguismo nos sindicatos

Por Adeli Sell

Os tempos estão bicudos. A velha direita, com roupa nova e de grife, mostra as garras. Tenta falar para novos atores. A nova “classe média” está sendo iludida por setores da imprensa que colocam interesses pessoais acima dos fatos. Fica-se acreditando numa crise que se vê na Europa, mas que aqui está longe de ser real.

A esquerda infantil continua a mesma, faz espalhafatos que só agrada quem gosta de circo mambembe. Rufar tambores e fazer barulho, como subir em carro de som, com discurso de uma nota só, não estimula ninguém a aderir a uma causa. Tem que ter conteúdo.

Os sindicatos da atualidade parecem aqueles da época em que comecei minha militância de ativismo social, no final dos anos 70. Mas, este Brasil fabril em ascensão que alimentava o peleguismo não existe mais. E havia uma juventude que vinha do Movimento Estudantil para o Movimento Sindical, especialmente nós da Libelu – tendência estudantil Liberdade e Luta. Tanto é verdadeiro que um grupo de professores – dos quais eu era o principal ativista – puxou a maior greve da construção civil da época. Havia esta ação global na base sindical.

Os tempos eram outros. A tecnologia acabou com várias profissões. Ela fez diminuir contingentes imensos de trabalhadores no chão de fábrica ou no atendimento em um Banco. Novas exigências foram surgindo, novas profissões foram aparecendo. Vivíamos uma ditadura que nos colou no cárcere da Polícia Federal e na Lei de Segurança Nacional. Prendiam sindicalistas na Polícia Federal. Hoje, a PF prende corruptos. E tem gente que não quer ver que evoluímos.

O sindicalismo atual está adaptado ao “status quo”. Não está conseguindo se reciclar no ritmo das mudanças que o mundo opera. As greves são quase sempre no setor público e nos setores mais bem pagos. Exceções confirmam a regra.

Greves no setor privado são uma raridade. Denúncias de trabalho escravo partem normalmente do Ministério Público ou dos fiscais do Ministério do Trabalho, poucas vezes oriundam dos sindicatos. Doenças ocupacionais, laborais, são um tormento, mas este tema não está na agenda da maioria dos sindicatos. Pessoas acabam “sequeladas” na indústria metalúrgica e alimentícia, mas também nas salas tomadas de computadores.

E se esta postura servil fosse de sindicatos ligados apenas à Força Sindical compreenderíamos, mas há sindicatos da CUT tão pelegos quanto de outras centrais. Sou da opinião que a nossa CUT deveria realizar uma grande Conferência sobre o Novo Mundo do Trabalho e tirar metas e ações para os seus sindicatos associados.

A CUT deveria puxar um movimento exigindo obras de infraestrutura, mais casas, mais postos de saúde, mais escolas, pois isto garantiria trabalho por longo tempo a setores menos qualificados. Também deveria exigir “cidades digitais”, pois ajudaria a empregar outros setores, estes mais qualificados.

A agenda sindical deveria ser uma agenda desenvolvimentista, sem gastanças.

O esquerdismo tem perdido algumas bases importantes, como a direção do CPERS, aqui no Rio Grande do Sul, o que mostra que o discurso sectário já não alimenta mais. Na construção civil e pesada, os setores conservadores tem perdido espaço para a CUT.

Está feito o desafio.

Nem à direita nem ao esquerdismo sindical, o caminho é a frente única das classes trabalhadoras, em torno de seus interesses, sem ter medo de dialogar com patronal e demandar junto aos poderes públicos.

Adeli Sell é consultor, escritor e foi vereador de Porto Alegre por 16 anos


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