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10 de maio de 2016
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10:01

“A democracia sempre será o lado certo da história!”

Por
Sul 21
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“A democracia sempre será o lado certo da história!”
“A democracia sempre será o lado certo da história!”

dilma entrevista cnn

Por Mauri Cruz

Passados alguns anos, esta frase repetida quase como um mantra por Dilma Rousseff, mulher, brasileira, guerreira, Presidenta, será lembrada pelas novas gerações como um exemplo a ser seguido. A frase dita em momentos de vitória, de conquistas democráticas, tem um sentido, quase retórico. Ser democrata ao lado dos vitoriosos é quase sempre fácil. Mas esta frase dita nos momentos de derrotas, em que a opção pela democracia significa perder, tem outro sentido e outro sabor. E, por mais amargo que pareça, as pessoas verdadeiramente democratas, optam por pagar esse preço.

Dilma, como presidenta, poderia se aventurar por caminhos não tão democratas. É, afinal, a chefa das forças armadas. Tem poder político e econômico. Teria como mobilizar apoios com métodos menos democráticos. Mas, por sua firmeza e confiança histórica, ela opta pelo lado certo: a democracia. Não que estejamos assistindo a um enredo democrático. Pelo contrário, as peças que se movimentam em prol do impedimento golpista, estão se mexendo ao largo das normas democráticas, constitucionais e legítimas. Mas, os crimes estão sendo cometidos por políticos eleitos democraticamente e por ministros do Supremo Tribunal Federal escolhidos dentro das normas democráticas vigentes. São erros que serão, certamente, julgados pelo povo, nos próximos embates eleitorais.

Isto significa dizer que, optar pela democracia não é optar pela vitória certa. Ainda mais numa sociedade capitalista dividida em classes onde, quem tem o poder econômico, quase sempre controle e manipula o poder político. Fazer democracia numa sociedade desigual é sempre mais complexo e difícil. Mas mesmo assim, optar pela democracia é o melhor lado da história.

Essa frase faz mais sentido se olharmos o que está ocorrendo fora do Brasil. Há alguns anos atrás era possível ver que o mundo estava sendo redesenhado através de acordos multilaterais onde os EUA e a própria UE tinham papel secundário. A criação dos BRICs reunindo 50% da população do planeta com capacidade real de autonomia se tornaram uma ameaça efetiva ao poder econômico do bloco EUA/UE/Japão, em franco declínio há décadas. Sem perspectiva de retomar o ofensiva através do poder econômico, o bloco capitalista decidiu estabelecer seu controle pelo poderio militar.

Neste sentido, as mudanças no mundo atual são profundas e graves. Legitimado pela “guerras contra o terror” arquitetada pós atentados de onze de setembro de 2001, o império norte-americano com o apoio da União Europeia e, em parte, a omissão dos outros blocos, iniciou o que poderá ser denominada, no futuro, como a terceira guerra mundial, porque, iniciada no Afeganistão, rapidamente espalhou-se para o Iraque, Síria, Líbia, Ucrânia e vários outros países. A característica principal, desta nova ordem mundial é a destituição dos estados nacionais e sua substituição por nada. A maioria destes países segue em guerras permanentes onde uma parte do povo luta contra a outra por motivos pouco claros e muito menos ainda, em prol de algum novo projeto de país real e viável. Só quem ganha com este estado permanente de guerras civis, são as potencias militares e suas empresas armamentistas e seu controle econômico, político e social.

Neste contexto internacional, é provável que o processo de impedimento de uma presidenta legitimamente eleita ou a prisão de um popular líder metalúrgico não seja o plano máximo dos interesses do sistema capitalista internacional para o Brasil. Há outros e grandes interesses em jogo. Deste o controle sobre o papel do país no cenário internacional, como liderança e avalista das políticas do bloco imperialista, quanto o domínio sobre o pré-sal e o controle da Amazônia.

Dito isto, me preocupa, sobre maneira, o clima de ódio e a divisão da sociedade brasileira. Algo pouco crível há alguns anos atrás hoje pode ser constatado em qualquer festa de família. O país está sendo dividido e a tolerância com o pensamento diferente chegou a quase zero. A quem interessa esta divisão que pode embalar movimentos cada vez mais violentos de brasileiros contra brasileiros? A direita, fazer o discurso do ódio, é comum e faz parte de sua estratégia de difundir o medo naqueles que querem lutar por uma vida melhor. Mas uma esquerda verdadeiramente democrática não pode cair nesta cilada. O ódio jamais será a base de uma sociedade justa, solidária e ambientalmente sustentável. Por isso, a afirmação da presidenta Dilma faz todo sentido: “A democracia sempre será o lado certo da história”.

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Mauri Cruz é advogado socioambiental, professor de pós graduação em direito à cidade e mobilidade urbana, dirigente nacional da Abong.


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