Cidades|z_Areazero
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9 de julho de 2020
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21:35

Cheia do Guaíba deve se acentuar nos próximos dias, mas não deve repetir 2015, diz hidrólogo

Por
Luís Gomes
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Defesa Civil está monitorando a região das Ilhas devido as fortes chuvas e inundações | Foto: Defesa Civil/PMPA

Luís Eduardo Gomes

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu alertas nesta quinta-feira (9) sobre a possibilidade de inundações nos municípios de Alvorada, Cachoeirinha, Campo Bom, Canoas, Charqueadas e Eldorado do Sul, Gravataí, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Triunfo, São Jerônimo, São Leopoldo e Sapucaia do Sul nas próximas 48 horas. Na Capital, de acordo com o serviço de monitoramento meteorológico Metsul, a região das ilhas de Porto Alegre pode começar a sofrer com alagamentos já nesta quinta, e o nível do Guaíba deve continuar subindo nos próximos dias, potencialmente atingindo “níveis históricos”.

Segundo dados da Sala de Situação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (SEMA-RS), que faz o monitoramento das cheias, o nível do Guaíba estava, às 17h, em 2,15 m — o normal é 1,2 m –, em tendência de elevação em função de uma onda de cheia vinda do Delta do Jacuí.

Lucas Giacomelli, hidrólogo da Sala de Situação da SEMA-RS, destaca que, apesar do tempo firme nesta quinta-feira, a elevação do nível está ocorrendo devido às ondas de cheia que vêm das bacias hidrográficas que vão desembocar no Guaíba, que são as bacias do Alto Jacuí, do Pardo, do Baixo Jacuí, do Sinos, do Gravataí, do Taquari e do Caí, as duas últimas tendo registrado fortes cheias nos últimos dias. Na tarde desta quinta, o rio Caí registrava, na Estação da Barca do Caí, o nível de 12,6 m, acima dos 2 m considerados normais. Já o Taquari atingia 25,5 m na Estação Estrela, acima dos 12,5 m normais. “Toda essa água vem descendo dessas bacias lá do ponto mais alto, escoando em direção ao Guaíba”, diz o hidrólogo.

Lucas diz que, apesar do nível dos rios Caí e Taquari já estar em declínio, esse processo de escoamento em direção ao Guaíba segue ocorrendo e que, além disso, os rios Sinos e Gravataí ainda seguem subindo. “As cheias no Guaíba ocorrem quando há cheias em todas essas bacias, que é o que está acontecendo, e o vento sul de forte intensidade”, diz.

No momento, a previsão da Sala de Situação é que o nível do Guaíba pode alcançar 2,40 m nos próximos dias, patamar semelhante ao alcançado entre o final de outubro e o início de novembro de 2019, quando houve o registro de intenso vento sul.

Imagens áreas dos municípios de Lajeado, Cruzeiro do Sul e Bom Retiro do Sul após inundações devido às fortes chuvas. Foto: Polícia Rodoviária Federal/RSA

“Agora, o Guaíba está com 2,10 m [dado anterior à última atualização da Defesa Civil] e com vento oeste. Ele está mantendo a cota estável nesse momento, porém, a gente está prevendo que deve ter uma proporção semelhante ao que aconteceu em outubro. É cedo ainda para dizer, porque o monitoramento do Guaíba ainda é muito complicado, porque ele depende de outras variáveis que a gente não tem total controle, que é, por exemplo, a maré e a variação nos níveis da Lagoa. A maré e o vento influenciam a Lagoa [dos Patos], que influencia o Guaíba, que influencia a descida do Delta e outras bacias mais baixas, como o Gravataí e o Sinos. É uma colcha de retalhos de variáveis que podem mudar o tempo, então não tem como fazer uma previsão mais estendida”, diz. “Para as próximas horas, ele deve subir mais alguns centímetros. Amanhã, o vento vira para nordeste, que favorece o descida do nível do Guaíba, então ele deve descer alguns centímetros. Porém, tá indicando vento sul para sábado, então a gente vai manter esse monitoramento. Indicamos a Defesa Civil mandar SMS para as bacias da Região Metropolitana, também para o Jacuí e para o Guaíba. O alerta tem validade de 48 horas e, muito provavelmente, a Defesa vai renovar esse SMS para mais 48 horas”.

Por enquanto, Lucas avalia que ainda não há riscos para que o Guaíba suba aos níveis registrados em 2015, quando chegou a atingir 2,94, o maior nível desde 1967, afetando milhares de famílias na Capital e deixando outras centenas desabrigadas na região das ilhas. “A gente não está imaginando uma escala tão grande quanto essa de 2015 ainda. Mas, a gente mantém o monitoramento para se algo mudar. Se continuar como está agora, a gente vai chegar a 2,40 m, bem parecido ao que aconteceu em outubro de 2019”, afirma.

Segundo a Defesa Civil de Porto Alegre, que está monitorando o risco de inundação nas ilhas, ainda não há previsão de inundação na Capital. “A cidade está longe da cota de inundação. A cota é 3 m, estamos em 2,12 m baixando. Vai entrar vento nordeste, o que favorece ainda mais o escoamento. Estamos em estado de atenção. A Comissão Permanente de Atuação em Emergência (Copae) estará reunida amanhã com a Sema, referente ao monitoramento hidrológico. De acordo com o que for apresentado, se houver evolução desfavorável estabeleceremos as rotinas de cada órgão”, diz resposta encaminhada a questionamento da reportagem.

Inundação do Rio Caí em São Sebastião do Caí – RS. Foto: Fernando Mainardi/Divulgação SEMA-RS

 


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