Giovana Fleck
Na manhã da sexta-feira (09), o Conselho Municipal de Transportes Urbanos (Comtu) aprovou o aumento da tarifa de ônibus de Porto Alegre para R$ 4,30. Com 13 votos a favor, quatro contra e duas ausências, os conselheiros também votaram a favor da recomendação de cobrança de 50% na segunda passagem. Outros temas, como projetos que envolvem estudantes, idosos e cobradores foram suspensos pela presidência para serem avaliados após novas análises técnicas.
O principal argumento do parecer consolidado apresentado pela EPTC (Empresa Pública de Transportes e Circulação) para o aumento, assinado pelo coordenador Márcio Saueressig, é a diminuição no número de passageiros. Segundo o laudo, os usuários teriam caído 10,89%. A análise foi feita a partir de pedido de revisão tarifária pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa). Hoje, a tarifa é de R$ 4,05 e a segunda passagem é gratuita – com um intervalo de 30 minutos entre viagens.
Representante da Umespa (União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre) Vitória Cabreira se manifestou durante a votação defendendo o ponto de vista dos estudantes. “Eu acho muito fácil dizermos que as pessoas estão deixando de usar os ônibus. Mas a gente aumenta o preço, o que é o contrário do que deveria ser feito para que utilizem o serviço”. Vitória é estudante da Escola Técnica Estadual Parobé e mora no bairro Serraria. “Eu só pego ônibus mesmo porque sou obrigada. Ninguém pega porque quer, não existe qualidade, não é agradável. Quem aprova o aumento da passagem tem uma falta de responsabilidade com o povo e com o estudante”, disse.
Nesse momento, o conselheiro do Stetpoa (Sindicato Dos Trabalhadores em Empresas de Transporte), Emerson Dutra, interrompeu e questionou Vitória sobre seu posicionamento, afirmando que a estudante “queria palco”. “Eu não quero palco. Eu quero só que o transporte público seja acessível”, respondeu Vitória. Emerson argumentou que a Umespa não considerava em sua defesa o aumento da gasolina e a necessidade de aumento do dissídio dos trabalhadores.
Depois de quase duas horas de reunião, os delegados se retiraram do auditório. Lá, segundo Vitória, um dos membros da Umespa que a acompanhava teria chamado o delegado da Stetpoa de “covarde” por ter gritado com ela. Assim, Emerson reagiu com um soco no rosto de Vinicius Alversa. Vinicius teria revidado e, assim, a briga envolveu outros delegados e membros das entidades que tentaram separá-los. Os óculos de Vinicius foram quebrados e a Brigada Militar foi chamada para conter a situação. Escoltado, Emerson deixou o local logo após a briga.
Briga entre delegações após reunião do Comtu (Conselho Municipal de Transportes Urbanos) pic.twitter.com/GjUhcgiQNZ
— Gi (@fleckgiovana) 9 de março de 2018
“Eu pago, não deveria. Transporte público não é mercadoria!”
Algumas horas antes da reunião, estudantes de diversas escolas se renuíram em frente à Escola Técnica Estadual Parobé para se manifestar contra o aumento da passagem e o possível fim da gratuidade da segundo passagem. Tuellem Silva tem 15 anos e estuda no Colégio Estadual Inácio Montanha. Ela mora na Restinga, passa quase duas horas por dia nos ônibus de Porto Alegre – considerando que pega de quatro a seis coletivos por dia. Hoje, isso representa uma média de R$ 12 diários, cerca de R$ 264 mensais. “Talvez eu pare de estudar. É um absurdo eu e muitos outros sairmos da Restinga, pegarmos ônibus velhos, quentes, e termos que nos virar com esse rombo no orçamento.”
Ritieli é estudante do Protásio Alves. Ela mora no Bairro Paternon, pega dois ônibus para se deslocar. “Isso fora trabalho e qualquer outro deslocamento”, completa. Na quinta-feira (08), Dia Internacional da Mulher, ela voltava para casa após a marcha do final do dia. “Foi só entrar no ônibus que um homem passou a mão na minha bunda. Quer dizer, a gente tá pagando caro e ainda sofrendo assédio, sem segurança nenhuma; é para ser humilhado.”
Nesse momento, Ariane Soares interrompe Ritieli para dizer que, recentemente, foi assaltada indo para casa. “Eram dois homens com uma faca. É horrível, e acontece todo dia”, afirma.
A decisão do Comtu segue para avaliação do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Assim, as definições vão para votação na Câmara Municipal de Porto Alegre e aguardam assinatura do decreto pelo prefeito, passando a valer na Capital. No entanto, membros da oposição já acionaram a Justiça questionando o novo valor.