![Seminário realizado no auditório do Ministério Público discutiu mobilidade e acessibilidade |Foto: Caroline Ferraz/Sul21](https://www.sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2015/06/20150602-020615gs020615-41.jpg)
Jaqueline Silveira
Com legislação nacional que estabelece políticas de acessibilidade desde 2000, os avanços para facilitar a vidas das pessoas com deficiência ainda são tímidos e ocorrem em ritmo lento. Foi o que apontou o Seminário Gaúcho de Acessibilidade na Mobilidade Urbana, que ocorre desde a última segunda-feira (1°), no auditório do Ministério Público, na Capital.
Na Região Metropolitana, por exemplo, cerca de 30% da frota de ônibus atualmente possui acessibilidade, segundo o superintendente da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), engenheiro Pedro Bisch Neto. Ao total, segundo ele, são 1,7 mil veículos que transportam cerca de 500 mil pessoas diariamente.
Em 2000, foi criada a lei 10.098 que prevê um conjunto de regras e critérios para promover a acessibilidade no país. “É um divisor de águas no Brasil”, afirmou o engenheiro, sobre a importância de uma legislação específica para o tema. No Rio Grande do Sul, conforme Neto, as prefeituras têm essa lei como referência para adotarem políticas públicas e medidas que beneficiem as pessoas com deficiência.
![Superintendente da Metroplan, Pedro Bisch Neto diz que há caminho enorme a percorrer para resolver essas questões|Foto: Caroline Ferraz/Sul21](https://www.sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2015/06/20150602-020615gs020615-51-300x200.jpg)
O superintendente ressaltou que há ainda “um enorme caminho” para avançar em relação à acessibilidade no Estado. Ele lembrou, por exemplo, que em 2000 foi implementado o passe livre para as pessoas com deficiência no Trensurb. Em contrapartida, há algumas estações que ainda não têm acessibilidade. Conforme Neto, a Metroplan tem procurado aumentar o percentual de veículo com acessibilidade a cada renovação anual da frota.
Neto avaliou que boa parte das cidades, como a Capital, tem “lombas e subidas”, que já são dificuldades normais, mas que situação se agrava à medida que não há padronização das calçadas. “As calçadas não precisam ser bonitas, precisam ser seguras para as pessoas. São coisas tão simples que precisam ser resolvidas”, defendeu o engenheiro.
Apesar de considerar um grande avanço os corredores de ônibus, o engenheiro afirmou que o ideal seria que as faixas exclusivas para os coletivos pudessem “atingir a Região Metropolitana”. Na sua opinião, a Avenida Bento Gonçalves deveria avançar até Viamão, a Baltazar de Oliveira Garcia até Alvorada e a Assis Brasil seguir até Cachoeirinha e Gravataí.
Projetos para a Região Metropolitana
Durante a palestra, o superintendente da Metroplan apresentou os projetos previstos para resolver “pequenos gargalos” da Região Metropolitana, responsável por 40% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado e que concentra 30% da população do Rio Grande do Sul. Um deles é do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC Mobilidade – e prevê a construção de faixas exclusivas e de ciclovias num investimento de R$ 314 milhões. Ele ressaltou que todos os trâmites burocráticos foram cumpridos pela Metroplan, entretanto o início das obras ficará para o ano que vem, porque o Estado não tem dinheiro para a contrapartida devido à crise financeira. “O Estado está com sua capacidade de endividamento esgotada”, justificou ele.
O outro conjunto de ações é do Pacto Mobilidade. Com recursos a fundo perdido, o projeto prevê a construção da Perimetral Metropolitana, que começará em Viamão e cruzará a região dos arredores da Capital. O investimento é de R$ 234 milhões. Como o governo federal fez cortes em seu orçamento, Neto afirmou que essas obras serão realizadas, porém levarão mais tempo para serem concretizadas. “Assim, nós vamos tocando o barco. Essas obras precisam acontecer”, destacou ele, sobre o ritmo viável dos projetos.
Pesquisa não condiz com a realidade encontrada em municípios
![Auditora do TCE diz que informações repassadas pelos municípios não reflete a realidade verificada pelas auditorias |Foto: Caroline Ferraz/Sul21](https://www.sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2015/06/20150602-020615gs020615-61-300x200.jpg)
Também palestraram no seminário as auditoras do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Andrea Mallmann Couto e Juliana Baum Vivan que abordaram os Planos Municipais de Acessibilidade e Mobilidade Urbana e o papel do TCE na sua implementação.
Andrea informou que, entre novembro e dezembro de 20013, o Tribunal fez uma pesquisa, quanto à legislação, políticas públicas e medidas adotadas para promover acessibilidade. O levantamento foi respondida por 444 municípios, contudo as informações dadas pelos gestores, conforme a auditora, não refletiam a situação encontrada pelos técnicos do TCE ao inspecionarem esses locais. Por esse motivo, segunda ela, o estudo não foi divulgado pelo Tribunal. “A pesquisa não condiz com a realidade das auditorias nesses municípios”, justificou Andrea.
Muitas cidades, de acordo com ela, desconsideram as normas de acessibilidade em relação às vias públicas construídas ou recuperadas e há ausência de políticas públicas para a área. Andrea afirmou que a lei 12.587 de 2012 prevê o período de três anos para os municípios implementarem sua política de mobilidade urbana, entretanto, há um projeto em tramitação no Congresso para ampliar esse prazo para seis anos.
Políticas gradativas
![Representante do Ministério das Cidades, Yure Della Giustina diz que avanços não serão de hora pra outra |Foto: Caroline Ferraz/Sul21](https://www.sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2015/06/20150602-020615gs020615-2-300x200.jpg)
Diretor do Departamento de Políticas de Acessibilidade e Planejamento Urbano do Ministério das Cidades, Yuri Rafael Della Giustina disse que gradativamente são implementadas ações de acessibilidade. Ele citou como exemplo o programa Minha Casa, Minha Vida, que a fase 2 do projeto é que passou a ter acessibilidade. “Não dá para passar do inferno para o céu de uma hora para outra”, comparou ele. O diretor enfatizou que a lei que torna obrigatória a implementação da “plataforma elevatória” no sistema de transporte é de 2014. “A obrigação é 100% para os veículos novos”, comentou ele, sobre a exigência da legislação recente.
Em sua exposição, o representante do Ministério das Cidades disse que em 2010 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fez um levantamento quanto à infraestrutura no país e que somente 4% dos entrevistados revelaram ter calçadas acessíveis.
No encerramento do encontro, que ocorre no final da tarde de terça-feira, será elaborada uma carta de intenções. O Seminário Gaúcho de Acessibilidade na Mobilidade Urbana é promovido pelo Ministério Público em parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e o Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo do Rio grande do Sul (CAU-RS).
Projetos de mobilidade para a Região Metropolitana
PAC Mobilidade
10 projetos
9 cidades
28 quilômetros de ciclovia
57 quilômetros de faixas exclusivas e de qualificação dos passeios públicos
R$ 314 milhões o valor do investimento
Pacto Mobilidade
Perimetral Metropolitana (Começa por Viamão e cruza a Região Metroplitana)
66,5 quilômetros de faixas exclusivas e de qualificação dos passeios públicos
50 quilômetros de ciclovia
7 empreendimentos
7 cidades
R$ 234 milhões o valor do investimento