Cidades
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24 de setembro de 2020
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23:06

Ambulantes saúdam decreto que permite retorno para o Gasômetro após 5 anos: ‘recuperar o tempo perdido’

Por
Luís Gomes
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Antigos ambulantes da Orla poderão retornar às proximidades do Gasômetro após cinco anos | Foto: Luiza Castro/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Recuperar as perdas. Essa é a ideia que passa pela cabeça de Sônia Welter de Ávila, presidente da Associação dos Ambulantes da Orla do Gasômetro, quando perguntada sobre a expectativa dos 18 membros da associação para o retorno às proximidades de um dos principais cartões portais de Porto Alegre.

Desde que as obras para a revitalização do trecho 1 da Orla do Guaíba iniciaram, em outubro de 2015, os ambulantes que trabalhavam nas “barraquinhas da Gatorade”, como eram conhecidos os quiosques localizados às margens do Gasômetro antes da reforma, estão remanejados nos arredores do Anfiteatro Pôr do Sol. A promessa era de que retornassem assim que a revitalização fosse concluída, o que ocorreu em junho de 2018, mas passaram-se dois anos até que a Prefeitura autorizasse a volta.

“Já se vão cinco anos. Vai fazer dois anos que a Orla reabriu e nada de nós voltarmos. Tá mais do que na hora da gente voltar”, diz Sônia, que trabalhava em uma barraca junto ao Gasômetro há mais de 20 anos.

Sônia explica que as conversas com a Prefeitura para o retorno ganharam corpo, de fato, apenas no ano passado. “Todos tiveram que fazer MEI, agora ninguém mais é ambulante, todo mundo é empresário. E a gente ficou esperando, um ano se passou depois disso”.

Na última sexta-feira (18), foi publicado no Diário Oficial de Porto Alegre (DOPA) o Decreto nº 20.730, que concede permissão para instalação de 19 espaços comerciais divididos em dois novos módulos a serem instalados na Orla. Inicialmente, os espaços são reservados para os ambulantes que foram remanejados, mas o decreto prevê que, a cada dois anos, eles sejam licitados novamente, em concorrências que permitam a entrada dos membros da associação e de outras pessoas “na mesma situação econômica”.

O decreto estipula que o retorno deve ocorrer 30 dias após a assinatura do Termo de Permissão de Uso, que prevê regras e condições para utilização dos novos espaços. No entanto, a presidente da associação avalia que, após a Prefeitura entregar as chaves dos módulos, em 15 dias eles devem estar operando.

“A gente vai ter que fazer umas reforminhas, umas paredezinhas, e aí a gente vai entrar. Nós estamos bem faceiros, bem ansiosos”, diz Sônia, salientando que ainda aguardam o recebimento dos termos. “Nem que a gente trabalhe dia e noite. Nós vamos tocar direto”.

Ambulantes tiveram que se mudar para as proximidades do Anfiteatro Pôr do Sol quando a Orla foi fechada  | Foto: Luiza Castro/Sul21

Pior que a pandemia

Sônia afirma que os membros da associação foram atingidos em cheio pela pandemia do coronavírus, que restringiu a circulação na orla e em outros parques da cidade, que costumavam ser uma alternativa de trabalho para os ambulantes. “Tem pessoas que não têm nem o que comer, para te falar bem a verdade”, diz.

Ela diz que, mesmo tendo se tornado microempresários, os membros da associação não conseguiram acessar linhas de crédito especiais durante o período, mas pontua alguns receberam o auxílio emergencial. “Alguns pegaram os R$ 600 aqueles, outros não conseguiram”.

Contudo, ela ressalta que o remanejamento para o Anfiteatro teve um impacto maior nas vendas do que a pandemia. “O Anfiteatro é muito retirado. Nós já estamos sofrendo ali há cinco anos, porque, os primeiros dois anos que a gente teve ali, tu não tem noção o que a gente passou. Sofreu mais do que agora com a pandemia. A gente vendia uma água por dia, não tinha movimento. Era um lugar fechado, ninguém chegava. Agora a gente tem os nossos clientes, a maioria é ciclista, mas durante uns anos ali a gente sofreu”, diz.

Acrescenta ainda que, no Anfiteatro, além da perda de clientela, as barracas eram muito impactadas por temporais, como o que atingiu a cidade no final de janeiro de 2016, causando ainda mais perdas financeiras. “Nós já estávamos ali. Nossas barracas caíram todas, a gente não tinha dinheiro para nada. Um ajudou o outro e nós levantamos tudo. Mas, cada temporal que dá, as barracas vão para o chão. E para arrumar cada barraca daqueles ali, botar em pé para trabalhar, é mil reais. É complicado”, diz.

A presidente afirma que, mesmo com o impacto da pandemia, a ideia é que todos os membros da associação consigam retomar suas atividades, ainda que alguns precisem de apoio financeiro durante a mudança. “A gente vai atrás de ajuda”, garante. “Abrindo os quiosques, a gente tá tranquilo”.

Novos módulos permitirão a qualificação dos comércios | Foto: Luiza Castro/Sul21

Novas oportunidades

Sônia diz que é difícil projetar qual será o ganho financeiro com o retorno para a área mais movimentada da Orla, mas, além de apostar em um aumento substancial de receita pelo fato de o espaço estar atraindo mais público do que antes da revitalização, ela destaca que os novos módulos também trarão a qualificação dos negócios, permitindo, por exemplo, que passem a operar com tele-entrega.

“Lá no Anfiteatro a gente não tem luz, a gente se vira com um gerador e sai muito caro botar gasolina no gerador. Ali vai ter luz, vai ter tudo, então tu tem como fazer uma tele e outras coisas. Abre mais visão para o negócio”.

Cada espaço contará com instalações hidrossanitárias, elétricas e de gás natural e um sistema de exaustão. As lojas terão área total variando entre 9,38m² e 12,43m². “A gente vai ter um local decente para trabalhar”, diz. “Nossa expectativa é entrar e trabalhar, recuperar um pouco o que a gente perdeu, que foi bastante”.

Foto: Luiza Castro/Sul21

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