Cidades > Areazero
|
17 de agosto de 2015
|
22:13

Servidores da Fundação Zoobotânica recebem apoio de vereadores da Capital contra extinção

Por
Sul 21
[email protected]

 

Na sessão da Câmara desta segunda, a analista bióloga Janine Arruda falou em nome dos servidores da FZB e destacou o trabalho da fundação |Foto: Leonardo Contursi/Câmara de Vereadores
Na sessão da Câmara desta segunda, a analista bióloga Janine Arruda falou em nome dos servidores da FZB e destacou o trabalho da fundação |Foto: Leonardo Contursi/Câmara de Vereadores

Jaqueline Silveira

Os servidores da Fundação Zoobotânica (FZB) foram à Câmara de Vereadores da Capital, na tarde desta segunda-feira (17), pedir o apoio dos parlamentares contra a extinção da FZB. Uma moção de repúdio ao fim da instituição, proposta pela bancada do PSOL, estava prevista para ser votada durante a sessão, no entanto ela foi retirada a pedido da maioria dos vereadores e, no lugar, foi protocolada uma de solidariedade à manutenção da instituição. A nova moção, que deverá ser votada na quarta-feira (19), ainda inclui as fundações de Produção e Pesquisa em Saúde (FPPS) e de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul (Fundergs), previstas para também serem extintas.

No começo deste mês, o governo do Estado enviou um projeto à Assembleia Legislativa propondo a extinção da FZB e, como consequência, a demissão dos funcionários. Em sua justificativa, o Palácio Piratini alegou que a extinção tem por objetivo o “enxugamento” da estrutura do Estado e reduzir custos. A Fundação Zoobotânica é constituída pelo Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, pelo Museu de Ciências Naturais e pelo Jardim Botânico.

Apesar de a moção não ser votada nesta segunda-feira, o assunto dominou boa parte da sessão. Inicialmente, a analista bióloga Janine Oliveira Arruda falou em nome da associação dos servidores da fundação pedindo a intermediação da Câmara de Vereadores junto à Assembleia Legislativa para a retirada do projeto. Em sua manifestação na Tribuna Popular, ela rebateu a alegação da Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de que o orçamento da Fundação Zoobotânica vinha crescendo consideravelmente. Janine afirmou que a fatia destinada à FZB é de R$ 26 milhões, representando 0,045% do total do orçamento do Estado para 2015, que é de R$ 57,4 bilhões.

Sobre a manutenção da fundação, a analista bióloga destacou que os pesquisadores aprovam projetos gerando recursos à FZB. Janine contou que os veículos hoje usados pela fundação foram comprados com recursos próprios. A servidora também ressaltou que a FZB reduziu em 44% as despesas com diárias, o que teria permitido à Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável cumprir a meta na redução desse tipo de gasto. Além disso, a serviodra argumentou que os servidores da instituição são contratados pela CLT e, portanto, as futuras aposentadorias “não pesarão na folha do Estado”.

Já sobre o trabalho da instituição, Janine discordou da “sobreposição de atividades” da FZB, outra justificativa apresentada pelo governo para a sua extinção. Para ressaltar a importância da fundação, Janine afirmou que o Jardim Botânico tem um serpentário com 400 cobras e que o soro antiofídico usado no Rio Grande do Sul é produzido do veneno extraído na fundação. “Essa extração é a única do Estado, não há nenhum outro órgão no Estado”, alertou ela, sob o olhar de muitos colegas e de representantes de entidades ambientais.

Muitos servidores da FZB acompanharam a manifestação da analista bióloga Janine Arruda|Leonardo Contursi/Câmara de Vereadores
Vestidos com camisetas brancas contra a extinção da FZB, muitos servidores acompanharam a manifestação da colega Janine Arruda|Leonardo Contursi/Câmara de Vereadores

Depois da representante dos servidores se manifestar, vários vereadores ocuparam o microfone em apoio à manutenção da FZB. “Espero que o governo volte atrás em seu posicionamento. A Fundação Zoobotânica não pode ser perdida. Não podemos abrir mão dessa instituição. Há muitos serviços prestados pela FZB e pelo retorno que traz ao nosso Estado”, argumentou o vereador Alex Fraga (PSOL), que junto com sua colega de partido, Fernanda Melchionna, chegou a apresentar a moção de repúdio à extinção da FZB.

Representante do DEM, Reginaldo Pujol disse que seu partido ajudou a eleger o governo José Ivo Sartori (PMDB), entretanto não concorda com o projeto de extinção da FZB. “Quero dizer que me somo na luta daqueles que querem resistir”, afirmou ele, defendendo a busca de alternativas para manter a instituição em funcionamento. Já o petista Adeli Sell lembrou que o orçamento de R$ 26 milhões “é a dívida de um médio empresário do Rio Grande do Sul”, enfatizando que o Estado deveria combater a sonegação para superar a crise, ao invés de extinguir fundações.

“A FZB é estratégica na pesquisa, na produção e no acervo”, defendeu a líder de oposição na Câmara, Jussara Cony (PCdoB), que foi secretária de Ambiente durante parte do governo Tarso Genro (PT). “É uma proposta criminosa”, acusou ela, acrescentando que o trabalho da fundação foi fundamental na época em que esteve à frente da pasta.

Vereadora do PP, Mônica Leal disse que a extinção da FZB “não traria nenhuma vantagem ao meio ambiente”. “O mundo inteiro só dá passos para frente e não para trás”, justificou ela, sobre medidas para preservação do meio ambiente. Já o petebista Cássio Trogildo destacou que a instituição tem um acervo de pesquisa no Rio Grande do Sul e que deve ser mantida. Ele observou que o projeto enviado à Assembleia não esclarece o destino do patrimônio da fundação que, segundo ele, soma R$ 380 milhões. “Isso aqui não é um leilão, sair vendendo”, alertou Trogildo, acrescentando que a bancada do PTB na Assembleia apresentou uma emenda ao projeto com o fim de garantir o remanejamento dos servidores para outros órgãos do Estado em caso de a proposta ser votada.

“A FZB deve ser mantida tal qual existiu até hoje e, ainda, precisa ser ampliada”, pregou o vereador Carlos Comassetto (PT). Já Fernanda Melchionna  frisou que a extinção das fundações “é inaceitável”. A parlamentar disse que os vereadores sabem das dificuldades financeiras do Estado e que seu partido defende o combate à sonegação e a suspensão da dívida com a União como medidas para amenizar a crise no governo gaúcho. “É muito importante que a Câmara dê um recado claro”, enfatizou Fernanda, sobre a moção do Legislativo.

PMDB  se absteria de votação

Integrante do partido do governador Sartori, Idenir Cecchim (PMDB) disse que se a moção fosse votada, a bancada peemedebista se absteria da apreciação. Ele defendeu, ainda, uma discussão sobre o trabalho das fundações previstas para a extinção. “O que produz não dá para mexer. Agora, se é só explorar (O Estado) tem de tirar”, avaliou ele, referindo-se ao retorno das instituições ao Estado.  “Isso ainda será bem discutido”, emendou a líder do PMDB na Câmara, Lourdes Sprenger, admitindo que ainda não estava totalmente inteirada com o projeto.

Ao final da sessão, vereador Alex Fraga apresentou uma moção de solidariedade, apoiada pela maioria dos parlamentares, em defesa das  fundações que podem ser extintas|Foto: Matheus Piccini/Câmara de Vereadores
Ao final da sessão, vereador Alex Fraga apresentou uma moção de solidariedade, apoiada pela maioria dos parlamentares, em defesa das fundações que podem ser extintas. Votação deverá ocorrer na quarta-feira|Foto: Matheus Piccini/Câmara de Vereadores

Secretária disse que projeto é ruim

Na manhã desta segunda-feira, os servidores fizeram uma manifestação em frente à Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, quando a titular da pasta, Ana Pellini, falou com os servidores. Na oportunidade, ela admitiu que o projeto não é bom. “O projeto é ruim e temos de rever essa posição”, afirmou a secretária. Ela disse que serão estudadas alternativas para a situação, como a retirada da urgência da votação do projeto ou a apresentação de um substitutivo à proposta original.

Números da Fundação Zoobotânica 

Funcionários – 205, – só três ocupam cargos em comissão

Técnicos de pesquisa – 43  (33 biólogos, 3 engenheiros agrônomos, 3 engenheiros florestais, 2 veterinários, 1químico e 1 paleontólogo

–  70% do quadro técnico possui doutorado

Coleções científicas do Museu de Ciências Naturais – 500 mil exemplares, entre plantas, animais e fósseis

Coleção de plantas vivas do Jardim Botânico – mais de 1.000 espécies e dezenas de milhares de exemplares

Animais do Parque Zoológico – 1.065 animais

Plantel do serpentário – 400 serpentes

Acervo da biblioteca – cerca de 13 mil livros e 1.300 títulos de periódicos científicos


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora