Luís Eduardo Gomes
Diante da crise financeira que resultou em uma queda de cerca de 40% na verba, os organizadores da 61ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, que acontece entre os dias 30 de outubro e 15 de novembro, apresentaram o evento oficialmente nesta terça-feira. Em um ato que contou com a participação do patrono Dilan Camargo e representantes da Prefeitura e do Governo do Estado, os organizadores indicaram que esta edição tentará equilibrar uma necessária redução de gastos e a manutenção da qualidade do evento.
Segundo Marco Cena, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), entidade que organiza a feira, a edição deste ano teve de enfrentar duas grandes dificuldades antes mesmo de ser inaugurada: climática e econômica. “Se nós olharmos para o céu, já dá para ver que essa foi uma das grandes adversidades. Esse tempo nos atrasou totalmente a execução e a implantação da feira. Esse foi um grande problema, sem dúvida nenhuma”, disse Cena, após entrevista coletiva realizada no Memorial do Rio Grande do Sul, na Praça da Alfândega.
Na questão econômica, Cena afirma que a organização da feira foi prejudicada porque muitos patrocinadores demoraram para se comprometer a apoiar o evento. Além disso, houve uma redução considerável na verba angariada. Segundo Cena, a edição do ano passado foi realizado com cerca de R$ 3 milhões. Já para este ano, ele diz que o orçamento foi sido reduzido para cerca de R$ 1,8 milhão.
“Esse ano, nos preparamos desde o início para fazer um evento com menor custo, já sabendo que o cenário seria dificultoso”, diz, acrescentando, porém, que a organização buscou reduzir custos estruturais, e não diminuir o conteúdo da feira. “Nosso foco sempre foi preservar a qualidade e o conteúdo, principalmente o motivo maior da feira, que é a formação de leitores. Tivemos economia em quê? vocês vão ver que a praça está um pouco menor, as coberturas ficaram menores. O tamanho físico não é o mesmo do ano passado. Nós fizemos readaptações, juntamos mais os expositores e os patrocinadores. Então, essa redução já nos deu algum respiro. Fizemos muito mais alterações nesse aspecto físico e decorativo. Tiramos verba daí”.
Já com a expectativa de que a próxima edição também enfrentará dificuldades financeiras, a CRL irá promover uma campanha de apoio junto ao público para conscientizar de que cada pessoa pode doar até 6% do Imposto de Renda para projetos culturais.
Convite para pensar
Na coletiva desta manhã, também foram apresentados o novo site da feira e a campanha publicitária de promoção do evento, que tem o tema “Livros ajudam a pensar”. “Você é contra ou a favor da maioridade penal? O que você pensa sobre a descriminalização das drogas? Já leu sobre homofobia e união homoafetiva para dar uma opinião com profundo conhecimento sobre o tema?”, questiona a peça.
Segundo Luiz Coronel, ex-patrono da Feira do Livro e diretor da Agência Matriz, responsável pela peça, o objetivo foi captar o sentimento de angústia, não apenas a felicidade consumista que marca a publicidade atual, “onde as crianças não passam de consumidores de iogurte”. Ele ainda acrescentou que o objetivo de apresentar perguntas em vez de apenas afirmações na peça foi de convidar o público a “pensar na feira”.
Patrono da edição deste ano, o escritor Dilan Camargo, saudou a escolha do tema. “Um País como o nosso precisa colocar o pensamento no centro da tomada de decisões”, disse. “As nossas elites culturais nunca pensaram em construir uma nação, enquanto as grandes fortunas sempre doaram para construir universidades”, complementou.
Aluno de Camargo no Colégio Anchieta, o secretário de Educação do Estado, Vieira da Cunha, afirmou que, dadas as dificuldades enfrentadas, esta edição já pode ser considerada a “feira da superação”. Ele também comentou a importância do caráter educativo da feira, especialmente em um momento em que a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) apontou que os alunos do 3º do Ano do Ensino Médio do Estado têm os piores índices de alfabetização da Região Sul e apresentam muitas dificuldades de matemática, mas também na leitura, interpretação de texto e escrita. “Que as nossas crianças possam tomar essa feira, possam devorar os livros”.
Começa nesta sexta
A 61ª edição da Feira do Livro abre as portas no dia 30 a partir das 9h30, com a abertura das barracas da Área Infantil. Às 12h30, serão abertas as barracas das áreas Geral e Internacional. A cerimônia oficial de abertura será realizada às 19h, no Teatro Carlos Urbim.
Uma das principais atrações da 61ª edição da Feira do Livro será a programação musical, que terá discussões sobre a “literatura musical” e contará com a participação de Renato Borghetti. Kleiton & Kledir, Alceu Valença e Vitor Ramil.
Outro destaque da feira do livro é o evento “Tu, Frankestein 4”, que consiste em cinco debates sobre o medo na literatura de terror, suspense e fantasia e culmina com uma maratona, entre sábado (7) e domingo (8), de escrita criativa em que os participantes terão de escrever contos fantásticos, a serem publicados em um livro lançado na próxima feira. Este ano, será a autografada a coletânea produzida em 2014. Participarão deste evento o norueguês Gard Sveen, a finlandesa Leena Letholainen, o francês Caryl Férey e outros autores nacionais da área.
No dia 14, a partir das 16h, também será realizado um painel de debates do programa Cultura e Pensamento, que irá discutir temas como a descolonização, a formação de identidades culturais e a influência das imigrações, antigas e contemporâneas.
Ao todo, serão 700 sessões de autógrafo, 300 atividades para crianças, jovens e professores e outras 145 paralelas do evento. Também estão previstos 227 encontros com autores, 48 programações artísticas, 24 oficinas e a participação de autores da Noruega, Finlândia, França, Alemanha, Espanha, Argentina, Inglaterra, Estados Unidos, Holanda, Portugal, Israel e Cuba.
