Luís Eduardo Gomes
Você já imaginou estar passando pela Usina do Gasômetro e ser surpreendido por uma onda de lixo? Esta é a ideia da instalação Tampart, montada em uma tenda ao lado do cartão postal de Porto Alegre com milhares de tampinhas de plástico e que poderá ser visitada até o mês de dezembro.
Segundo seu idealizador, o artista visual Ubiratan Fernandes, 57 anos, o objetivo da instalação é chamar a atenção para a degradação e o acúmulo de lixo nos oceanos. “O projeto nasceu por causa da minha preocupação com a degradação dos oceanos”, disse.
Ele conta que o primeiro projeto que desenvolveu com essa temática foi em 2011, na praia de Punta del Este, Uruguai. “Lá tinha uma árvore que decorei com o lixo encontrado na praia”, diz, acrescentando que realizou esse trabalho no país vizinho por três anos consecutivos.
Fernandes cita como uma de suas maiores preocupações o fato de 40% da fauna marinha ter desaparecido nos últimos 30 anos e os oceanos abrigarem grandes manchas de lixo. “No Pacífico, há uma grande ilha de plástico que tem três vezes o tamanho do Estado no RS”, afirma. “Existe uma ignorância e desinformação bem grandes em relação ao problema. Para as pessoas em geral, o pensamento é ‘Uhul, vamos pra praia’ e deixam latinha de cerveja na areia. Todo mundo quer aproveitar e ninguém quer saber de limpar”, complementa.
Para a instalação em Porto Alegre, ele afirma que escolheu uma onda por se tratar de um símbolo que mexe com imaginário de adultos e crianças, dada a grande afinidade que o ser humano tem com o mar. “Tu está caminhando na praia, aí, quando vê, a onda levanta e joga aquela bomba d’água. É justamente nesse momento que o lixo que está flutuando é jogado na areia”, diz.
A onda Tampart foi feita com cerca de 130 mil tampinhas de plástico oriundas de garrafas PET e outros produtos, que foram acumuladas com a ajuda 6 mil crianças de três escolas municipais e duas particulares desde o início de junho. Segundo Fernandes, este projeto de coleta de tampinhas continuará em paralelo à instalação até o dia 10 de dezembro com o objetivo de educar os estudantes a reaproveitarem matérias-primas.”Nós tratamos tudo que consumimos como lixo. É uma forma errada de enxergar essas matérias-primas. Um jeans velho ou uma lata de refrigerante”, diz.
Como o processo de construção da onda levou mais de três meses e pode ser acompanhado pelas páginas do projeto nas redes sociais, Fernandes conta que, além dos estudantes, também recebeu tampas de várias partes do país e até da Rússia. “Vieram de tudo que é lugar. É um projeto que tem um fator motivacional importante”, conta.
Se a idealização foi de Fernandes, coube a Marcelo Augusto Brum da Silveira montar a obra. Ele conta que trabalhou na construção d instalação nos últimos três meses e meio. Contando com a ajuda da esposa, Daniele, e de um ajudante, Gilson Silva, precisou furar e aparafusar todas as 58 mil tampinhas colocadas no chão, que simboliza a praia. Já as mais de 70 mil tampinhas que estão na parte da onda precisaram ser cortadas e unidas por fios.
Segundo ele, a instalação tem 9 metros de comprimento, 6 m de largura e 2,6 m de altura. Ele diz que o colorido da parte que fica no chão não foi planejado com antecedência, mas criado à medida em que foram recebendo as tampinhas. “Assim que foram chegando as [tampinhas] coloridas, nós fomos articulando o desenho dela”, diz, acrescentando que a ideia é que apenas as crianças possam subir “na praia”.
Apesar de a onda já estar visível a algumas semanas, a exposição Tampart foi inaugurada oficialmente na última quarta-feira (30). Ela estará aberta para visitação de terça a domingo, das 11h às 19h, até o dia 10 de dezembro.
Nos sábados, entre 15h e 17h, serão realizadas oficinas livres de arte para crianças, em que poderão desenvolver artes próprias com tampinhas magnetizadas sobre uma placa de metal. Para reforçar a ideia de sustentabilidade, não será permitido levar nada para casa, apenas fazer um registro fotográfico.
De noite, a onda ganha uma iluminação especial. Também há um sistema audiovisual que passará cerca de 60 vídeos para ajudar a conscientizar os visitantes sobre os estragos causados pelo descarte impróprio de lixo e a necessidade de adoção de práticas sustentáveis.