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27 de junho de 2015
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23:05

A Conquista do Fim do Mundo Parte V: Um mundo de água e gelo

Por
Sul 21
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Por Mogli Veiga
Especial para o Sul21

Depois de passar dois dias na companhia de Fitz Roy, El Chatén para os íntimos, era hora de retomar nosso caminho. O destino ainda era a busca dos campos gelados. Isto nos levaria à cidade de El Calafate, situada às margens do Lago Argentino.

O nome El calafate provém de um arbusto espinhoso, nativo da Patagônia argentina e chilena, chamado calafate. É uma fruta de cor azul-violeta com que se produz: doces, geleias, sorvete e licor. Diz a lenda de quem come qualquer produto derivado do calafate sempre volta à região.

O(s) pé(s) de calafate (AS)
O(s) pé(s) de calafate (AS)

El Calafate é a cidade mais próxima do Parque Nacional Los Glaciares, onde estão localizados os principais glaciares que tem origem no Campo de Gelo Sul. É a terceira maior extensão de gelo continental do mundo, depois da Antártida e da Groenlândia. A figura a seguir mostra a localização dos Campos de Gelo da Patagônia. E nós estávamos indo em busca dessa aventura, em busca dos rios de gelo, os glaciares.

Os Campos de Gelo da Patagônia (MV)
Os Campos de Gelo da Patagônia (MV)

Glaciar, segundo a definição, é uma extensa e espessa massa de gelo formada pela acumulação da neve que precipita durante o inverno e vai se acumulando, cristalizando e se compactando sobre as montanhas e nos vales que as circundam. Essa massa se desloca lentamente em função da gravidade e do relevo baixo, provocando erosão e carregamento sedimentos. O gelo ao encontrar as zonas mais baixas e mais quentes se quebra e derrete, formado lagos.

O movimento dos glaciares assumem características geológicas chamadas morenas. Nas suas partes laterais encontram-se as cristas ou depósitos de fragmentos de rocha que são transportados pelo movimento do glaciar. Os vales assumem uma forma de U e na franja da geleira há o derretimento do gelo, provocando uma ruptura nessa massa compacta fazendo com que grandes blocos de gelo caiam na superfície do lago.

O gelo se rompendo no Glaciar Upsala (AS).
O gelo se rompendo no Glaciar Upsala (AS).

Na região de El Calafate encontram-se os principais glaciares formados pelo gelo do Campo de Gelo Sul.

O maior glaciar é o Pio XI ou Brüggen localizado na zona austral do Chile, com extensão de 64 km e superfície de 1.265 km2. O segundo maior glaciar é o Viedma, cuja superfície é de 977 km2 e tem 2,5 km de largura. Está localizado em zona de litígio entre o Chile e a Argentina. Está situado no lado oposto ao glaciar Pio XI. Sua nascente está a sudeste do Vulcão Lautaro desembocando no Lago Viedma, Argentina.

Na região de El Calafate, estão situados outros grandes glaciares formados pelo Campo de Gelo Sul.
O maior deles é o Upsala, com uma extensão de 53,7 km, desembocando no Lago Argentino. Seu nome se deve ao fato da Universidade de Uppsala, Suécia, ter realizado o primeiro levantamento da região no século XX.

Glaciar Upsala (MA).
Glaciar Upsala (MA).

O glaciar Seco com uma superfície de 4 km2 , encontra-se em retrocesso e pode-se divisar a língua de terra deixada pelo seu recuo. Desagua no braço Spegazzini no Lago Argentino.

Glaciar Seco (AS).
Glaciar Seco (AS).

O glaciar Spegazzini é outra geleira limítrofe entre o Chile e a Argentina. Ele nasce no Chile e desemboca no braço Spegazzini, no Lago Argentino. Possui 66km2 de superfície e uma largura média de 1,5 km. Destaca-se pela altura de sua franja com 135 m, sendo o mais alto do Parque Nacional Los Glaciares. Seu nome foi em homenagem ao botânico Carlos Luiz Spegazzini, o primeiro a estudar a flora local.

Glaciar Spegazzini (AS).
Glaciar Spegazzini (AS).

O mais conhecido da região é o glaciar Perito Moreno que nasce na fronteira nasce na fronteira Chile e Argentina e desemboca no braço sul do Lago Argentino. Possui em torno de 5 km de largura e uma franja de 60 m de altura. Seu nome é uma homenagem a Francisco Pascasio Moreno, pesquisador da região austral argentina e um dos responsáveis pela delimitação da fronteira chilena argentina.

É famoso pelas quedas dos blocos de gelo que se rompem da franja desabando no lago, provocando estrondos e grandes ondas nas águas do mesmo.

Glaciar Perito Moreno (MV).
Glaciar Perito Moreno (MV).

Estando na região de El Calafate, não se poderia deixar de conhecer esses glaciares. Para tanto, fizemos uma navegação no Lago Argentino, partindo de Puerto Bandeira, navegação esta que permite navegar entre icebergs do glaciar Upsala, ver as geleiras de Upsala, Seco e Spegazzini, além de beber um uísque de 8 anos com gelo de mais de 700 anos retirado dos icebergs que se desprendem do glaciar.

Navegando entre os icebergs do Upsala (MA).
Navegando entre os icebergs do Upsala (MA).
O gelo azul do iceberg (MV).
O gelo azul do iceberg (MV).

Também fomos ao Perito Moreno, onde a partir de instalações seguras, como passarelas e mirantes, pode-se observar a imponência de glaciar, ouvir o gelo se rompendo e o estrondo dos blocos caindo na superfície do lago.

Também é possível caminhar sobre a geleira, com uso de sapatos com grampos e roupas adequadas em companhia de guias especializados e treinados. Entretanto, o esporte mais radical permitido para a equipe da Conquista do Fim do Mundo, era subir escada de dois em dois degraus, até o primeiro lance. Não poderíamos correr o risco de acidentes e ter que abortar a expedição.

O dia foi intenso e seu final ainda reservava surpresas como o Glaciarium (www.glaciarium.com) um museu interativo que mostra tudo sobre os glaciares, desde a sua formação, seu desenvolvimento ao longo de milhares de anos e seu estágio atual (ver: https://youtu.be/iYfMegL78N0). Vale a visita. Depois de tudo um happy-hour no Glaciobar, um bar todo em gelo com serviço de bebidas inclusas no ingresso.

Final feliz no Glaciobar (MV).
Final feliz no Glaciobar (MV).

Ainda não acabou. Com a equipe estafada, voltamos a Hosteria Perito Moreno em que estávamos hospedados e assamos um cordeiro patagônico acompanhado de um merlot, confraternizado com a proprietária e um casal de jovens: um a uruguaia e um polonês.

Dia seguinte: embarque na Nau Solitária e navegação até o próximo destino, O Chile austral. Nos caminhos do fim do mundo: Torres Del Paine.

Faz-se necessário um breve comentário sobre Francisco Pascasio Moreno. A fronteira entre o Chile e Argentina era discutida a partir dos cursos d´água que nasciam na Cordilheira dos Andes, ou seja, ela seria demarcada a partir das nascentes desses rios. Os que corriam em direção ao Atlântico, as terras na direção do seu curso pertenceriam à Argentina e, caso contrário, os que corriam em direção ao Pacífico, da mesma forma pertenceriam ao Chile.

Acontece que havia rios que nasciam e corriam em direção a um oceano específico, davam volta e passavam a correr em sentido contrário. Neste momento Perito Moreno propôs a demarcação da fronteira tendo como base os picos mais altos da Cordilheira. São por esses motivos que as montanhas mais altas da Cordilheira dos Andes encontram-se na fronteira entre os dois países. Por este motivo Perito Moreno tornou-se um herói respeitado na Argentina. Quando Perito Moreno faleceu foi enterrado na Ilha no Lago Nahuel Huapi em San Carlos de Bariloche.

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Cenas do próximo episódio:
A Conquista do Fim do Mundo, Parte VI – Os Cornos do Chile

Créditos das fotos:
AS – Antônio Sergio Lima
MA – Marcus Anflor
MV – Mogli Veiga


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