Débora Fogliatto
Há alguns meses, circularam pelas redes sociais imagens do laguinho do Largo dos Açorianos, no centro de Porto Alegre, completamente seco, com centenas de peixes mortos no lodo. Além do mau cheiro no local, a imagem causou estranhamento e revolta na população, que não sabia os motivos do acontecido. Desde então, o lago permanece seco, com eventuais máquinas trabalhando nele, e a maior parte dos moradores e trabalhadores da região segue sem saber os motivos da ação.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam) esclareceu, por meio de sua assessoria de imprensa, ter sido a responsável pelo esvaziamento, para realizar uma revitalização. “Até o dia 20, vamos fazer a análise da condição da ponte para saber o que precisa ser feito e depois vão ser tomadas as medidas cabíveis”, informou o órgão. A intervenção acontece desde o dia 24 de fevereiro. Inicialmente, foi removida água, que, de acordo com a Smam, estava bastante poluída.
A decisão de esvaziar o lago foi tomada depois de uma manifestação do Ministério Público, que exigiu vistoria nas condições estruturais da Ponte de Pedra. Para os peritos poderem fazer a avaliação, foi preciso drenar o lago, o que a secretaria realizou em parceria com o Departamento Municipal de Águas e Esgotos.
Sem água, não havia como manter os peixes que viviam no lago. As espécies nativas foram transferidas para o Guaíba. Porém, os peixes de espécies exóticas não podem ser reinseridos no meio ambiente, de acordo com a Smam, e acabaram morrendo, ocasionando mau cheiro no local. Inicialmente, estava previsto que a limpeza levasse cerca de 30 dias e, depois, o lodo fosse removido. A retirada, iniciada há cerca de um mês, está prevista para demorar mais 40 dias. O lodo será transferido para o Aterro de Minas do Leão.
Confusão e falta de informações
A população que trabalha perto do local e pega ônibus ali ou frequenta o Largo demonstrou desconhecer os motivos do esvaziamento. “Eu passo por aqui de vez em quando e percebi que esvaziaram. Mas está uma incógnita, a população não sabe o que pretendem”, apontou o funcionário dos Correios Acilmar Melo, acrescentando que observou que estava muito poluído antes da intervenção.
Da mesma forma, o auxiliar de gabinete Nilton Freitas, que pega ônibus no local diariamente, também não sabia o motivo da obra. “Antes era sujo, mas agora continua cheio de lixo, só que sem água. No início, vi gente limpando. Depois, nunca mais”, contou. Na terça-feira (9), podia-se ver o lodo retirado acumulado nas bordas — como previsto pela Smam — mas havia também muito lixo ao redor. O lago tinha um pouco de água em razão da chuva intensa que caiu na cidade alguns dias antes.
A supervisora de arquivo na Catedral Metropolitana Isete Bampi afirma que “todo mundo reparou” no esvaziamento do lago. “Disseram que estão fazendo drenagem, alguma coisa assim. Eu soube pelo boca a boca mesmo, ninguém avisou oficialmente”, afirmou, questionando os métodos empregados. “Será que vão fazer isso logo? Precisavam esvaziar antes e depois fazer esse estudo?”, apontou.