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4 de junho de 2015
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18:19

Iniciativa monta ‘loja’ com roupas doadas para pessoas em situação de rua

Por
Sul 21
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Foto: Divulgação/ Street Store
Projeto começou na África do Sul em 2014 | Foto: Divulgação/ Street Store

Débora Fogliatto

Uma loja que ofereça diversas opções de roupas para quem raramente tem a oportunidade de escolhê-las ou comprá-las. Esse é o propósito da Street Store, que oferece vestimentas gratuitas à disposição de pessoas em situação de rua, que poderão optar por quais peças gostariam de usar. Em Porto Alegre, o projeto acontece neste sábado (6), na Praça Júlio Mesquita.

A iniciativa surgiu na Cidade do Cabo, África do Sul, no ano passado e, desde então, já aconteceu em mais de 200 cidades em todo o mundo. “A Bruna viu o vídeo da ação realizada na Cidade do Cabo e compartilhou comigo. A Paola viu também e quis participar e, paralelamente, a Mely me mandou o mesmo link também propondo que a gente fizesse aqui”, conta Luísa Fedrizzi, uma das organizadoras, acrescentando que foi “uma transmissão de pensamento”.

As quatro jovens começaram então a organizar a proposta, entrando no site do Street Store e se inscrevendo para promover o evento na cidade. “O projeto é em Creative Commons, mas requer que eles deem autorização. Além disso, eles mandam todos os materiais gráficos já prontos para serem impressos, traduzidos para língua da pessoa, o que é uma forma legal de manter a identidade do projeto no mundo todo, e também facilita para quem realiza localmente”, relata Luísa, que tem 28 anos e trabalha como estrategista de comunicação.

Foto: Divulgação/ Street Store
Em São Paulo, evento aconteceu em maio do ano passado | Foto: Divulgação/ Street Store

Diversas lojas e serviços entraram em contato com as organizadoras para ser ponto de coleta ou fornecer algum tipo de apoio. A estética Cubo, por exemplo, se ofereceu para fazer a barba e cortar o cabelo dos que desejarem. “Os pontos de coleta são locais que nós frequentamos, ou de amigos e conhecidos, que viram nossas divulgações e disponibilizaram seus espaços para concentrar as arrecadações”, explicou Mely Paredes, que é relações públicas, DJ e estudante de Políticas Públicas.

Elas comemoram que têm recebido muitas manifestações de apoio por parte da população em geral. “Acho que muitas vezes a gente tem vontade e intenção mas não sabe como começar a ajudar. Temos visto muito isso, as pessoas nos mandando mensagens querendo ajudar”, relatou Bruna Holderbaum, modista de 28 anos.

A ideia é uma maneira de “resgatar um pouco a auto-estima” das pessoas em situação de rua, conforme definiu Mely. “As pessoas em situação de rua, assim como outros grupos, vivem uma espécie de morte social. Quase ninguém pensa nos direitos que constantemente negamos a eles. Assim como nós, eles possuem uma série de direitos, e com essa ação vamos poder devolver pelo menos um deles: o direito de escolha”, apontou, destacando que elas não deslegitimam outros tipos de doações, mas entendem a importância de que eles tenham opções.

Foto: Divulgação/ Street Store
Na capital paulista, foi possível reunir 700 peças de roupas | Foto: Divulgação/ Street Store

“O legal desse projeto é justamente oferecer esse momento de dignidade e empoderamento paras pessoas em situação de rua. Isso é uma sutileza da experiência que pouca gente se dá conta. O vestir também é expressão de individualidade, e pouco importa onde as pessoas moram para que isso possa ser relevante”, problematizou Luísa.

Apesar de não ter trabalhado diretamente com pessoas em situação de rua, ela participa ou realiza brechós e bazares desde 2008, propondo o reaproveitamento, inclusive de roupas. “Participar desse projeto tem muito sentido para mim porque, além de propor essa vida mais longa às roupas, que podem ser usadas por outras pessoas, também propõe um olhar para um público que é ignorado em todas as esferas”. Da mesma forma, a cineasta e cozinheira Paola Salerno Troian, de 25 anos, já estava envolvida com uma instituição filantrópica e “se apaixonou” quando tomou conhecimento do Street Store.

Já Bruna contou que seu interesse pelo assunto foi cultivado pela mãe, que é assistente social. “Minha mãe fazia muito trabalho voluntário quando era criança e quis seguir isso como profissão. Então eu tento seguir esse exemplo”, conta. Para Mely, a vontade de ajudar também veio desde a infância, quando já costumava fazer doações para os mais necessitados e, a partir daí, começou a ajudar uma ONG na Zona Sul sempre que possível. “Mas eu sempre tive vontade de ajudar, fazer algo maior, mas de forma independente, sem vínculos partidários, religiosos ou institucionais”, afirma.

Foto: Divulgação/ Street Store
Em Belém do Pará, evento aconteceu em junho de 2014 | Foto: Divulgação/ Street Store

Contato com o público

Embora o evento seja organizado via redes sociais, os principais interessados muitas vezes não têm acesso a esses meios. Por isso, as organizadoras entraram em contato com diversas instituições que atendem pessoas em situação de rua, assim como a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) de Porto Alegre e visitaram a Escola Porto Alegre (EPA), que atende essa população. “Nós estamos entrando em contato direto com eles, achamos tão importante quanto eles poderem escolher as roupas e viverem uma experiência ‘de loja’, eles serem pessoalmente convidados”, afirmou Mely.

Bruna e Paola foram à EPA, onde participaram de uma reunião do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR). “Eles acharam boa a ideia e nos deram muitas dicas de como organizar melhor”, relatou Bruna. “Os diretores da escola estarão presentes no dia do evento e vão fazer um bate-papo sobre a situação das pessoas que estão nas ruas. Toda esta divulgação que estamos fazendo também tem o propósito de levantar o debate sobre a assistência que damos a estas pessoas, não somente nas épocas de campanha do agasalho, mas o ano todo”, complementou Paola.

Foto: Divulgação/ Street Store
Ideia é que pessoas possam escolher as roupas que lhes interessam | Foto: Divulgação/ Street Store

As jovens pretendem, após o evento, dar continuidade à ação, atendendo outras regiões de cidade de forma periódica. Para isso, elas fizeram um mapeamento de albergues, abrigos, lares e organizações de Porto Alegre que atendem pessoas em situação de rua e os contataram. “Todos se mostraram muito entusiasmados com a iniciativa e querem participar”, comemorou Paola.

O evento

As doações de roupas, calçados e acessórios estão sendo arrecadadas nos locais parceiros e os itens mais necessários são roupas e sapatos masculinos. O ideal é que as doações sejam feitas até esta sexta-feira (5), para que haja tempo para organizar a loja no sábado (6). O evento acontece na Praça Júlio Mesquita, em frente à Usina do Gasômetro, das 10h às 17h.

Parceiros/ locais de doações:
Insecta Shoes (rua Lima e Silva, 1519)
VULP (rua Bento Figueiredo, 78)
PP Acessórios (rua Dinarte Ribeiro, 18)
Galpon (rua Alcidez Cruz, 398)
Area 51 (av. Lucas de Oliveira, 894)
Maria Xica (Shopping Total e Av. Protásio Alves, 593)
Bar Ocidente (rua Osvaldo Aranha, 960)
Casa De Teatro De Porto Alegre (rua Garibaldi, 853)
Sinners (rua Lima e Silva, 426)
Beco Produtora (rua João Alfredo, 483)
Margot (rua João Alfredo, 577)
Bravo Model (av. Benjamin Constant, 1440 – sobreloja)
Quincy Store (rua Vinte e Quatro de Outubro, 506)
Astro (av. Goethe, 141)
Studio Q (Rua Dr. Timóteo, 395)
Groovaholic (rua Miguel Tostes, 263)
Festa VooDoo
Cucko (rua Lima e Silva, 1037)
Casa do Lado (Rua da República, 546)


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