Areazero
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20 de agosto de 2016
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12:05

Coronel aposentado, vice de Dziedricki diz que problema da segurança não é ‘falta de polícia’

Por
Luís Gomes
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15/08/2016 - PORTO ALEGRE, RS -Entrevista com vice-candidato a Prefeitura pelo PR, Coronel Bonete. Foto: Maia Rubim/Sul21
Coronel Bonete recebeu o Sul21 na sede do PR no Centro de Porto Alegre | Foto: Maia Rubim/Sul21

O Sul21 publica, desde quarta-feira (17), os perfis dos candidatos a vice-prefeito e vice-prefeita de Porto Alegre. Confira aqui a matéria com Pedro Ruas, aqui o perfil de Silvana Conti e aqui o de Juliana Brizola

Luís Eduardo Gomes

Ao longo de 35 anos, Arlindo Bonete vestiu a farda da Brigada Militar. Em uma longa carreira, chegou ao posto de comandante do policiamento da Capital nos anos 1990. No entanto, é em sua carreira como político que ele busca a vivência para dizer que a solução para os problemas de segurança da cidade não passam pela falta de policiamento, mas pela falta de enfrentamento das causas, como, por exemplo, a questão habitacional.

Natural de Dom Pedrito, Bonete chegou a Porto Alegre aos 17 anos, quando entrou na Brigada. Em fevereiro de 1996, assumiu o Comando de Policiamento da Capital (CPC), onde permaneceu até janeiro de 1999. Em 2001, se aposentou.

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A aposentadoria abriu as portas para que ele entrasse para a política, caminho que evitava enquanto estava na ativa, mesmo tendo o interesse. “Como eu tenho uma atividade profissional que me impedia a participação mais ativa politicamente, durante o tempo que estive na ativa na Brigada Militar, eu não me envolvi com a política, mas não sou apolítico”, diz Bonete.

O primeiro passo após a aposentadoria, porém, foi aguardar. Ele conta que trabalhou inicialmente em uma seguradora e, somente em 2007, quando surgiu um convite do PR, entrou na política. Por que o PR? “Não é um partido de direita ou de esquerda, é um partido de centro que segue ideias. É um partido que permite convivência com os outros, sem que tenha atritos, dependendo daquilo que o estatuto prega”, defende.

15/08/2016 - PORTO ALEGRE, RS -Entrevista com vice-candidato a Prefeitura pelo PR, Coronel Bonete. Foto: Maia Rubim/Sul21
Bonete foi candidato a vice pela Frente Popular em 2012 | Foto: Maia Rubim/Sul21

Primeira candidatura

A campanha ao lado de Maurício Dziedricki (PTB) não será a primeira tentativa do Coronel Bonete de chegar à Prefeitura de Porto Alegre. Em 2012, ele formou a chapa da Frente Popular encabeçada pelo deputado estadual Adão Villaverde (PT).

A chapa ficou na terceira colocação. Desse período, Bonete diz que aprendeu mais sobre a cidade e conheceu a sua verdadeira face, aquela que não se vê quando se passa de carro pelas grandes avenidas.

“Eu vi que Porto Alegre tem comunidades que vivem uma situação de miserabilidade muito grande, sem condições de convivência até como ser humano. Se tu passa numa avenida e tem uma vila atrás dela, tu não sabe o que está acontecendo ali e a forma como essas pessoas vivem sem o mínimo de dignidade humana. Isso nos chocou muito, nos bateu. Vai te fazendo crescer como ser humano, ver o que está acontecendo e que tu precisa lutar por uma Porto Alegre melhor”, afirma.

Apesar da longa experiência nas ruas pela Brigada, Bonete diz que conhecer a realidade desta Porto Alegre “escondida” fez com que mudasse algumas de suas posições, que, segundo ele mesmo, eram “muito acadêmicas” a respeito dos problemas da cidade e da sociedade.

“Mudou as minhas ideias porque eu vivi 35 anos com a atividade de polícia, vendo o ser humano e a sociedade sob um enfoque. Como político, tu começa a ver o outro lado da sociedade. Tu vê que a polícia tem que ter participação na comunidade, que a comunidade tem necessidade de convivência com a polícia, com os poderes e esses são muito afastados da sociedade”, afirma.

Uma das mudanças de posição foi justamente sobre a forma como encara os problemas da segurança pública. “Nós falamos de segurança e sempre relacionamos à falta de polícia. Polícia não é o problema da segurança, polícia vai ser uma consequência. Quando não tem mais solução, chama a polícia, nós temos que trabalhar para que não precise chamar a polícia”, diz.

Para melhorar a segurança na cidade, Bonete diz então que é necessário justamente atacar as causas da violência, a desigualdade social, problemas como a falta de dignidade humana e a moradia.

“Segurança é instalação elétrica, são os esgotos, a instalação hidráulica, tudo isso tem que ajudar para que a comunidade possa saber que não precisa recorrer a outros meios porque o município está dando o retorno que eles precisam”, diz. “Eu vi comunidades que convivem junto com esgoto, cano de água que puxa de forma irregular jorrando. Se sai água daquele cano, as pessoas usam. E isso tu não vê no dia a dia. Aí se fala em segurança e se pensa em polícia, mas não é só polícia. A segurança é o dia a dia da comunidade que tu tem que pensar. Como tu pode ajudar essa comunidade para que ela possa ter uma vida mais digna? Não é só dizer que vamos aumentar o policiamento”, reforça.

15/08/2016 - PORTO ALEGRE, RS -Entrevista com vice-candidato a Prefeitura pelo PR, Coronel Bonete. Foto: Maia Rubim/Sul21
Bonete avalia que o problema da segurança pública da Capital só será resolvido se causas forem atacadas | Foto: Maia Rubim/Sul21

Dentro dessa linha, ele diz que é equivocado tratar a questão das ocupações irregulares como casos de polícia, com grandes operações montadas na cidade. “Isso é um erro muito grande, porque nós não combatemos as causas, apenas os efeitos, e a polícia passa a ser a solução. Não nos preocupamos de onde vieram aquelas pessoas e para onde elas irão. O que ocorre? Nós não trabalhamos com essas causas, mas usamos a polícia. Aí criamos a figura antipática de que a polícia sempre vai resolver. Os mesmos que mandam a polícia em alguns momentos vão criticar. Na verdade, temos que trabalhar para que aquilo não aconteça, aí temos que buscar quais são as causas”, afirma.

A aliança com o PTB

Em maio deste ano, o vereador Rodrigo Maroni, que milita como defensor da causa animal, se lançou como pré-candidato à Prefeitura pelo PR. Com 42 deputados federais, porém, o partido aparecia como uma importante peça do tabuleiro eleitoral e, após disputas internas motivadas pela chegada do deputado federal Giovani Cherini à presidência da sigla, foi definido o abandono da candidatura própria e a negociação de uma aliança.

“Nós tínhamos uma previsão de um pré-candidato a prefeito, que é natural de partidos que querem crescer, precisam ter candidato a prefeito e a governador. Mas temos que ver a realidade de cada partido. Só lançar para fazer nome não vai adiantar. Apesar de ter aparecido na mídia, houve um consenso que o nosso candidato a prefeito seria candidato à reeleição para vereador, porque nós precisamos ter candidatos na Câmara de Vereadores”, explica Bonete.

Após conversas com diversos candidatos – incluindo Sebastião Melo (PMDB), Nelson Marchezan Jr. (PSDB) e Vieira da Cunha (PDT), que viria a desistir da disputa -, o PR acabou optando por fechar com o petebista Maurício Dziedricki.

“Vejo o Maurício como uma pessoa nova, com vontade de trabalhar, que não tem ranços passados. Porto Alegre tem muito a ganhar com ele”, diz Bonete sobre seu companheiro de chapa.

Firmada a aliança, Bonete foi anunciado como candidato a vice. “Eu não tinha, inicialmente, nenhuma intenção de concorrer. Não estava disputando nem para vereador, nem para vice-prefeito. Mas eu recebi de muito bom grado essa indicação, é mais interessante para o crescimento do partido do que pessoalmente”, pondera.


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