Futuro Sustentável|z_Areazero
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3 de maio de 2015
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12:22

Nova unidade da Celulose Riograndense entra em operação

Por
Sul 21
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Apontado como o maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul – cerca de 2,2 bilhões de dólares -, o projeto de ampliação da fábrica, segundo a empresa, terá um impacto positivo de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.  Foto: Guilherme Santos/Sul21
Apontado como o maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul – cerca de 2,2 bilhões de dólares -, o projeto de ampliação da fábrica, segundo a empresa, terá um impacto positivo de 1,1% no Produto Interno Bruto do Estado. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Marco Weissheimer

“Acredito que entre 80 e 90% das fábricas de celulose instaladas nos Estados Unidos seriam fechadas se fossem obrigadas a adotar os mesmos padrões ambientais e procedimentos de segurança que estamos usando aqui”. A afirmação é do diretor presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes, que recebeu um grupo de jornalistas na última quinta-feira (30), na sede da empresa, em Guaíba, para apresentar os detalhes da nova unidade da fábrica que entrará em operação neste domingo (3) por volta das 19 horas. Segundo o executivo, a Linha 2 do complexo industrial está entre as cinco ou seis fábricas de celulose mais modernas do mundo, com tratamento primário, secundário e terciário de efluentes, reciclagem de 99,7% dos resíduos sólidos e geração da própria energia, entre outras inovações.

O momento de partida da operação da nova unidade, conforme explicou Walter Lídio Nunes, está previsto para o início da noite de domingo quando for ligado o transportador na pilha de cavacos e iniciar o processo de cozimento da madeira. A partir daí, inicia-se um processo de várias etapas que dura pelo menos dois dias até se chegar ao produto final. Com a entrada em operação da unidade, inicia-se também um período chamado de “curva de aprendizado”, que inclui ajustes, testes e aperfeiçoamentos do processo produtivo. “Passamos por essa curva para atingir a capacidade nominal de produção da planta que é de 1,750 milhão de toneladas/ano de celulose fibra curta no final de 2015. Esse período deve durar seis meses (antigamente levava em torno de um ano), mas vamos tentar encurtar esse tempo o máximo possível. A partir daí, entramos em ritmou de produção”, assinalou o presidente da empresa.

O presidente da Celulose Riograndense, Walter Lidio Nunes, recebeu um grupo de jornalistas na última quinta-feira (30), na sede da empresa, em Guaíba, para apresentar os detalhes da nova unidade. Foto: Guilherme Santos/Sul21
O presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes, recebeu um grupo de jornalistas na última quinta-feira (30), na sede da empresa, em Guaíba, para apresentar os detalhes da nova unidade. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Planta também vai gerar energia

Uma das novidades da nova unidade da Celulose Riograndense diz respeito à produção de energia. A empresa gera energia para abastecer suas atividades utilizando resíduos do processo de produção de celulose que são queimados em uma caldeira, gerando vapor que faz as turbinas funcionarem. Segundo Walter Lídio, o processo de geração de energia deverá começar gradativamente e ir evoluindo conforme a produção for subindo. “Nossa geração de energia elétrica será de 175 megawatts (MW), enquanto nosso consumo será de 141 MW. Esperamos que antes de terminar o período da curva de aprendizado, já possamos disponibilizar para a rede pública cerca de 30 MW, o que é energia suficiente para abastecer uma cidade como Pelotas, com aproximadamente 300 mil habitantes”.

O executivo enfatizou que a nova unidade reúne as melhores tecnologias do mundo, especialmente na área ambiental. “Nós implantamos aqui as melhores tecnologias do mundo para o tratamento de gases, por exemplo, incluímos elementos adicionais de segurança e estabelecemos mecanismos de contingência para enfrentar problemas como um blecaute”. Walter Lídio guarda na memória o problema que ocorreu com a Borregaard na década de 1970, pois era estagiário na empresa, na época, quando iniciou sua carreira no ramo da celulose. Inaugurada em 1972, no mesmo local onde está instalada hoje a Celulose Riograndense, a Borregaard teve vida curta e acabou sendo fechada em 1973, devido ao lançamento de efluentes químicos na água e no ar, que causaram grandes protestos, especialmente entre a população de Porto Alegre.

O Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC), da UFRGS desenvolveu o protótipo do Wind Fence, uma gigantesca tela circular de proteção para a pilha de cavacos utilizados no processo de produção da celulose.  Foto: Guilherme Santos/Sul21
O Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC), da UFRGS desenvolveu o protótipo do Wind Fence, uma gigantesca tela circular de proteção para a pilha de cavacos utilizados no processo de produção da celulose.
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Tecnologia da UFRGS contra poeira da madeira

O fato de estar localizada dentro da área urbana do município de Guaíba exigiu a adoção de uma tecnologia especial para reduzir a dispersão de poeira resultante da madeira. O Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), desenvolveu o protótipo do Wind Fence, uma gigantesca tela circular de proteção para a pilha de cavacos utilizados no processo de produção da celulose. Essa pilha circular tem aproximadamente 120 metros de diâmetro e 28 metros de altura e está localizada dentro do pátio da empresa. Além dessa cerca de proteção, a empresa decidiu instalar ainda filtros para captações de pó, canhões de água e chuveiros nas esteiras de cavacos para minimizar a dispersão de poeira no entorno da fábrica.

Walter Lídio também destacou o fato de que a nova unidade reduzirá em aproximadamente 40% o atual consumo de água e terá um dos processos mais modernos do mundo para o tratamento de efluentes. A água utilizada para a produção de celulose é captada do Guaíba. Segundo explicou o presidente da empresa, após sua utilização, a água passa pelos tratamentos primário, secundário e terciário para ser novamente devolvida ao Guaíba. Ainda segundo a empresa, entre as mais de mil fábricas de celulose presentes no mundo, menos de dez utilizam esta tecnologia. O lodo gerado na fabricação da celulose passará por um processo de compostagem e será vendido como fertilizante orgânico, substituindo o uso da terra preta retirada de banhados e matas. Além disso, 99,7% dos resíduos sólidos resultantes da produção de celulose serão reciclados.

A capacidade nominal de produção da planta é de 1,750 milhão de toneladas/ano de celulose fibra curta no final de 2015.  Foto: Guilherme Santos/Sul21
A capacidade nominal de produção da planta é de 1,750 milhão de toneladas/ano de celulose fibra curta, meta que deve ser atingida no final de 2015. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Licença social

Apontado como o maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul – cerca de 2,2 bilhões de dólares -, o projeto de ampliação da fábrica, segundo informou Walter Lidio, terá um impacto positivo de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Cerca de 90% da produção da unidade de Guaíba será exportada para países da América do Norte, Europa e Ásia. Na conversa com os jornalistas, o presidente da Celulose Riograndense relatou algumas resistências que enfrentou desde a época em que apresentou a proposta de ampliação da fábrica de Guaíba. Para vencer essas resistências, ele construiu o que chamou de “licença social”, um processo que envolveu mais de 500 reuniões com a comunidade de Guaíba e de outras cidades, organizações não governamentais, entidades ambientais e governamentais. Conforme explicou o executivo, o projeto só foi tocado em frente porque houve a concordância da comunidade.

Obra de ampliação da unidade de Guaíba durou cerca de dois anos e chegou a contar com 9.700 pessoas trabalhando dentro do canteiro da fábrica. Foto:  Guilherme Santos/Sul21
Obra de ampliação da unidade de Guaíba durou cerca de dois anos e chegou a contar com 9.700 pessoas trabalhando dentro do canteiro da fábrica. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Procedimento similar, acrescentou Walter Lídio, foi adotado no processo interno da obra de ampliação da fábrica, que durou mais de dois anos. “Alguns colegas me chamaram de louco quando decide instalar um escritório do sindicato dos trabalhadores da construção civil dentro da obra. Se houvesse algum problema envolvendo as condições de trabalho na obra eu queria ser o primeiro a saber. O resultado desta decisão foi um fato inédito neste tipo de obra: chegamos a ter 9.700 pessoas trabalhando aqui dentro e não tivemos nenhum tipo de greve”. O que também contribuiu para isso, segundo o executivo da Celulose Riograndense, foi uma inovação no tratamento do tema “segurança no trabalho”.

“Em um determinado momento, sentimos que a segurança ia perder o rumo e aí reestruturamos tudo. O gerente de segurança passou a ter o mesmo status do gerente de construção. Entre engenheiros e técnicos de seguranças, tivemos mais de 100 pessoas trabalhando nesta área. E para se demitir algum técnico de segurança, que muitas vezes são vistos como encrenqueiros pelo pessoal da construção, essa decisão tinha que passar por nós. Essas medidas resultaram em um empoderamento da segurança, o que é uma condição de eficácia para qualquer obra”.

Cerca de 90% da produção da unidade de Guaíba será exportada para países da América do Norte, Europa e Ásia.  (Foto: Divulgação)
Cerca de 90% da produção da unidade de Guaíba será exportada para países da América do Norte, Europa e Ásia. (Foto: Divulgação)

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