Agenda Clandestina
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16 de outubro de 2020
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20:49

Agenda Clandestina: Dia Nacional da Música Popular Brasileira

Por
Sul 21
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Revista Clandestina

No próximo sábado, 17, é comemorado o Dia Nacional da Música Popular Brasileira. A data foi criada pela presidenta Dilma Rousseff e foi escolhida por ser o aniversário de nascimento da primeira compositora popular brasileira: Chiquinha Gonzaga, nascida em 1847, no Rio de Janeiro, responsável pelo hino carnavalesco “Abre Alas”.

A diversidade da música popular brasileira é vasta e vem sendo construída ao longo dos anos até chegar nos moldes que ouvimos hoje. A Agenda Clandestina dessa semana traz uma lista de discos brasileiros que marcaram suas décadas. Importante ressaltar que esta não é uma lista dos ditos melhores discos, mas sim um apanhado de obras que marcaram sua geração. São discos que representam a grandiosidade da música popular brasileira.

A seleção é da produtora multimídia Luiza Padilha*, colaboradora musical da Revista Clandestina, e da repórter Sarah Lima. Confira:

Década de 60

Capa do álbum Os Mutantes. Foto: Divulgação

Os Mutantes – 1968
Por: Os Mutantes

Os Mutantes é o álbum de estréia da banda brasileira de tropicalismo homônima.É considerado um dos mais importantes álbuns da história da música brasileira, por conter um som inovador para a época, misturando elementos da música brasileira com o rock psicodélico e experimental e usando de diversas técnicas de estúdio. Foi classificado em 9° lugar na lista da revista Rolling Stone dos 100 maiores discos da música brasileira.

Gal Costa – 1969
Por: Gal Costa

Primeiro disco solo da cantora baiana, gravado em 1968, o disco foi “segurado” pela Philips após a prisão de Caetano e Gil pelo aparelho repressivo da ditadura militar que governava o Brasil à época, e só foi lançado em março de 1969.
A faixa que abre o álbum, ‘Não Identificado’, é a trilha de abertura do filme nacional ‘Bacurau’, lançado em 2019.

Capa do álbum Tropicalia. Foto: Divulgação

Tropicalia ou Panis et Circencis – 1968
Por: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé – acompanhados dos poetas Capinam e Torquato Neto, e do maestro Rogério Dupra

Esse é um clássico e não poderia ficar de fora. ‘Tropicalia’, resultado de um trabalho de tantos artistas incríveis junto com o Rogério Duprat, é o álbum que se tornou o manifesto musical do movimento Tropicalismo, que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais daquela época. O movimento da tropicália foi para além da música e contou com a expressão de diversos artistas visuais envolvidos, como Hélio Oiticica.

Década de 70

Sonho 70 – 1970
Por: Egberto Gismonti

Compositor, multi-instrumentista, cantor e arranjador brasileiro, considerado um virtuoso da música, Egberto Gismonti lançou seu primeiro álbum, ‘Sonho 70’, no início da década. Como os próximos que gravou, é essencialmente instrumental e bastante experimental, transitando pela música eletrônica, atonalismo, jazz, música indígena e novas experiências rítmicas. Para a colaboradora musical Luiza Padilha, o álbum segue, ao longo de toda a quarentena, sendo um grande aliado de dias difíceis. “Gosto muito da estética sonora, os elementos dando destaque aos arranjos. É incrível, fica a dica!”

Capa do álbum Transa, de Caetano Veloso. Foto: Divulgação

Transa – 1972
Por: Caetano Veloso

Possivelmente este seja o álbum que mais aparece na lista de todos admiradores de música popular brasileira. ‘Transa’ é o segundo disco de Caetano Veloso gravado durante o exílio político em Londres, onde viveu entre 1968 e 1971, mas só foi lançado em 1972, quando ele já estava de volta ao Brasil.

Clube da Esquina – 1972
Por: Lô Borges e Milton Nascimento

Clube da Esquina é um álbum de estúdio produto da reunião de músicos brasileiros conhecidos como Clube da Esquina, liderado pelos cantores e compositores Milton Nascimento e Lô Borges, a quem o álbum foi creditado. Para Luiza Padilha, este é um disco que retrata muito bem o contexto do Brasil daquela época, não só sobre a questão da ditadura, mas também traz a realidade de Minas Gerais, estado onde o grupo foi formado. “É um disco de estreia que é muito surpreendente e muito emocionante”, comenta.

Arthur Verocai – 1972
Por: Arthur Verocai

Arthur Verocai é um artista brasileiro que obteve reconhecimento tardiamente no Brasil. Cerca de 30 anos após o lançamento do álbum que leva seu nome, nos Estados Unidos, alguns rappers começaram a samplear (reutilizar parte de uma gravação de som em outra gravação) músicas dele. E, a partir disso, a obra de Arthur foi se popularizando e só então ele recebeu atenção nacional.

Alucinação – 1976
Belchior

Alucinação é o segundo álbum de estúdio do cantor e compositor brasileiro Belchior, lançado em 1976 pela gravadora PolyGram, através do selo Philips (atual Universal Music). Conta com sucessos que consagraram o cantor, como “Apenas um Rapaz Latino-Americano”, “Como Nossos Pais” e “Velha Roupa Colorida”.

Refavela – 1977
Gilberto Gil

Há mais de quarenta anos, Gilberto Gil lançava o álbum “Refavela”, em 1997. O disco, pertencente à trilogia dos Re — Refazenda (1975), Refavela (1977) e Realce (1979) —, é considerado uma das obras mais marcantes da música brasileira no século 20.

Essa Mulher – 1979
Por: Elis Regina

Essa Mulher é um álbum de estúdio da cantora brasileira Elis Regina, lançado em 1979 pela WEA. Entre as faixas do álbum, a que ganha destaque é o “O Bêbado e a Equilibrista”, um dos maiores sucessos de 1979, que se tornou hino do Movimento pela Anistia. A música composta pela dupla João Bosco e Aldir Blanc de início viria a ser um homenagem ao personagem Carlitos de Charles Chaplin, mas que com o passar do tempo ganhou maior relevância ao contexto social político do país contendo diversos elementos como críticas à ditadura militar, exílio, tortura, etc.
Falando de Aldir Blanc, a Clandestina convidou diversos músicos da cena gaúcha para interpretar canções do artista na série “POA Canta Aldir Blanc’, disponível no nosso Instagram. Nela, Fredi Bessa interpreta uma das maiores canções da MPB, eternizada na voz de Elis Regina, “O Bêbado e a Equilibrista”. Clique aqui para ouvir.

Década de 80

Cores, Nome – 1982
Por: Caetano Veloso

‘Cores, Nomes’ é um álbum de Caetano Veloso lançado em 1982. Tornou-se referência na carreira do cantor, com músicas de sucesso como “Queixa”, “Trem Das Cores”, “Meu Bem, Meu Mal” (anteriormente gravada por Gal Costa) e “Ele Me Deu Um Beijo Na Boca”.

Pra Viajar No Cosmos Não Precisa Gasolina – 1983
Por: Nei Lisboa

‘Pra viajar no cosmos não precisa gasolina’ é o primeiro álbum de Nei Lisboa, lançado de forma independente em 1983. O artista, nascido em Caxias do Sul e morador de Porto Alegre, tem outros dez álbuns lançados ao longo de três décadas de carreira. “Tenho muito apreço pela sensibilidade e as estéticas que o Nei aborda nele, e também, as letras bastante ‘viajadas’ para serem condizentes com o título do álbum”, comenta Luiza.

Cadê as armas? – 1986
As Mercenárias

“Cadê as armas” é um álbum que marcou a cena punk nacional. A banda ‘As Mercenárias’, formada apenas por mulheres, é uma das que representa o movimento Riot Grrrl aqui no Brasil, consolidado apenas nos anos 90. Foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil como o 5º melhor disco de punk rock do Brasil.
Década de 90

Da Lama ao Caos – 1994
Por: Nação Zumbi

Luiza considera esse um dos álbuns mais marcante dos anos 90. É o álbum de estreia da Nação Zumbi, lançado em 1994, responsável por trazer o gênero do manguebeat, um movimento de contracultura surgido no Brasil a partir de 1991 em Recife (Pernambuco). Esse movimento mistura ritmos regionais, como o maracatu, com rock, hip hop, funk e música eletrônica. O disco ‘Da Lama ao Caos’ é um álbum riquíssimo, com letras muito fortes, e se tornou uma grande referência para o que foi feito depois aqui no Brasil. Quem gosta de música brasileira precisa ao menos ouvir esse álbum.

Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão – 1994
Por: Marisa Monte

Esse é o terceiro disco da carreira da cantora Marisa Monte, lançado em 1994. É um álbum muito rico, com gravações autorais e também regravações de músicas de Gilberto Gil, Paulinho da Viola, entre outros. O álbum está na lista dos 100 melhores discos da história da música brasileira, segundo publicação da revista Rolling Stone.

Bicho de sete cabeças vol 2 – 1994
Itamar assumpção e As Orquídeas Do Brasil

Esse álbum conta com a participação de As Orquídeas do Brasil, um grupo de artistas mulheres que acompanharam o Itamar durante essa trilogia de ‘Bicho de Sete Cabeças’. Luiza comenta que, infelizmente, não há muita informação disponível sobre o grupo e reflete sobre o comum caso de machismo no apagamento de mulheres que fizeram história, mas nesses discos é possível conferir o trabalho delas. É um álbum versátil, com músicas românticas e mais profundas, mas também conta com músicas mais descontraídas para ouvir e ficar relaxado, além do foco na genialidade de Itamar na hora de escrever suas canções.

Década 00

Tribalistas – 2002
Por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown

Tribalistas é um álbum lançado em 2002 pelo grupo brasileiro Tribalistas, formado por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, em uma colaboração conjunta. O álbum debutou na primeira posição dos discos mais vendidos no Brasil, mesmo com o grupo nunca ter tido feito alguma performance na TV ou dado alguma entrevista em rádio. Se tornou o sexto álbum consecutivo de Monte a alcançar essa posição na parada musical. Velha Infância foi a música mais tocada no Brasil na década de 2000, enquanto Já Sei Namorar ficou na 20ª posição.

Ventura – 2003
Los Hermanos

‘Ventura’ é o terceiro álbum de estúdio da banda brasileira Los Hermanos, lançado em 2003. Foi o primeiro trabalho de uma banda a ser disponibilizado – de maneira ilegal – na internet antes de seu lançamento oficial. Foi considerado pela Rolling Stone Brasil como o 68º maior disco brasileiro.

Admirável Chip Novo – 2003
Pitty

“Admirável Chip Novo” é o álbum de estreia da cantora de rock brasileira Pitty. O álbum gerou os singles “Máscara”, “Admirável Chip Novo”, “Teto de Vidro”, “Equalize”, “Semana que Vem”, e “I Wanna Be”. Conta com Duda na bateria, Joe no baixo, Peu Sousa na guitarra e Pitty nos vocais, além de participações de Liminha e Paulinho Moska. Vendeu mais de 800 mil cópias e tornou-se o disco de estilo rock mais vendido de 2003 no Brasil.

Anos 2010

O encarnado – 2014
Juçara Marçal

‘O Encarnado’, de Juçara Marçal, foi lançado em 2014. É nele que se encontra a música ‘Ciranda do Aborto’, uma música que fala sobre a realidade do aborto ilegal no Brasil, um assunto tão necessário de ser debatido.

Abaixo de Zero: Hello Hell – 2019
Por: Black Alien

“Abaixo de Zero: Hello Hell” é o terceiro álbum de estúdio do rapper Black Alien, lançado no dia 12 de abril de 2019. Para Luiza, este é um álbum que chama muito atenção pois traz toda a relação do Black Alien com a dependência química que ele sofre. “A maneira que ele constrói as letras é bastante fascinante, ele costura muito bem uma frase na outra, fazendo um jogo de palavras muito especial, fora as referências que o inspiram que também são bem visíveis neste álbum”, comenta Luiza.

Capa do álbum AmarElo, do Emicida. Foto: Divulgação

AmarElo – 2019
Por: Emicida

Emicida, considerado uma das maiores revelações do hip hop do Brasil da década de 2000, lançou o álbum ‘AmarElo’, seu terceiro disco de estúdio. Com grandes participações, como Zeca Pagodinho, Dona Onete, Pabllo Vittar e Fernanda Montenegro, o disco mescla o rap com MPB e samba, e narra as vivências e lutas diárias de negros e negras num país como o Brasil. A música que dá nome ao álbum, com sample de ‘Sujeito de Sorte’, de Belchior, que contém a frase ‘Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro’, tornou-se imprescindível em um ano tão duro quanto 2020.

Costuras Que Me Bordam Marcas na Pele – 2018
Por: Paola Kirst e KIAI Grupo

Para Luiza, esse álbum representa um grande marco do que vêm sendo feito na cena musical gaúcha nos últimos anos. Ela comenta que conheceu o álbum em uma performance da Paola junto ao grupo KIAI, “fiquei tão impactada que nem piscava”. Luiza destaca a potência da combinação entre Paola e o grupo KIAI, além de sua entrega completa ao compor o álbum.

*Luiza Padilha

Produtora multimídia de formação e garimpeira musical de coração, Luiza Padilha é natural de Porto Alegre (RS) e sua vida gira em torno da música. Desde muito nova sempre esteve atenta à programação da MTV, anotando num bloquinho o nome das músicas que gostava pra depois baixar usando o advento da internet discada. Em sua carreira de produtora multimídia no cenário musical, já trabalhou ao lado de artistas como Blues da Casa Torta, integrou o coletivo da Pedra Redonda e foi produtora de conteúdo no Mapa dos Festivais. Idealizou o projeto Música com M de Mulher, que nasceu a partir do documentário em curta-metragem dirigido e produzido por ela e que depois se tornou um veículo para disseminar informações sobre mulheres da música. Também é uma das idealizadoras do podcast Bons Albo. Seu projeto mais recente foi o álbum “Another Green World Revisitado”, celebra o aniversário de 45 anos do álbum seminal do músico e produtor inglês Brian Eno e conta com a colaboração de diferentes artistas da atual cena musical do Rio Grande do Sul. Atualmente, é produtora do trio instrumental Cardamomo e produz conteúdo musical de maneira independente em suas redes sociais.


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