Samir Oliveira
A desapropriação do casarão localizado no número 600 da Rua Santo Antônio, em Porto Alegre, deverá ocorrer somente no ano que vem. Conhecido como Dopinha, o local funcionou como um centro clandestino de tortura durante a ditadura militar e será convertido em um centro de memória.
O casarão foi publicamente identificado como centro de tortura em junho de 2011, através de uma ação do Comitê Carlos de Ré da Verdade e da Justiça, que realizou um ato no local. Desde então, o movimento vem dialogando com os governos municipal, estadual e federal para levar adiante o projeto de criação do Memorial Ico Lisbôa – nome escolhido em homenagem ao militante político Luiz Eurico Tejera Lisbôa, assassinado pelo regime militar.
No dia 18 de dezembro do ano passado, o governador Tarso Genro (PT) e o prefeito José Fortunati (PDT) foram ao Dopinha manifestar verbal e publicamente seus apoios para que o local se torne um centro pela memória das vítimas das ditaduras sul-americanas. As duas gestões participam do projeto através da compra do imóvel, avaliado em R$ 2,8 milhões – valor que será divido pela metade entre prefeitura e estado. Ao governo federal cabe financiar a reforma e manutenção do espaço, sendo que as três esferas de governo e a sociedade civil, através do Comitê Carlos de Ré, terão representação igualitária na gestão do novo centro político-cultural.
Contudo, desde o final de 2013 o processo não tem andado. Em pronunciamento na tarde desta quinta-feira (04), o governador confirmou que o estado irá arcar com 50% do valor da desapropriação. O Palácio Piratini precisa receber um protocolo da prefeitura de Porto Alegre para confirmar a parceria. A expectativa do governo é firmar o acordo até o final do ano, quando se encerra o mandato de Tarso.
Coordenadora-geral do Comitê Carlos de Ré, Cristine Rondom informa que o movimento se reuniu na semana passada com o prefeito José Fortunati, que teria reiterado sua disposição em encaminhar logo a minuta de acordo ao Palácio Piratini. “A expectativa é que a gente possa definir esse processo ainda neste mês para darmos início às obras em 2015”, comenta.
Os proprietários do casarão do Dopinha, que é um imóvel particular, desistiram de vender o local à iniciativa privada após reuniões com integrantes do Comitê Carlos De Ré. Sensíveis à causa, eles concordaram em vender o local ao poder público e disponibilizá-lo para a concretização do Memorial Ico Lisbôa.