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28 de abril de 2015
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23:11

Municípios ameaçam fechar ou nem construir UPAs

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Em reunião promovida pela Famurs, prefeito reclamaram que a a maior parte dos gastos com a manutenção das UPas cabe aos municípios|Foto: Guilherme Santos/Sul21
Em reunião promovida pela Famurs, prefeitos reclamaram que a maior parte dos gastos com a manutenção das UPas cabe aos municípios|Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jaqueline Silveira

Foi uma choradeira só a reunião promovida, na tarde desta segunda-feira (28), pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) com prefeitos e secretários de Saúde para tratar sobre os recursos financeiros para a manutenção das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de urgência e emergência. No encontro, eles reclamaram dos custos elevados para manter em funcionamento as UPAs e de terem que arcar com a maior fatia. Já os administradores públicos que ainda não começaram a obra pretendem não erguer as unidades. Para tentar solucionar o problema, ficou definido que uma comissão de prefeitos irá nos próximos dias a Brasília pedir mais recursos ao Ministério da Saúde.

Conforme a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, a portaria que trata dos incentivos financeiros estabelece que para uma UPA porte 1 – municípios entre 50 mil e 100 mil habitantes -, o valor repassado pelo governo federal é de R$ 100 mil. Durante 2013, o governo do Estado reajustou sua cota e passou de R$ 50 mil para R$ 100 mil o repasse aos municípios com UPA desse porte. Entretanto, conforme a Famurs, o custo mensal de uma UPA porte 1 é de 450 mil e as prefeituras têm de arcar com a diferença de R$ 250 mil.  Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que foi pactuada entre União, Estados e Municípios que o governo federal repassaria entre  R$ 100 mil e R$ 500 mil e que o restante do valor seria complementado pelos outros dois outros entes federados.

Secretário adjunto da Saúde no Estado, Francisco Paz disse que os municípios perceberam que os repasses recebidos não são suficientes |Foto: Guilherme Santos/Sul21
Secretário adjunto da Saúde no Estado, Francisco Paz disse que os municípios perceberam que os repasses recebidos não são suficientes |Foto: Guilherme Santos/Sul21

“Os municípios estão percebendo que os repasses do governo federal e do Estado não são suficientes para a manutenção das UPAs”, afirmou o secretário estadual adjunto da Saúde, Francisco Paz. Como havia valores fixados em portaria quando os municípios solicitaram as UPAs, conforme ele, é preciso encontrar alternativas para manter o atendimento de urgência e emergência sem penalizar os municípios. A secretaria integrará a comissão que vai ao Ministério da Saúde pedir mais recursos.

Argumentos dos gestores    

Vice-prefeita de Santo Ângelo, na região noroeste, Nara Damião Makvitz (PMDB), disse que a unidade do município está concluída desde junho de 2014, mas que a administração não tem condições financeiras para abrir as portas da UPA. Como é de porte 2, os custos são ainda mais elevados e a prefeitura, conforme ele, tenta habilitá-la para porte 1 a fim de reduzir as despesas. Mesmo assim, segundo Nara, a prefeitura não tem como arcar com a diferença se mantidos os atuais repasses. “O Estado já ampliou em 100%, agora é a hora da União”, afirmou a vice-prefeita, sobre o governo federal aumentar a parcela de custeio.

Nara, a exemplo de outros gestores públicos, argumentou que a União não reajusta os valores desde 2009 e desde lá ocorreram

Vice-prefeita de Santo Ângelo, Nara Makvitz disse a União precisa ajudar mais| Foto: Guilherme Santos/Sul21
Vice-prefeita de Santo Ângelo, Nara Makvitz disse a União precisa ajudar mais| Foto: Guilherme Santos/Sul21

aumentos de salários de médicos e dos insumos, como medicamentos, implicando na elevação dos custos mensais das unidades de atendimento de emergência e urgência. Além disso, Nara sustentou que o município tem obrigação de custear a saúde básica e como as UPAs prestam atendimento de média complexidade caberia ao governos federal e do Estado sua manutenção.

O prefeito de Cruz Alta, na região central, Juliano da Silva (PMDB), contou que a UPA do município abriu em dezembro do ano passado e que até agora não recebeu repasses da União e nem do Estado devido a problemas burocráticos, entre eles, o fato de a portaria de habilitação da unidade não ter sido ainda publicada no Diário Oficial da União. “Desde lá, quem custeia é o município, a situação está insustentável”, disse ele, que não descarta o fechamento da UPA. O prefeito disse que no início chegou a gastar cerca de 650 mil mensais. Depois, ele terceirizou o serviço para reduzir as despesas – hoje, o gasto mensal é de R$ 530 mil. Apesar da redução, Silva disse que a prefeitura  não pode arcar com esse custo, pois inviabilizaria os investimentos em obras. Ele acrescentou que está disposto a repassar ao Estado ou ao governo federal a administração da UPA, contribuindo com o percentual de 25% no custeio.

UPAs pelo Estado  

No Estado, há 13 unidades em funcionamento e mais 10 prontas ou aguardando a aquisição de equipamentos para começarem o atedimento. Já outras 22 UPAs estão em fase de construção. Prefeita de Torres, no litoral norte, Nilvia Pereira (PT) comentou que o Ministério da Saúde está cobrando do município a ordem de serviço para a obra, mas devido aos custos elevados, a administração não terá condições financeiras para a manutenção da unidade no futuro. “É um dilema que o município está vivendo”, revelou ela. A petista sugeriu que fosse elaborado um documento pedindo a suspensão das ordens de serviço de todas as obras nessa situação até “construir um consenso” quanto aos recursos para o funcionamento da UPA.

“Eu não vou abrir a UPA, não sou maluco”, afirmou o prefeito Alceu Barbosa Velho, de Caxias do Sul, região serrana, sobre a unidade de porte 3 que acaba de ser concluída. Ele argumentou que é impossível bancar os custos que alcançariam os R$ 10 milhões por ano. Em Guaíba, na região metropolitana, a unidade de urgência e emergência está 70% concluída e o prefeito já se preocupa com os gastos futuros. “Há seis anos, os valores permanecem os mesmos e o custo é muito elevado. Se não houver esse custeio, fica inviável”, frisou o prefeito Henrique Tavares (PTB), que também é médico, sobre a necessidade de reajuste dos repasses da União.

Presidente da Famurs, Seger Menegaz defendeu a redução de horário das UPAs para reduzir custo| Foto: Guilherme Santos/Sul21
Presidente da Famurs, Seger Menegaz defendeu a redução de horário das UPAs para reduzir custos| Foto: Guilherme Santos/Sul21

Além do aumento da fatia de recurso pelo governo federal, o presidente da Famurs, Seger Menegaz (PMDB), disse que a comissão vai solicitar ao Ministério da Saúde a flexibilização da portaria que regulamenta o serviço das UPAs com objetivo de reduzir o atendimento de 24 horas para 12 horas e diminuir o número de profissionais estabelecido para as unidades de acordo com o porte.” Os municípios não podem bancar a diferença que está faltando”, sustentou Menegaz, sobre os custos das UPAs para as prefeituras.

Hospitais não terão recursos de complementariedade

Se o atendimento na saúde está complicado, a situação tende a se agravar ainda mais. Durante a reunião com os prefeitos, o secretário adjunto da Saúde no Estado, Francisco Paz, anunciou que não haverá mais o repasse de Incentivo à Hospitalização (IHOSP) aos hospitais filantrópicos. O IHOSP é uma complementaridade para o custeio dos procedimentos de média complexidade na assistência hospitalar. Seriam R$ 25 milhões por mês. Desse valor, R$ 5 milhões iriam para os hospitais municipalizados. Paz disse que o Estado estuda outras alternativas dentro do orçamento previsto para a Saúde, entretanto, admitiu dificuldades pelo fato de a arrecadação vir caindo. “É possível que se tenha dificuldades em manter alguns serviços”, conclui ele.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Representantes dos municípios reunidos em Porto Alegre | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Nota do Ministério da Saúde

Conforme pactuado entre os três entes federados, o Ministério da Saúde é responsável por passar entre R$ 100 mil e R$ 500 mil para custeio mensal das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de todo o país. O restante do valor deve ser complementado pelos estados e municípios, conforme a Portaria nº 342/ 2013. Cabe ressaltar que os gestores estaduais e municipais – por meio de portarias publicadas em 2009, 2012 e 2013 – têm ciência de quanto será repassado para cada UPA.

O Ministério da Saúde repassa R$ 32,1 milhões anuais para as unidades habilitadas do Rio Grande do Sul. Atualmente, o Estado possui 13 UPAs em funcionamento e 22 em obras, das quais 10 em ação preparatória. Há ainda 13 que foram concluídas, mas ainda não estão em funcionamento. É importante esclarecer que o início do repasse do custeio está condicionado à habilitação e à qualificação da unidade. Das que estão em funcionamento, 11 são custeadas – destas 11, 9 também são qualificadas.

 

Tamanho e repasses de recursos para as UPAs*

UPA Porte 1

– De 50 mil a 100 mil habitantes

– O custo total da manutenção é de R$ 450 mil ao mês

– Governo federal repassa R$ 100 mil

– Estado repassa R$ 100 mil

– Município cobre o restante do valor das despesas, R$ 250 mil

 

 UPA porte 2

– De 100 mil a 200 mil habitantes

– O custo total da manutenção é de R$ 650 mil ao mês

– Governo federal repassa R$ 175 mil

– Governo do Estado repassa R$ 162,5 mil

– Município cobre o restante do valor, R$ 312,5 mil

 

UPA porte 3

– De 200 mil a 300 mil habitantes

– Custo total da manutenção é de R$ 900 mil ao mês

– Governo federal repassa R$ 250 mil

– Governo do Estado repassa R$ 225 mil

– Município cobre o restante do valor das despesas, R$ 425 mil ao mês

* As UPAs consideradas qualificadas, cujos funcionários passaram por capacitação, recebem valores mais elevados em comparação às UPAs habilitadas.


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