Por Nelson Rego
A religião do capital prega que o grande capital deve dominar e circular sem barreiras pelo mundo. Mas a parte da humanidade transformada em gado humano deve permanecer confinada.
Trump prometeu interpor um muro entre os Estados Unidos e o México. Bolsonaro e os bolsonaristas separarão com barreiras as partes boas das cidades das partes ruins para devolver o bem-estar às partes boas?
Raivosos envergonhados de serem raivosos estão perdendo a vergonha. Surgem líderes imitadores de Hitler porque os raivosos estão perdendo a vergonha ou os raivosos estão perdendo a vergonha porque surgem líderes imitadores de Hitler?
Ser preconceituoso é apropriar-se de um selo de qualidade: o preconceituoso se coloca acima dos inferiorizados. Muitos são iguais no desejo de se fazerem diferentes. O desejo de colocar-se acima dos outros a qualquer preço é o dogma da grande religião.
Uma religião precisa de inimigos, sem inimigos: sem energia. Em nome de combater inventados inimigos, por quanto tempo a grande religião continuará erguendo novos muros com os tijolos daquele derrubado em Berlim?
O eleitor produz o eleito ou o eleito produz o eleitor?
Hillary Clinton, apesar de tudo, seria um pouco mais do que só um pouco diferente de Trump? Se a pergunta é difícil de ser respondida, então é fácil, a resposta está dada: não. É isso mesmo? Será assim tão fácil responder à pergunta? Quão desprezível para defesas de teses e quão grande para muitas vidas pode ser esse pouco?
Bolsonaro ou qualquer outro: dá na mesma?
O eleitor produz o eleito ou o eleito produz o eleitor?
Muros escondem passagens. Para onde?
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Nelson Rego é escritor. http://www.nelsonrego.art.br/. Professor no Departamento e no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sua coluna é publicada quinzenalmente no Sul21.