Rafael da Silva Marques (*)
Não creio que uma medida, simplesmente por ter sido gestada na oposição ou por ideologias contrárias, deva ser de pleno rejeitada. Acredito na força do debate a na vitória, após um debate comunicativo, do melhor argumento.
Este texto tem por objetivo chamar a atenção de uma situação curiosa. Desde primeiro de janeiro houve alteração, por parte significativa da população, quanto à aplicação de verbos.
Hoje é comum ouvir eliminar em vez de incluir. Eliminar o PT em especial. Reduzir em vez de ampliar. Reduzir direitos sociais às populações frágeis em vez de ampliar e garantir um futuro melhor. Cortar bolsas de estudo em vez de ampliar o acesso ao conhecimento, corte destinado em especial a quem tem pensamento contrário.
É comum circular o verbo extinguir. Extinguir o ministério do trabalho e emprego e a justiça do trabalho, mas não os privilégios das instituições financeiras e do agronegócio.
Abater. Este é um verbo central. Abater o inimigo, o diferente o bandido. Quem não é cidadão de bem corre risco. Aqui abater e correr risco diz respeito aos chamados criminosos, sem incluir neste rol sonegadores por exemplo.
Outro verbo interessante me vem a tona: difamar. Difamar a oposição em especial com “fake news”. Para não dizer mentir, verbo forte, esquecer da verdade quando se fala que a justiça do trabalho só existe no Brasil.
Leio, no youtube, frequentemente, o verbo humilhar. Fulano de tal do movimento… humilhou um “esquerdopata”.
Li, dia desses, o verbo estuprar, em caráter de “não-merecimento”!
Esta nova gama verbal, de facílima percepção hoje, é contrária ao que preceitua a Constituição Federal e as normas de direitos humanos (lembro que beber água limpa é um direito humano! Poder rezar também!). Eliminar, reduzir, extinguir, cortar, abater, difamar, esquecer da verdade, humilhar e estuprar, são verbos negativos que em nada contribuem para a formação de um pais melhor.
Para que haja debate deve haver inclusão, ampliação, criação, verdade, vida, informação, respeito, diferença. Não imagino que se possa fazer uma sociedade mais justa e solidária sem a observância destes elementos. Integrar a coletividade, a diferença, todos, “todes” e todas é que deveria ser um dos verbos. Ampliar o debate democrático e o acesso aos direitos fundamentais deveria ser a pauta. Criar bolsas de estudo igualmente parece ser um dos caminhos para trazer conhecimento e embutir valor agregado aos produtos de exportação.
Defender a vida, a diferença, salários justos e a inclusão do outro é contrário a eliminar, reduzir, extinguir, cortar, abater, difamar, esquecer da verdade, humilhar e estuprar. Estes últimos vão apenas criar um enorme vazio de direitos, uma sociedade fraturada, violenta, sem direitos e extremamente pobre, intelectual e economicamente, controlada de fora por uma parcela ainda menor de empresas e pessoas.
Se o verbo é fragmentar e dividir, a nova adaptação verbal do discurso presente está no caminho certo.
É uma pena!
(*) Juiz do trabalho e membro da Associação Juízes para a Democracia.
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