O diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER/RS), Luciano Faustino, se reuniu nesta quarta-feira (5) com entidades que participaram da elaboração do painel artística que adorna uma das fachadas do prédio do órgão para discutir sobre a situação do mural, que está ameaçado de ser removido em razão de uma reforma no local. Após o encontro, representantes das entidades saíram otimistas com a possibilidade de manutenção do painel, o que ainda não é confirmado pelo DAER.
A obra, assinada por Mona Caron e Mauro Neri, foi inaugurada em janeiro de 2022. O painel tem 65 metros de altura e 15 de largura e retrata Beatriz Gonçalves Pereira, mais conhecida como Mãe Bia, moradora da Ilha da Pintada, educadora popular e ativista do movimento negro.
Conforme Faustino, a sede do DAER passará por reforma em virtude da queda das pastilhas da fachada. Durante a reunião, Faustino conversou com os representantes das entidades sobre a possibilidade do painel ser preservado. “A gente não bateu o martelo para fazer as reformas das quatro fachadas. Estamos abertos, inclusive, a sugestões técnicas. A ideia é prolongar a vida útil desta lateral, afinal toda a obra urbana tem sua validade em razão do tempo”, disse Faustino durante o encontro.
Uma versão inicial desta matéria indicava que Faustino havia indicado que o painel seria preservado. Posteriormente, o departamento entrou em contato com a reportagem e informou que ainda não descartou a remoção do painel.
“A respeito da matéria postada hoje no site e nas redes do Sul21, o Daer informa que, na reunião realizada na quarta-feira, na sede do órgão, o diretor-geral Luciano Faustino se colocou à disposição para manter o diálogo com as entidades envolvidas na pintura do mural e com a sociedade em busca de alternativas técnicas para preservar a pintura pelo máximo de tempo possível. Em nenhum momento foi afirmado que o painel não será mais removido. As informações divulgadas pela autarquia anteriormente seguem verdadeiras: o prédio necessita passar por reforma, inclusive para não representar risco para as pessoas, com a possível queda de pastilhas. A fachada norte, onde está a pintura, será a última a ser reformada, uma vez que é a menos afetada pelas intempéries e para que se preserve o máximo de tempo o mural, inaugurado em janeiro de 2022″, diz nota encaminhada pelo DAER.
Em 13 de janeiro, O Matinal alertou quanto à intenção da direção da autarquia de realizar a obra com a consequente remoção da arte urbana. A publicação gerou indignação entre as entidades que participaram do processo de elaboração da pintura e também em parte da sociedade civil.
Após a reunião desta quarta, os representantes das entidades manifestaram otimismo quanto à preservação do mural. O ex-vereador e advogado Marcelo Sgarbossa pontuou que a arte é um trabalho primoroso, concebido em 2013 durante o 2⁰ Fórum Mundial da Bicicleta, em Porto Alegre. Ele era o diretor do Lappus, uma das entidades patrocinadoras do mural, no período em que o mural foi inaugurado. “Saio da reunião com a clara sensação de que vamos encontrar uma solução para a manutenção da pintura. Agora, nossa tarefa é acompanhar todas as etapas do processo”.
Atual diretora do Lappus, Andressa Lawisch considerou a reunião como um passo importante. “Esse momento foi muito positivo, pois nos trouxe mais clareza dos fatos e uma abertura para o diálogo”, afirmou.
No prédio, também ficam setores da Procuradoria-Geral do Estado. Tanto o Sindicato dos Servidores da PGE (Sindispge) quanto a Associação dos Procuradores do Rio Grande do Sul (Apergs) apoiaram a elaboração do mural. “Saímos otimistas, em razão da possibilidade aberta pela direção do DAER no sentido de estudar alternativas técnicas que garantam sobrevida à obra”, disse o presidente do Sindispge, Daniel Franco Martins.
Mãe Bia também estava na reunião. Ela se emocionou ao traduzir a importância do mural para o povo negro e as pessoas que moram nas ilhas, geralmente esquecidas pelo Poder Público. A fala da educadora popular foi aplaudida pelos presentes. “Essa é uma região da cidade de onde saíram poetas, músicos e artistas negros, figuras essenciais para a construção da identidade de Porto Alegre”, disse.