![Debate 'O que queremos para Porto Alegre', na Casa Verso. Foto: Luiza Castro/Sul21](https://sul21.com.br/wp-content/uploads/2024/02/IMG_9074-450x300.jpg)
Uma Porto Alegre democrática, com espaço para cultura, políticas voltadas para a sustentabilidade e que freie a privatização dos espaços públicos em prol da dignidade dos cidadãos. É a síntese do que deseja o grupo de intelectuais e políticos porto-alegrenses que se reuniram, na noite desta quarta-feira (21), para discutir os rumos para a Capital nos próximos anos. O painel “O que queremos para o futuro de Porto Alegre?” foi realizado pelo Instituto Novos Paradigmas (INP), organização que propõe iniciativas para aperfeiçoar a democracia e a gestão pública.
A atividade iniciou com a fala do ex-governador e ex-prefeito Tarso Genro, organizador do evento. “Nosso objetivo aqui é despertar subjetividades para desenhar utopias, para que depois virem questões concretas”, disse. A partir da exibição de Donos da Cidade, o mini documentário do Sul21 sobre especulação imobiliária, o político criticou o processo de concessão das áreas públicas de Porto Alegre à iniciativa privada.
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O professor Luiz Osvaldo Leite, testemunha participante da história da cidade nos últimos 90 anos, realizou uma fala para dar início à discussão. A memória do professor vai até o longínquo 1935, quando, com 3 anos, acompanhou as festividades do centenário farroupilha no parque da Redenção. Leite relembrou a efervescência cultural da cidade nas décadas passadas, destacando a importância da universidade federal no passado e no presente. “Para o futuro, quero uma Porto Alegre que volte a ser grande”, concluiu.
“A cidade que eu quero tem que ser igual ao mundo que eu quero”, disse o deputado estadual Miguel Rossetto (PT). O político também repudiou o processo de privatização do espaço público, acelerado na atual gestão da cidade. “Estão privatizando o pôr do sol da cidade”, disse. Olívio Dutra, ex-governador do RS, reforçou que o foco da gestão deve ser o interesse público e coletivo, “sem tirar a paisagem do povo”.
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O vereador Pedro Ruas (PSOL) continuou a discussão: “Porto Alegre, hoje, é o paraíso das empreiteiras. E não pode continuar sendo isso”, disse. Ele também criticou o atual formato do orçamento participativo, implantado originalmente em 1989 pelo então prefeito Olívio Dutra. “O OP virou um atendimento às demandas que as pessoas apresentam ali, visando a campanha eleitoral”, denunciou.
A deputada federal Maria do Rosário, pré-candidata do PT à Prefeitura, defendeu que é preciso renovar a democracia participativa da cidade. “Porque ela foi subvertida”, disse. “A cidade substituiu o planejamento de interesse público pela especulação imobiliária. Toda a gestão pública desta cidade foi terceirizada”.
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Telmo Magadan, conselheiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS), destacou que a cidade é resultado da distribuição de renda e de poder econômico: “a população mais rica ocupa áreas próximas aos serviços urbanos e com melhor infraestrutura, enquanto a grande maioria da população pobre ocupa a periferia. É uma lógica perversa, uma lógica da desigualdade, que aumenta e se perpetua”, afirmou. O arquiteto relembrou que a falta de planejamento urbano levou à ocupação de regiões “sensíveis” como morros, o entorno de cursos d’água e áreas ambientais protegidas.
O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) destacou a questão ambiental como uma pauta urgente não só para a cidade, mas de forma global. “No ano de 2023, tivemos uma sequência de eventos extremos, e iniciamos 2024 com um temporal que gerou manifestações exigindo dignidade por conta da crise climática. Nessa perspectiva, Porto Alegre não tem absolutamente nada para dizer ao mundo”. Matheus defende que é preciso voltar a falar, por exemplo, sobre a despoluição do Guaíba.
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Detentora do título de Cidadã da cidade, Sandra de Deus afirmou: “o que eu quero de Porto Alegre é que seja de fato alegre e humana”. A professora da UFRGS destacou o aumento da população de rua na Capital. “O empobrecimento não é provocado pela Prefeitura, mas a cidade precisa atender essas pessoas com humanidade, que elas não sejam expulsas de suas casas para a construção de grandes prédios. Isso nos torna desumanos”, afirmou.
O debate seguiu com o jornalista e produtor cultural Roger Lerina, que foi categórico: “quero uma Porto Alegre com mais cultura”. Lerina destacou que nunca se fez tanta cultura – dança, artes cênicas, música, cinema – em quantidade e qualidade. “O que falta é uma convergência de vontades e de atores com uma percepção de que a cultura é importante”, afirmou “Um Estado que implemente políticas na área cultural, com relevância e com repercussão. E uma elite econômica com sensibilidade e capaz de converter esse desejo de arte”.
Ao final do evento, a jornalista Sandra Bitencourt, diretora-executiva do INP, destacou a importância das estratégias de comunicação na campanha eleitoral. “Para construir a Porto Alegre que discutimos aqui, é preciso ganhar a eleição”, ressaltou.
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