Lúcia Mascaró (*)
Faz tempo que a cidade e sua “ambiência” urbana andam se estranhando.
Porto Alegre declara a intenção de erguer na Rua Duque de Caxias, no ponto mais elevado do Centro Histórico, um prédio de grande altura, uma monstruosidade arquitetônica–ambiental, não levando em consideração fatos históricos, culturais e arqueológicos, diretrizes de transformação do Plano Diretor. Será uma exceção concedida?
Há ainda o problema da sombra que produzirá no entorno construído imediato, elevando níveis de umidade, diminuindo o conforto ambiental na vizinhança. A rua Duque de Caxias é exemplo conhecido na Academia como um ‘canyon urbano’: estreita com altos edifícios onde o Fator de Céu Visível (FCV) é baixo, ocasionando pouca incidência solar durante o dia. A via ainda abriga uma já escassa vegetação que não contribui para a diversificação da avifauna local já que o recinto inibe o crescimento das espécies e compromete o desempenho ambiental. O regime de ventos da região também sofrerá alterações.
Será que o projeto atende ao PPCI – Plano de Preservação e Proteção de Combate a Incêndios, que deve prever rotas de fuga difíceis de fazer e caras em prédios altos? E que nem sempre são eficientes para, por exemplo, pessoas deficientes ou idosas que não podem usá-las? Qual a altura que a escada de salvamento dos bombeiros tem em Porto Alegre? Se o projeto inclui material anti-incêndio em cada andar ou em cada sala talvez ajude a mitigar as consequências do incêndio, mas não a salvar pessoas.
Ora em discussão, a nova revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) é uma grande oportunidade para discutir critérios para novas edificações podendo até prever mais adensamento em regiões propícias e em formatos adequados.
Caso o projeto se consolide veremos uma situação que atende as finanças de poucos em detrimento da vida de muitos.
(*) Arquiteta e Urbanista
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