![Divulgação/RedeTV Divulgação/RedeTV](http://sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2010/09/debate-1-300x168.jpg)
Nubia Silveira
O esperado debate entre os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto à Presidência da República se transformou numa troca de acusações entre Dilma Rousseff, candidata do PT, e José Serra, do PSDB. “Não passarei para a história como a caluniadora desta eleição. Ele (José Serra), sim, passará”, afirmou Dilma em tom irritado, no direito de resposta que lhe foi concedido pela produção da Rede TV e jornal Folha de S.Paulo, promotores do debate que reuniu, na noite deste domingo (12), quatro presidenciáveis. Além de Dilma e Serra, participaram os representantes do PV, Marina Silva, e do PSol, Plínio de Arruda Sampaio.
Dilma solicitou dois direitos de resposta, devido às declarações do adversário tucano, e ganhou um. Primeiro se propunha a contestar a afirmação de Serra de que o governo federal não construiu um milhão de casas, mas apenas 150 mil, das quais, menos de 5% foram para pessoas com renda inferior a cinco salários mínimos. O pedido foi negado. A segunda solicitação ocorreu, quando o tucano voltou a bater na tecla de que a candidata do PT é responsável pela quebra de sigilo fiscal de sua filha. No início do terceiro bloco, foi-lhe concedido um minuto. A petista rechaçou as acusações. Disse que Serra quer “ganhar no tapetão”, lembrando o pedido feito pelo PSDB ao TSE de impugnação de sua candidatura. “Eles querem virar a mesa da democracia”, disse ela, repetindo afirmação que vem fazendo desde que a solicitação dos tucanos foi negada pela Justiça Eleitoral. Ressaltou que denuncia Serra “por divulgação de crimes com propósito eleitoral” e concluiu dizendo que ele passará para a história como caluniador.
Por ter sido tachado de caluniador, Serra ganhou o direito de resposta, tão pronto Dilma concluiu sua fala. Ele referiu-se às denúncias feitas por Veja desta semana de que o filho da ministra Erenice Guerra, da Casa Civil, teria cobrado propina para mediar um negócio com os Correios. “Esta é a terceira vez”, disse o tucano, que há denúncias de corrupção na Casa Civil. “Uma delas no tempo de José Dirceu, que é homem de confiança de Dilma”. As estocadas entre Dilma e Serra não pararam por aí. Ao perguntar a Dilma sobre a relação do Brasil com o Irã, Serra aproveitou a réplica para acusar a adversária de “não responder as perguntas, sistematicamente” e de não saber se ela é ou não caluniadora, se é ou não evasiva, coisas que, disse Serra, ele não é.
Dilma não deixou por menos. Aconselhou o adversário a não subestimar ninguém. Lembrou dos norte-americanos que subestimaram os vietnamitas e acabaram perdendo a guerra. “O senhor não é melhor do que ninguém”, afirmou a petista. Em resposta a Plínio de Arruda Sampaio, quando o assunto foram os vazamentos da Receita Federal, o tucano acusou o governo de perseguir seus adversários: “É assunto do governo, que acoberta os companheiros e persegue a oposição. A democracia do PT, da Dilma, a democracia deles, é usar o aparato legal para proteger os companheiros.”
Na defesa dos governos dos quais participaram, Dilma e Serra trocaram farpas, também, sobre números. No caso do saneamento, Serra acusou o governo Lula de ter feito menos do que o de FHC. E reclamou de qualificaram de investimento, os empréstimos prestados pela Caixa Econômica Federal para construção de esgotos. “Eles nunca deram dinheiro, nunca deram financiamento e vêm falar que financiamento não é recurso”, reagiu a petista.
![Divulgação/RedeTV](http://sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2010/09/Dilma-debate.bmp)
Mais perguntada
Dilma, vestida de branco, como Marina, foi a preferida para responder as perguntas dos candidatos. A cota de dois questionamentos no máximo para cada candidato, determinada pela produção do programa, era logo fechada pela candidata petista, que não fez nem uma pergunta sequer ao candidato tucano. Mas, não conseguiu evitar o debate direto com Serra, num clima de acusações.
Os casos de quebra de sigilo fiscal e da denúncia contra Erenice Guerra foram levantadas, primeiro, pelas repórteres Patrícia Zorzan, da Rede TV, e Renata Lo Prete, da Folha de S.Paulo. Dilma defendeu que os vazamentos ocorridos na Receita Federal sejam investigados. “Tem de investigar, doa a quem doer”, disse. Lembrou que a sua campanha pediu para a Polícia Federal investigar o caso. E ressaltou: “Discordo da espécie de malabarismo, tentando ligar o vazamento à minha campanha. Esta é uma ilação eleitoreira”.
Sobre as denúncias da revista Veja, a candidata afirmou que tem “a maior e melhor impressão” da ministra Erenice, seu ex-braço direito na Casa Civil, e que não aceita que seu nome seja envolvido em algo que possa ter sido feito pelo filho de um funcionário (a ministra da Casa Civil). “Isto é manobra eleitoreira”.
Questionada sobre o governo Lula, Dilma aproveitou para dar “uma boa notícia: hoje 28 milhões de pessoas estão fora da pobreza”. Falou sobre o programa Minha Casa, Minha Vida (“A Caixa já tem 630 mil moradias contratadas, das quais 230 mil para a população de baixa renda”) e sobre o PAC 2.
![Divulgação/RedeTV](http://sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2010/09/Serra.bmp)
Acertos e fracassos
O debate, de uma hora e meia, mediado por Kennedy Alencar, começou com uma mesma pergunta para os quatro candidatos: qual o maior sucesso e o maior fracasso do governo Lula? A primeira a responder, definida por sorteio, foi a candidata da situação. Para Dilma, o maior sucesso do governo do qual fez parte, foi “fazer o país crescer e distribuir renda”. Lembrou as pessoas que saíram da miséria e a abertura de 14 milhões de novos postos de trabalho. “Não há fracassos, mas desafios”, disse. “Terei de continuar este processo de ascensão social da população brasileira”.
Serra apontou como sucesso do governo Lula o fato de “não ter atirado o Plano Real pela janela” nem a Lei de Responsabilidade Fiscal. “Sucesso foi não fazer o que disseram que iam fazer”. O fracasso, para o tucano, foram o escândalo do Mensalão, o Dossiê dos Aloprados e a quebra de sigilo fiscal pela Receita Federal.
Plínio, a nota destoante em todo o debate, divertindo-se e divertindo os telespectadores, reafirmou que seu partido é contra a política econômica do governo. Criticou o bolsa família e pediu emprego e renda para os brasileiros. Marina Silva resolveu analisar os últimos 16 anos de governo. Segundo ela, os oito anos de Fernando Henrique Cardoso e os oitos de Luiz Inácio Lula da Silva seguem a mesma política. Para a candidata do PV, o sucesso também esteve no Plano Real. O fracasso, segundo Marina, foram a “ausência de uma visão de integração da questão ambiental”, os 15 milhões de analfabetos ainda existentes no país e o retrocesso na política. “Avançamos na economia, retrocedemos na política”, afirmou.
![Divulgação/RedeTV](http://sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2010/09/Plínio.bmp)
Pegadinha
Sempre de bom humor, o candidato do PSol voltou a classificar o comportamento de seus adversários de “bom-mocismo” e a dizer que ele é o único que não aceita a atual política econômica. Quis saber se Dilma, em seu governo, para resolver o problema da falta de moradia adotaria a política inglesa de colocar para alugar, compulsoriamente, todo imóvel desabitado. E acusou a candidata de não responder a pergunta.
Mais de uma vez não ocupou o tempo que tinha para responder e chegou a sentar, quando ainda tinha quase um minuto para falar. E classificou de pegadinha uma pergunta que a petista lhe fez sobre a construção de plataformas da Petrobras pelo Brasil. “A Dilma agora está contente, Pegou o Plínio no pulo”, disse ele, confessando que não sabia nada do assunto. “A gente não consegue conhecer tudo. E, para ser presidente, não precisa saber tudo”.
Para Serra, que chamou todo tempo de Zé, afirmou que não quer saber destas “sujeiras” de campanha, referindo-se às denúncias de quebra de sigilo fiscal.
![Divulgação/RedeTV](http://sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2010/09/Marina-Silva-300x168.jpg)
Segundo turno
Até na mensagem final, Serra cutucou Dilma. Ela foi a primeira a falar. Lembrou que, na semana passada, passou por uma experiência especial, com o nascimento do neto, algo que a tornou mais sensível e pronta para entender melhor “os jovens, as mães e os pais”. E concluiu: “O que puder dar para o meu neto, gostaria de dar para todas as crianças brasileiras”. Na sua vez, Serra afirmou: “Toda minha energia provém do contato com as pessoas. O que tenho a oferecer é meu valor democrático, o respeito pelas pessoas, pelas famílias, filhos e netos dos adversários”.
Plínio reafirmou que seus adversários dizem sempre a mesma coisa. “Eu estou propondo o futuro”, afirmou, pedindo que os eleitores “votem 50 de ponta a ponta” pra reeleger os deputados do PSol.
Referindo-se às farpas trocadas entre Serra e Dilma, Marina da Silva propôs que a eleição presidencial se defina em segundo turno. “Depois do que você viu aqui”, disse ela, é preciso que seja realizado um segundo turno para que os problemas do país sejam debatidos com visão e ética.