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12 de julho de 2012
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08:00

Prestes a ser destruído, Centro Cenotécnico mobiliza artistas de POA

Por
Sul 21
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Centro Cenotécnico fica na Voluntários da Pátria, que será duplicada | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Samir Oliveira

O Centro Cenotécnico do Rio Grande do Sul está com os dias contados. Em função da Copa do Mundo de 2014, o tradicional espaço que dá guarida a artistas de Porto Alegre e do interior do Estado terá que ser destruído e as autoridades públicas ainda não encontraram uma solução.

O estabelecimento fica localizado na avenida Voluntários da Pátria, 1370. Como a via será duplicada pela prefeitura da Capital em função da Copa, cerca de 100 imóveis da região precisarão ser desapropriados.

São cerca de 1.300 metros divididos em galpões com salas para depósito de materiais artísticos e cenográficos de diversas peças. Qualquer grupo de dança, de teatro, de circo, de cinema ou de quaisquer manifestações artísticas e culturais pode utilizar o espaço para ensaiar e realizar suas produções.

Maior sala tem palco com as mesmas medidas do Teatro São Pedro e estrutura para atividades circenses | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O complexo possui três salas fechadas para ensaios e reuniões, sendo que a maior delas é adaptada para atividades circenses, com um pé direito de 10 metros de altura, ideal para trapezistas. Além disso, esse mesmo espaço possui uma marcação de palco idêntica à do Teatro São Pedro.

O trecho onde fica o Centro Cenotécnico corresponde à primeira fase da obra, cujo contrato foi selado pela prefeitura no dia 25 de maio. A licitação foi concluída no dia 18 de janeiro de 2012, mas os artistas só ficaram sabendo que o local seria destruído há apenas três semanas. Não receberam um aviso da prefeitura, que desapropriará a área, nem do governo do Estado, que administra o espaço.

Foi por mero acaso que a comunidade artística ficou sabendo que um dos principais espaços públicos da categoria precisaria ser demolido. Uma arquiteta da prefeitura estava fazendo medições no local, catalogando árvores que serão arrancadas e foi interpelada por um servidor do Centro Cenotécnico ao entrar no estabelecimento.

Artistas armazenam e confeccionam materiais para espetáculos no local | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Elias Chidia ficou sabendo pela boca da funcionária que o espaço teria que ser destruído em função da duplicação da Voluntários da Pátria – que, segundo uma notícia no site da prefeitura, deveria ter começado no início de junho. Assim que recebeu a informação, contatou o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio Grande do Sul (Sated-RS) e o Instituto Estadual de Artes Cênicas, vinculado à Secretaria de Estado da Cultura, que administra o ambiente. Surpreendentemente, a secretaria não sabia que o Centro Cenotécnico precisaria ser destruído.

Objetos para cenário de peças teatrais ficam guardados nos galpões do Centro Cenotécnico | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A partir do momento em que foram alertados pelos artistas, a Cultura do Estado e a prefeitura de Porto Alegre começaram a dialogar e buscar soluções para correr atrás do tempo perdido. Até agora, duas alternativas são aventadas pelos poderes públicos: ou se constroem novos espaços no terreno atrás de onde fica atualmente o Centro Cenotécnico, ou o governo estadual doa outra área para que a administração municipal construa uma nova sede.

“Nos sentimos descartáveis”, critica presidente do Sindicato dos Artistas

O presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio Grande do Sul (Sated-RS), Vinícius Cáurio, diz que a forma como o Centro Cenotécnico foi tratado no episódio da desapropriação evidencia a pouca atenção que o poder público dá à arte. “Nos sentimos descartáveis. Toda uma economia gira em torno desse espaço e sequer fomos notificados a tempo de nos movimentarmos. É um sinal de que nos veem como algo sem nenhuma importância”, dispara.

Vinícius Cáurio critica descaso do poder público com a arte | Foto: Leonardo Contursi/CMPA

Vinícius culpa a falta de comunicação entre o governo do Estado e a prefeitura de Porto Alegre pela forma açodada como está sendo decidido o destino do Centro Cenotécnico. “Fica complicado quando os governos municipal e estadual não dialogam para comunicar com brevidade as consequências a um setor que será atingido por uma desapropriação. Ainda não está esclarecido de quem foi a culpa, mas esse tipo de ruído não pode acontecer”, alerta.

O Sated-RS diz que a comunidade artística da Capital reivindica os galpões da prefeitura que se localizam na rua Olavo Bilac como novo local para o Centro Cenotécnico. “Lá se manteria o sentido do universo cênico, com várias áreas podendo interagir. Ali é o corredor cultural de Porto Alegre, com a Cidade Baixa e o Menino Deus de um lado e o Bom Fim do outro”, comenta, acrescentando que o pé direito de 10 metros no local também é adequado às atividades circenses.

Entretanto, a prefeitura descarta ceder a área, por se tratar de depósitos da Secretaria Municipal da Saúde e ficar em um local estratégico, próximo ao Hospital de Pronto-Socorro.

“Fomos surpreendidos pela desapropriação”, diz secretário de Cultura do Estado

Assis Brasil reconhece que não sabia da desapropriação e diz que nova estrutura será melhor que a atual | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O secretário de Cultura do Rio Grande do Sul, Luiz Antonio de Assis Brasil, admite que o órgão não tinha conhecimento de que o Centro Cenotécnico precisaria ser demolido em função da duplicação da avenida Voluntários da Pátria. “Realmente não sabíamos de nada. Estávamos com um projeto de restauração do prédio atual, que está bastante degradado, estávamos trabalhando na melhoria desse espaço, mas fomos surpreendidos pela desapropriação”, comenta.

O secretário explica que, desde que foi alertado sobre o caso, vem fazendo reuniões com a Secretaria Municipal da Copa do Mundo (Secopa) para acertar uma solução com o governo municipal. E conta que, caso se opte pela construção de um novo espaço nas proximidades do atual terreno, seria possível concluir a obra em até seis meses. “O importante é que não ficaremos sem o Centro Cenotécnico e o novo local ficará em melhores condições”, assegura Assis Brasil.

“Enviamos um ofício em tempo hábil ao Estado”, informa secretário municipal da Copa

O titular da Secopa de Porto Alegre, Urbano Shmitt (PDT), diz que a prefeitura, ao identificar os imóveis que precisariam ser desapropriados em função da duplicação da avenida Voluntários da Pátria, enviou um ofício ao Estado quando verificou que havia terrenos de responsabilidade do governo gaúcho na região – como é o caso da área que abriga o Centro Cenotécnico.

“Ao listar as matrículas de desapropriações, verificamos o terreno do governo e enviamos um ofício em tempo hábil ao Estado. É evidente que é um processo burocrático e demora até chegar ao órgão que ocupa a área”, explica Urbano. O secretário não soube informar quando efetivamente o ofício foi enviado ao Palácio Piratini.

O pedetista considera que essa questão não importa agora, já que garante que há o compromisso da prefeitura em não mexer no Centro Cenotécnico enquanto não for encontrada uma solução para o impasse. “Os prazos não fazem diferença, pois temos a clara decisão de não mexer no local enquanto não tivemos uma solução adequada para o Estado e para o município”, assegura.

Uma nova reunião entre os órgãos estaduais e municipais ocorrerá na próxima terça-feira (17) para tratar do assunto. Na segunda-feira (16), uma audiência pública irá discutir o tema na Câmara Municipal, às 9h30min.


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