Colunas>Marcelo Carneiro da Cunha
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4 de janeiro de 2012
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11:36

Querida, vão encolher o Rio Grande!

Por
Sul 21
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Pois estimadíssimos sulvinteumenses, se tudo deu certo, e parece que deu, cá estamos nós – com exceção dos tradicionalistas, que preferem qualquer coisa ao sul de 1950 -, no novo e ainda indefinido 2012.

Na semana passada tivemos o nosso último encontro colunável de 2011 e o clima foi tenso, por conta de umas coisas que eu falei do PC do B e que uns talvez tenham entendido como crítica, quando eram apenas uma sugestão para que ele sumisse do mapa. Enfim, quando os leitores não compreendem, diz o Veríssimo, a culpa é de quem escreveu. Mea culpa, mea culpa, mea culpa.

Pois hoje, lendo o tuíte nosso de cada dia me deparo com matéria do Valor que citava uma pesquisa da Unisinos e que mostra que o RS vai encolher mais rapidamente do que o restante do país, e não exatamente porque migramos muito, o que já foi verdade nos anos 70 e 80, mas não mais. Além da baixa fecundidade, o que o estudo mostra é que o problema não está nos gaúchos estarem deixando o estado, mas sim no fato de quem ninguém mais está indo para aí.

Sabem o que acontece com uma sociedade que não tem bebês e que ainda deixa de receber pessoas vindas de fora?

Como comparação, a Europa e o Japão vivem o pesadelo de um futuro sem jovens europeus e japoneses em número suficiente para sustentar os que envelhecem. A Rússia, pelo que leio, está desaparecendo.

Os Estados Unidos, que também tem uma baixíssima taxa de natalidade riem do problema, porque eles atraem imigrantes em número mais do que suficiente para compensar e sobrar. E imigrantes, caríssimos leitores, trazem energia, disposição para o trabalho e carga genética para enriquecer ainda mais o que já existe nos lugares onde chegam. A Austrália e Canadá dão um koala e um boneco de neve para pessoas qualificadas que resolverem migrar.

O Brasil entra muito bem nessa nova onda de migrações, estimados Su21enses. Somos a bola da vez e a coisa mais fácil é pensar para onde um jovem qualificado e talentoso vai querer viver a vida BRIC: Rússia, China, Índia, ou aqui, onde canta o sabiá?

Uma matéria do jornal português Público repercutiu bastante, mostrando a enorme quantidade de jovens lusos vindo para cá. E ninguém precisou me mostrar a matéria para eu saber que ela era correta. Basta eu sair aqui por São Paulo para encontrar mais e mais deles, por toda parte.

Indo até a Zona Leste onde estão as fabriquetas que a Zara contrata e onde trabalhadores sul-americanos são bastante explorados, vejo casais de jovens bolivianos e peruanos, já com filhinhos brasileiros, caminhando aos domingos pela sua nova cidade, seu novo país. As coisas devem ser duras para eles, mas eles vão superar as dificuldades, os filhos vão falar português e se juntar a nós, no nosso amálgama brasileiro, que não é igual, ideal, mas existe e funciona. Quando eles são liberados das tais empresas que os exploram, eles não são deportados, como seriam nos Estados Unidos, já notaram? Em 2010 legalizamos a todos que estivessem por aqui, numa bela iniciativa do governo Lula, que passou facinho pelo Congresso.

Isso, a Europa e o Japão não têm para oferecer, e o Brasil, sim. Quem vier para cá, de onde vier, para o bem ou para o mal, vira brasileiro, é só querer.

Meses atrás conheci um casal de franceses recém chegados, ele para dirigir o marketing de uma empresa importante. Pois vieram mentindo o número de semanas da gravidez para a companhia aérea, oito meses na verdade, porque queriam que o bebê fosse brasileiro.

E como o Brasil navegando nesses mares migratórios e a nosso favor, sabem quantos habitantes do RS não nasceram aí? 3,7%! O menor percentual do país. Como, um lugar que se construiu pela imigração, que é o que é por ela, e somente ela, se torna algo apenas um pouco menos fechado do que a Coreia do Norte?

Aqui em São Paulo, para onde vim, somos 20%. E eu vejo no dia a dia a beleza que é a diversidade, tudo que ela nos traz de vantagens. E somos muito, muito bem recebidos, posso garantir, o que talvez ajude a explicar os 20%.

O que precisa ser melhor explicado são esses 3,7%. Como um estado tão belo e onde tantas coisas existem, simplesmente não se mostra capaz de atrair quem vem de outros lugares? Seguramente, entre as razões para essa tragédia, deve estar o chauvinismo xenófobo que contamina a nossa cultura e o nosso estado. Propagado pela mídia, ele ganha contornos de desagrado a quem a ele não pertence, ou não quer pertencer. Isso é sério, caros sulvinteumenses.

Pensem nos milhares, milhares e milhares de novos migrantes, gente qualificada, de diferentes partes do mundo, loucas para se tornarem o que nós somos, e aqui construírem suas vidas, construindo um país junto com a gente. Pensem nessa riqueza toda vindo, escolhendo, e não nos escolhendo.

Nós precisamos, por todos os motivos, e muito, deles. Precisamos de um Grande Plano de Atração para os Novos Migrantes do Brasil e do Mundo Inteiro para o RS. Precisamos dar um jeito de mudar essa imagem e essa bobagem bairrista, tornando-a o que tem que ser – uma bobagem periférica, coisa de tolos, que sempre os há. Precisamos voltar a ser o que éramos, se fomos mesmo, e acho que fomos.

Precisamos agir, já, agora, para atrair esse povo, convencendo-os que vão ser respeitados, felizes, e que as suas particularidades serão respeitadas, as suas identidades aproveitadas na formação do novo caldo de uma cultura gaúcha para o século 21.

Sugestões para o Grande Plano podem ser enviadas aqui, para essa caixa postal.

E vamos, que ouço 2012 chamando.


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