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6 de outubro de 2011
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18:30

Depois de Wall Street, protestos se espalham pelos Estados Unidos

Por
Sul 21
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Depois de Wall Street, protestos se espalham pelos Estados Unidos
Depois de Wall Street, protestos se espalham pelos Estados Unidos
Kelly Schott
Descontentamento contra o sistema financeiro se alastrou para Washington e para cidades importantes dos Estados Unidos | Foto: Kelly Schott/Flickr

Igor Natusch

Se a ideia inicial de boa parte da opinião pública era de que o Occupy Wall Street seria um movimento instável e fadado a desaparecer rapidamente, talvez seja o momento de rever essa opinião. A indignação dos norte-americanos ganhou voz em Wall Street, alastrou-se para Washington, Chicago e Los Angeles e agora ameaça tomar conta de boa parte das principais cidades dos EUA, unindo uma costa a outra do país em um protesto coletivo contra a especulação financeira, que espalhou crise econômica e desigualdade social no coração do país.

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Agora, o movimento que há 19 dias toma o centro financeiro dos Estados Unidos está recebendo o apoio de alguns dos principais sindicatos de Nova York e do país. São 15 entidades de classe, algumas delas de abrangência nacional, como o Transport Workers Union (TWU), que congrega profissionais que pilotam ônibus, metrôs e aviões. “Aplaudimos a coragem dos jovens de Wall Street, que se manifestam de forma dramática por uma posição que defendemos durante muito tempo. O sacrifício que o governo quer de nós parece uma rua de mão única”, diz o TWU, em comunicado assinado por todo o movimento e publicado no site do sindicato.

Outros sindicatos envolvidos defendem trabalhadores ligados a serviços sociais e hospitalares, além de professores, operários de construção e profissionais de serviços de comunicação e de comércio. “Vamos marchar até Wall Street para saudar os manifestantes e mostrar o rosto dos nova-iorquinos mais atingidos pela ganância empresarial”, afirma o manifesto.

Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve: "Como todo mundo, eu também não estou satisfeito com o que está acontecendo com nossa economia" | Foto: TalkMediaNews/Flickr

Os protestos ainda estão sendo tratados por boa parcela da imprensa como pouco mais do que uma reunião de desocupados sem bandeiras definidas. Surpreendentemente, porém, o presidente da Reserva Federal dos EUA (FED), Ben Bernanke, declarou ao Congresso ser “compreensivo” quanto ao movimento. “Como todo mundo, eu também não estou satisfeito com o que está acontecendo com nossa economia”, declarou. Segundo ele, o panorama é mesmo sombrio. “A recuperação econômica está a um passo de tropeçar”, advertiu, dizendo que o FED está fazendo sua parte, mas a Casa Branca e o congresso norte-americano também precisam colaborar com a tentativa de salvar a economia estadunidense.

Indagado pelos congressistas se concordava com a avaliação comum ao Occupy Wall Street, de que a ganância e irresponsabilidade levaram os EUA a uma situação dramática, Ben Bernanke foi incisivo. “A tomada excessiva de riscos em Wall Street teve muito a ver com isso, bem como algumas falhas da parte dos reguladores”, disse, praticamente concordando com os manifestantes.

Além de se alastrar por outras cidades, "Occupy Wall Street" também ganha a adesão de sindicatos de trabalhadores | Foto: Jessie Rocks/Flickr

“O sonho americano está desaparecendo”

A solidariedade ao Occupy Wall Street está gerando uma série de núcleos de protesto espalhados pelos EUA. A esquina da Pratt com a Light Street, por exemplo, abriga os mais de 200 manifestantes que integram o Occupy Baltimore, no estado de Maryland. O local, conhecido como McKeldin Square, abriga desde a última terça manifestantes dispostos a repetir o exemplo de Wall Street. Assembleias gerais estão ocorrendo diariamente para definir uma agenda comum entre os diferentes grupos. “Há uma grande quantidade de reclamações em comum”, garante Cullen Nawalkowsky, uma das integrantes do Occupy Baltimore.

Em Portland, no Oregon, o Tom McCall Waterfront Park está marcado como ponto de encontro para uma caminhada pelos principais pontos da cidade. Após o ato, uma assembleia geral deve definir um local definitivo para a concentração do Occupy Portland. A manifestação não conta com o apoio das forças policiais, que não deram autorização para o ato e não receberam indicações da rota que será seguida pelos manifestantes.

A entrada do Bushnell Park em Hartford, capital do Estado de Connecticut, já abriga quase uma centena de pessoas, que começaram a se reunir no local na manhã de quarta. O grupo é heterogêneo, reunindo pessoas de todas as faixas etárias e ocupações. “Não participava de um protesto há anos”, diz David Morse, que descreveu-se como jornalista freelance e durante o protesto carregava um cartaz com os dizeres “Tax the Rich” (“Taxem os Ricos”). “Estamos perdendo a rede de segurança para os pobres, enquanto os ricos ficam cada vez mais ricos. Precisamos recuperar o sistema mais igualitário que tínhamos 30 anos atrás.”

Desde a última sexta, os protestos estão ocorrendo também em Boston. Ao meio-dia desta quarta-feira, estudantes deixaram salas de aula em várias instituições de ensino e dirigiram-se até a Dewey Square, que centraliza os protestos na cidade. A associação de enfermeiros de Massachusetts também está integrada às manifestações. “A classe média está vendo o país sendo erodido e o sonho americano desaparecer, porque Wall Street está lucrando enquanto todo o resto do país está sofrendo”, afirma David Schildmeier, porta-voz do sindicato.

A quinta-feira deve marcar também as primeiras atividades do Occupy Philadelphia. Em uma reunião preliminar, mais de mil pessoas se reuniram na Igreja Metodista da cidade para definir o Love Park e o City Hall como locais de concentração. A data escolhida para o início das atividades marca também o décimo aniversário da chegada das tropas norte-americanas ao Afeganistão. No Maine, manifestantes promoveram passeata em Portland, indo até as instalações da Universidade do Maine.

"Vamos marchar até Wall Street para saudar os manifestantes e mostrar o rosto dos nova-iorquinos mais atingidos pela ganância empresarial", diz um manifesto assinado por entidades sindicais | Foto: thelushside/Flickr

No próximo sábado, está prevista também uma concentração em Jacksonville, na Flórida. A manifestação pretende ser “pacífica e solidária” e deve ocorrer a partir do meio-dia, no parque Hemming Plaza. A convocação está sendo feita via um site oficial e pelas redes sociais. No Facebook, o movimento já conta com mais de mil seguidores. “Nosso déficit nunca foi tão alto, o dólar nunca valeu tão pouco, as taxas de desemprego não dão sinais de melhora”, afirma Geno Burch, que fala pelo movimento em Jacksonville. “As pessoas estão revoltadas e elas não vão mais tolerar isso”.

Movimento avança pelos EUA e alcança o Canadá

Em Seattle, por sua vez, os integrantes do Occupy Seattle estão sendo instados pelo governo a abandonar o Westlake Park. O pedido é baseado no fato de que os manifestantes estão fazendo uso de barracas, o que não é permitido no local. De acordo com Dewey Potter, porta-voz dos proprietários do parque, os guardas não têm poder para detenções, mas podem chamar a polícia se os acampados se recusarem a sair. A desocupação está amparada pela justiça local e deveria ocorrer ainda durante a quarta-feira. Cerca de 200 manifestantes estão no local. Pela página oficial do Occupy Seattle, um comunicado dizia que a presença de todos era mais necessária do que nunca. “Venham assim que puderem e permaneçam o máximo de tempo possível”, diz a nota.

A reação das autoridades já se faz sentir também em Santa Barbara, na Califórnia. A justiça do condado proibiu os manifestantes de promover protestos no De la Guerra Plaza entre 10 da noite e 6 da manhã. Quem desafiar a norma pode ser citado judicialmente. Cartazes foram colados por policiais em toda a extensão do parque, lugar tradicional de manifestações populares na região, mas dezenas de pessoas continuavam na praça no final da noite de quarta-feira, segundo a imprensa local. Pelo menos oito detenções teriam ocorrido, com os manifestantes sendo liberados logo em seguida.


Visualizar Ocupações EUA em um mapa maior

Os ecos de Wall Street estão chegando até mesmo em países vizinhos, como o Canadá. O Occupy Nova Scotia deve ter início no próximo sábado no Halifax Commons, conjunto de parques urbanos na principal cidade da província canadense, Halifax. “O Canadá está vivendo um momento de déficit econômico”, diz Ian Matheson, um dos porta-vozes do movimento. Ele garante que os protestos se manterão pacíficos e que a ideia do primeiro encontro é “tomar o pulso da comunidade”, buscando identificar os principais problemas que atingem a população local. “Queremos lembrar as pessoas de que elas podem se organizar de forma efetiva, sem depender somente dos governos”, afirma Matherson, que espera que o Occupy Nova Scotia não enfrente adversidades junto às forças policiais. “Estamos todos juntos nessa, inclusive a polícia. Somos todos trabalhadores e nenhum de nós pertence ao 1% que está no controle”.


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